Além do Cidadão Kane

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Essa velha rotina de torturar

Noam Chomsky

Os memorandos sobre torturas dados a conhecer pela Casa Branca têm gerado assombro, indignação e surpresa. O assombro e a indignação são compreensíveis, em particular os destacados pelo recentemente publicado Informe do Comitê Senatorial das Forças Armadas sobre Tratamento aos Detidos.

No verão de 2002, como revela o informe, os interrogadores em Guantánamo foram submetidos a uma pressão crescente dos níveis superiores na cadeia de comando para estabelecer um vínculo entre o Iraque e Al Qaeda. A aplicação do "submarino", entre outras formas de tortura, finalmente permitiu obter "a evidencia" de um detento, que foi usada para ajudar a justificar a invasão ao Iraque de Bush e Cheney no ano seguinte.

Mas, por que a surpresa acerca dos memorandos sobre a tortura? Mesmo sem que houvesse uma investigação, era razoável supor que Guantánamo era uma câmara de torturas. Que outra razão haveria para enviar prisioneiros a um lugar onde pudessem estar além do alcance da lei; um lugar, aliás, que Washington está usando em violação a um tratado que Cuba se viu obrigada a firmar sob a ameaça das armas? O argumento de que era questão de segurança é difícil de levar a serio.

Uma razão mais ampla do por que deveria haver escassa surpresa é que a tortura tem sido uma prática rotineira desde os primeiros dias da conquista do território nacional dos Estados Unidos, e mais tarde ainda, quando as incursões imperiais do "império infante" - como George Washington chamou à nova república - se estendeu às Filipinas, Haiti e outros lugares.

Por desgraça, a tortura foi o menor dos muitos crimes de agressão, terror, subversão e opressão econômica que tem obscurecido a historia dos Estados Unidos, em boa parte como tem sucedido com outras grandes potencias. As revelações atuais de tortura apontam, uma vez mais, ao eterno conflito entre "o que representamos" e "o que somos".

Traduzido por Rosalvo Maciel
Original em .Clarín

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