Além do Cidadão Kane

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Outra ameaça cubana

Ángel Guerra
La Jornada


Em 2008 o Sydney Morning Herald noticiava a “preocupação” dos governos dos Estados Unidos e Austrália pela presença de pessoal de saúde cubano no sul da Ásia e no Pacífico, uma “ameaça –dizia- à segurança regional”. É curioso que a potencia hegemônica mundial, envolvida em duas guerras coloniais na Ásia, e seu principal aliado no Pacífico sul, se preocupem com um exercício de impecável solidariedade humanitária de um pequeno país de pouco mais de 11 milhões de habitantes, submetido, alem disso, à perene hostilidade e à asfixia econômica pelo primeiro. À diferença das tropas e bases militares de Washington, os trabalhadores da saúde cubanos estão presentes para salvar vidas onde seu concurso foi solicitado pelos governos nacionais, quase sempre em lugares remotos onde nunca foi um médico, seja porque a nação anfitriã carece de pessoal ou porque este se recusa a trabalhar neles.

A cooperação internacional de Cuba em saúde não é nova. È parte da tradição solidaria da Revolução, iniciada nesse campo desde o ano de 1960 com a presença de uma brigada médica que atendeu às vítimas do terremoto ocorrido no Chile e continuada com o envio de outra à Argélia recém liberada do colonialismo. Então a ilha perdeu a metade de seu pessoal médico, estimulado a emigrar para os Estados Unidos, mas hoje conta com quatorze vezes mais médicos e paramédicos e a proporção mais favorável no mundo de doutores por habitante. Unicamente assim poderia ter criado e consolidado seu sistema de saúde gratuita e universal sem precedente, contribuição importante à dignidade dos cubanos ao propiciar-lhes a utilização deste direito humano fundamental do qual está privado grande parte do gênero humano. De uma faculdade de medicina que existia quando do triunfo revolucionário, Cuba conta atualmente com 22 universidades de medicina em seu território alem da Escola Latino Americana de Medicina, onde estudam mais de 10 000 jovens de 28 países, incluídos caribenhos, africanos, árabes, asiáticos y estadunidenses pobres.

Mais de 80 nações recebem colaboração médica cubana e 14 se beneficiam do Programa de Atenção Médica Integral para América Latina, Caribe, África e Ásia, surgido da iniciativa de Fidel Castro quando apos a devastadora passagem do furacão Mitch foram enviados vários contingentes de médicos cubanos a países da América Central. Participam deste programa, entre outros, Haiti, Belize, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Bolívia, Laos e Timor Leste.

O caso do Haiti é emblemático posto que o precursor da independência e da libertação dos escravos na América Latina é hoje uma das nações mais empobrecidos do planeta, submetida a constantes intervenções militares, preço que lhe tem feito pagar os grandes poderes por sua ousadia. Ali a atenção médica de 75 por cento da população recai na brigada cubana, que alem da assistência médica dá ênfase na educação para a saúde das comunidades e para a medicina preventiva. Como em todos os países onde servem, os médicos cubanos se abstém de intervir na política local mas coordenam sua atividade com os distintos níveis de governo, organizações populares, comunitárias e igrejas. Cuba e Venezuela constroem três Centros de Diagnóstico Integral em outros tantos departamentos(províncias) do Haiti - chegarão no futuro a dez; um para cada departamento do país -, nos quais médicos cubanos e haitianos recém graduados em Cuba prestarão serviços gratuitos de cirurgia, cardiologia, terapia intensiva, ginecologia, laboratório clínico, radiografia e ecografia. Haiti só conta com 2000 médicos, concentrados quase todos na capital e predominantemente privados, pelo que seus serviços não estão ao alcance da grande maioria de seus cidadãos. Somente esse dado já permite mensurar o que representa o aporte dos cerca de 500 cooperadores cubanos de saúde e seus colegas haitianos formados em Cuba. Mas em países como Belize a metade do pessoal de saúde ativo é cubano e na Guatemala, Honduras e Nicarágua sua cobertura alcança a vários milhões de pessoas.

Cuba propôs na ONU um programa para erradicar a SIDA na África. Recairia totalmente no pessoal da ilha com um fundo financeiro para medicamentos e equipamentos fornecidos pelos países ricos. Ainda se espera sua resposta.
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Tradução: Rosalvo Maciel
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