Além do Cidadão Kane

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Faixa de Gaza: ONU investiga crimes de guerra

A missão das Nações Unidas encarregue de investigar os crimes de guerra e outras violações do Direito Internacional cometidas por Israel durante o ataque contra a Faixa de Gaza chegou, segunda-feira, ao território. O sul-africano Richard Goldstone lidera uma equipa de 15 pessoas que deverá permanecer em Gaza durante uma semana, mantendo-se, porém, a hipótese de nova ronda pela Faixa nos próximos meses.
Para além de visitarem algumas das zonas mais fustigadas pela guerra, o grupo de investigadores pretende falar com o governo do Hamas e outras autoridades locais, com a população, com profissionais de saúde e membros de organizações de assistência que trabalham em Gaza. O objetivo, dizem, é proceder a um levantamento rigoroso dos acontecimentos e das suas conseqüências.
A missão causa um profundo mal estar a Israel, que se recusou a colaborar, em qualquer circunstância, com a investigação da ONU e qualificou-a de tendenciosa. O governo de Tel Aviv, que recentemente concluiu num inquérito interno não terem existido quaisquer registros de má conduta por parte dos militares envolvidos na operação, negou mesmo os vistos de entrada à equipa de Goldstone obrigando-a a entrar na Faixa de Gaza a partir do Egito, pela passagem fronteiriça de Rafah.
No início do passado mês de Maio, a ONU concluiu que Israel cometeu crimes de guerra. O relatório das Nações Unidas incide apenas sobre os bombardeamentos cujos alvos foram instalações da organização na Faixa de Gaza. Dezenas de civis morreram, entre as quais mulheres e crianças, e centenas resultaram feridas, isto para além da destruição completa ou parcial de infra-estruturas essenciais para que a população palestina tenha acesso a saúde, educação, saneamento básico, água potável ou gêneros alimentares.
A acrescer a este documento, outro, igualmente da responsabilidade da ONU, critica Israel por manter um centro de detenção e tortura secreto. O Comitê Anti-tortura das Nações Unidas denuncia no texto que os israelitas negam ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha o acesso à base 1391, local onde, de acordo com relatos confirmados, os presos palestinos são torturados durante os interrogatórios.
O Comitê Anti-tortura revelou ainda que naquela prisão secreta, Israel priva os detidos de acesso a um defensor legal, prende familiares dos prisioneiros como forma de pressão, e detém, de acordo com uma lei em vigor no país, menores de 12 anos antes de levá-los a julgamento.
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Política vergonhosa
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Entretanto, o presidente Barack Obama iniciou um périplo pelo Médio Oriente visando «conquistar a confiança do mundo muçulmano». A visita sucede a encontros com os líderes israelitas e da Autoridade Nacional Palestina, Benjamin Netanyahu e Mahmoud Abbas, respectivamente, e uma série de declarações públicas nas quais o presidente norte-americano defende a diplomacia, o diálogo e a paciência para que palestinos e israelitas convivam em paz no quadro de dois Estados soberanos. As palavras repetem anteriores compromissos norte-americanos para com a pacificação do conflito e, na prática, não só não acrescentam nada de novo como até contribuem para uma aparente normalização da situação existente, até que a «boa vontade» impere.
Com efeito, Washington não só não cessa a milionária ajuda militar a Israel, como não condena o Estado sionista, por exemplo, por se negar a colaborar com as Nações Unidas na investigação dos crimes de guerra cometidos em Gaza, complacência de que não gozam outros povos e nações. Muitos pagaram já um alto preço por se negarem a «colaborar» com a ONU.
Mais. Antes de Obama iniciar o giro pelo Médio Oriente, o primeiro-ministro Netanyahu recusou, sem papas na língua, parar a colonização na Cisjordânia, dizendo, tão somente, que o seu governo não construirá novos empreendimentos, destruirá os que considerar ilegais – qual juiz em causa própria –, mas nada fará para travar o «crescimento natural» das colônias existentes.
Recorde-se que nas colônias da Cisjordânia (todas consideradas ilegais pela «comunidade internacional») habitam cerca de 250 mil israelitas. O movimento israelita «Paz Agora» estima que quase metade das terras onde foram construídos as colônias ilegais pertence a palestinos. Em cidades Cisjordâneas como Nablus, Hebron, Tulkarm ou Ramallah, Israel socorre-se de diversos obstáculos físicos, administrativos e legais para impedir a movimentação dos palestinos, o que não acontece com os colonos.
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Original em Avante!

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