Além do Cidadão Kane

sábado, 14 de novembro de 2009

Aos militares com honra

Fazemos um fraternal e patriótico apelo aos militares com honra para que, junto ao nosso povo, formemos um só feixe que convirja numa guerra pátria para defender nossa soberania e dignidade latino-americana, enlodada até o tutano da infâmia, do sangue, da corrupção e do servilismo pelo presidente Álvaro Uribe Vélez. Este, sem sequer ruborizar-se, porque carece de dignidade, aceitou a instalação pelo Império de sete bases militares na Colômbia, as quais serão como uma adaga envenenada enterrada no corpo da Pátria e sua ponta alcançará o próprio coração da América Latina. O seu único objetivo é impedir o processo democrático e integracionista dos nossos povos que sob a luz da ALBA (¹) continuaram o inconcluso projeto libertário deixado inacabado pelo Libertador Simón Bolívar.

Apelamos à sua honra porque sabemos que esta é a primeira virtude do militar. A honra é o que faz que se sofra com estoicismo espartano e sem desespero todas as vicissitudes que nos apresenta a guerra. Ela é o que nos impulsiona a entregar a vida no campo de batalha sem nenhum cálculo diferente do bem da pátria. Entendendo por pátria o território da Nação com a sua biodiversidade, riquezas naturais, população e cultura – e não os bens, interesses e livros de cheques dos Santodomingo, dos Ardilla Lulle, os Sarmiento Angulo e chega de contar...

Sabemos que na Instituição Militar, para sorte da Colômbia e orgulho da América Latina, ainda há não poucos homens que preservam imaculado a sagrada honra militar e por isso podem com altivez olhar de frente seus concidadãos e estreitar a mão dos mesmos, porque não a têm manchada de sangue com os crimes de lesa humanidade dos mal chamados "falsos positivos", que evidenciam uma profunda decomposição moral tanto dos ordenadores como dos executores, nem têm a consciência mofada pela degradante corrupção que a cada dia se propaga mais neste governo de máfia, paramilitarismo e crime, onde os que se consideram personificadores da soberania são traidores infames que não têm sequer o prestígio da legalidade, porque seus atos, inclusive suas vidas, foram toda uma fraude.

Senhores oficiais e suboficiais: Quando o general Joaquín Matallana quis entrar no enclave estadunidense de Loma Linda (Meta), um oficial gringo de terceira categoria impediu-o com arrogância. Ferido na sua honra o general colombiano dirigiu-se ao Presidente da República para manifestar-lhe o seu infinito mal-estar pelo desplante desrespeitoso. "Não posso fazer nada", respondeu-lhe. Era um presidente autista, sem noção de pátria, acostumado a ruminar na cocheira ianque dos lacaios. Matallana, homem de pundonor militar, apresentou então a sua renúncia irrevogável, afirmando com energia que na Colômbia não pode haver território algum ocupado por forças estrangeiras e muito menos vedado a um General da República. Uns anos depois, reunido em Casa Verde com os comandantes guerrilheiros Manuel Marulanda Vélez e Jacobo Arenas, o altivo general prometeu-lhes com ênfase: contem comigo se algum dia o país for invadido pelos gringos. Que qualidade humana e militar a do nosso digno adversário na guerra de Marquetalia!

Essa é a honra que deve inflamar o peito de um militar que verdadeiramente sinta a pátria por dentro.

O longínquo incidente de Loma Linda trouxe à nossa memória a recente afronta de militares gringos contra a guarda de honra que aguardava o presidente Bush junto à escada do avião, na sua escala em Bogotá. Para assombro do país, os gorilas da segurança de Bush requisitaram os militares colombianos e inspecionaram as suas armas, sem que ninguém dissesse nada. Nenhum protesto; só o silêncio servil dos altos comandos e do presidente. Como foi ultrajado nessa ocasião o nosso decoro! A decisão de Uribe de permitir a instalação de sete bases militares dos Estados Unidos em território colombiano é um ato de alta traição à pátria latino-americana. Ceder o território como base de agressão contra países irmãos, contra os próprios co-nacionais, e como ponto de consolidação de uma estratégia de predomínio continental, deve encher de vergonha a alma dos colombianos. Não há argumento mais irrisório e cínico que o de Uribe ao explicar que, neste caso, não se configura perda de soberania porque os militares colombianos estariam no comando de tais bases. O que ocorre na base aérea de Três Esquinas, ou em Barrancón, é uma mentira de proporções faraônicas. Ali comandam os gringos. Os oficiais colombianos, como ocorria em Loma Linda, nem sequer poderão aproximar-se das barracas e instalações onde se alojam os militares norte-americanos. A "soberania compartilhada", à qual de maneira insólita alude Uribe, é um sofisma para tontos, porque nunca pode ser soberano um país ocupado por tropas estrangeiras. A humilhação de ver oficiais colombianos subordinados a oficiais do Comando Sul do exército dos Estados Unidos não deve ser tolerada onde houver honra.

Quem entende esse engendro presidencial de que os militares gringos terão imunidade, mas não impunidade? Talvez Uribe creia que os colombianos são uma manada de ignorantes aturdidos.

Senhores oficiais e suboficiais: frente às projeções neocoloniais do governo de Washington devemos assumir a mesma atitude insubornável e patriótica do Libertador Simón Bolívar, que dizia: "Abomino essa canalha de tal modo que não queria que se dissesse que um colombiano nada fazia como eles... Os Estados Unidos são os piores e são os mais fortes ao mesmo tempo... Formado uma vez o pacto com o forte, já é eterna a obrigação do débil". Ao que devemos dar prioridade é à busca da unidade de nossos povos. Retomar o projeto de Grande Nação de Repúblicas que dominava o sonho do Libertador, como escudo do nosso destino. Na história da Nossa América, destaca-se o anti-imperialismo de militares patrióticos como o general Omar Torrijos do Panamá, o coronel Francisco Caamaño da Rep. Dominicana, o general Velasco Alvarado do Peru, Prestes no Brasil e Arbens na Guatemala, entre outros, que pela sua atitude ganharam o afeto dos seus povos.

Aqui devemos forjar a resistência patriótica, coordenando esforços com as organizações políticas e sociais do país, para fazer prevalecer a soberania e a dignidade. Exército patriota, guerrilha bolivariana e povo mobilizado, são os únicos que podem travar o vôo ameaçador da água da doutrina de Monroe sobre os céus da Nossa América. Façamos realidade o sentimento puro do general Matallana de fazer respeitar a pátria, unidos como deve ser. Ontem o honroso adversário nos dizia: contem comigo; hoje lhes dizemos, contem conosco, não só para defender a soberania pátria como para construir uma Colômbia Nova, se se atrevem.

Saudação cordial, Compatriotas,

Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP

(¹) Alternativa Bolivariana para as Américas

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