Além do Cidadão Kane

quarta-feira, 31 de março de 2010

Depoimento de um brasileiro que viveu três anos em Cuba

Guilherme Soares Silveira Bueno

Eu gostaria de me expressar um pouco aqui sobre os comentários desta recém famosa blogueira cubana (Yioani Sánchez). Eu sou saxofonista, morei três anos na ilha, sem visitar o Brasil neste período, estudei música no ISA (Instituto Superior de Arte de Havana), antigo clube de campo dos turistas norte-americanos antes de 1959.

Fiquei a maioria do tempo em Havana, onde eu estudava, mas em um dos períodos de férias, com a mochila nas costas e pedindo carona, atravessei durante quase dois meses a ilha inteira, de ponta a ponta, passando por todas as capitais e outros lugares, como Placetas, Puerto Padre, Mayarí e Chivirico.

Tentei me manter o mais longe possível dos programas turísticos, pois queria conhecer a Cuba vivida pelos cubanos. Nos três anos em que lá estive minha convivência foi basicamente com os cubanos, no ISA não tem muitos estrangeiros e eu era o único brasileiro.

Em primeiro lugar, eu gostaria de dizer que considero o conteúdo do blog desta cubana uma piada pra quem já viveu em Cuba. Ela criticou a educação em Cuba? O sistema de saúde cubano? A violência na ilha? Não minha gente, não, isso só pode ser piada. Voltei há sete meses de Havana e ontem estava em um consultório médico quando resolvi folhear a droga da revista da manipuladora VEJA e lá estava a blogueira. Escreveu que foi agredida numa manifestação contra a violência.

Manifestação contra a violência em Cuba? Nossa meus amigos, sinto muito, eu vivi três anos na ilha, sou músico, portanto, freqüentava muito os bares nas noitadas de Havana (sempre regadas de muita música), andando por toda a cidade durante a madrugada: foram três anos, e nesses três anos e eu não vi nem sequer uma briga, nem sequer um tapa, nem sequer um puxão de cabelo, e essa cubana me vem dizer que estava numa manifestação contra a violência? Só pode ser piada mesmo.

Até mesmo os cubanos que são contra o regime (na sua imensa maioria jovens que não viveram o país antes de 1959 e que sonham em ir para os EUA, enriquecer, comprar carros luxuosos, jóias, mansões, roupas de grife, etc.) sempre me diziam nas discussões: "Isso é verdade, aqui não deixam ninguém morrer, se você tem algum problema eles te curam" ou "Aqui não precisa ficar preocupado, se tem alguma coisa de bom em Cuba é que é um lugar seguro, aqui não tem a violência do seu país" ou "É verdade, aqui te dão educação grátis e de excelente qualidade, mas não te deixam prosperar, o que significava ganhar muito dinheiro, enriquecer e consumir. Esse desejo surgiu ou intensificou a partir do contato com os milhares de turistas que a ilha recebe por ano e, como o próprio Fidel Castro diz, o turismo foi um mal necessário. Prosperar para nós não é conhecer, aprender e produzir e sim ganhar mais e mais dinheiro para consumir cada vez mais".

Que tristeza ver no que nos transformamos, estamos perdendo a essência do ser humano para enraizar uma essência de consumo, destruindo cada vez mais o nosso planeta e se importando cada vez menos com as milhares de pessoas que não têm nem um prato de comida na mesa, quando têm mesa.

É triste pensar que tantas pessoas que lutaram muito durante uma época bastante conturbada em nosso país, só estavam lutando contra uma ditadura e não contra a desigualdade social, a exploração das pessoas, a miséria, a falta de moradia, a fome. Já em Cuba é muito fácil perceber que estas lutas são claramente as prioridades do governo cubano, se necessita muita falta de sensibilidade para não enxergar isso. Uma das primeiras coisas que me chamou a atenção quando cheguei a Havana, foi a aparência das pessoas que encontrava pelas ruas.

Percebi que todos tinham uma boa pele, os dentes brancos e em perfeito estado. Tinham a aparência de pessoas fortes e como são fortes os cubanos. Altos e fortes. Logo pensei: "Ué! cadê a fome? Acredito que gente que passa fome, não cresce tanto. Notei isso em todos os lugares que passei, em muitas outras províncias, e não somente em Havana.

Moro na cidade de São Paulo, já viajei para vários outros Estados, e em todas as capitais vi crianças pedindo esmola no farol, crianças morando em baixo de viaduto, crianças vagando pela cidade em plena madrugada.

Eu andei aquela ilha toda e as crianças que encontrei usavam uniforme, o que significava que eram escolares, e caminhavam acompanhadas pelo pai ou pela mãe ou por ambos. Uma vez, indo para Alamar um cartaz na rodovia exibia o índice mundial de crianças que passavam fome e terminava com a seguinte afirmação: "Nenhuma delas é cubana". Eu não vi fome naquele lugar, não vi ninguém esbanjando comida na geladeira, é verdade, mas fome eu não vi. Gente que não toma café, almoça e janta todos os dias? Isso não existe em Cuba.

Nas vezes em que precisei de atendimento médico em Cuba, fui atendido mais rapidamente e melhor que no hospital São Luiz, mesmo tendo aqui um plano de saúde que não é top de linha, mas está logo abaixo. Lá, não tive que pagar pelo atendimento mesmo sendo estrangeiro.

Um amigo espanhol, que estudou comigo, tratou inclusive dos dentes, já que lá todo tratamento é gratuito e na Espanha, assim como no Brasil, a maioria dos planos de saúde não cobre o tratamento dentário. Eu só queria ver essa blogueira na fila do SUS esperando pra fazer uma cirurgia importante, sem saber quando será realizada.

Uma das acusações mais comuns dirigidas ao governo Cubano, é o cerceamento da liberdade de expressão, a frase "liberdade de expressão" virou um slogan contra o regime cubano. Do meu ponto de vista, nada mais contraditório que um brasileiro criticando a liberdade de expressão em Cuba.

O Brasil atualmente, segundo dados de 2008 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, possui 10,0% (cerca de 19,1 milhões) de analfabetos e 21,0% (cerca de 40 milhões) de analfabetos funcionais (só sabem assinar o nome). O primeiro passo para a extensão da plena liberdade de expressão de toda a população é a educação. Se um País não dá a possibilidade à grande parte da população (os abaixo da linha da pobreza) para aprender a ler, a escrever, a adquirir conhecimento, a fazer esportes, a aprender formas de arte, se um país não oferece condições mínimas de vida a uma grande massa da população obrigando-a a se preocupar, cotidiana e diuturnamente, apenas com o risco de não ter uma ração alimentar mínima, por falta de dinheiro, está CERCEANDO as possibilidades de liberdade de expressão, que passa ser privilégio dos bem aquinhoados.

Além disso, qual liberdade de expressão nós temos no Brasil? Fora poucas revistas que são lidas por uma minoria quase insignificante, qual o grande meio de comunicação que atinge as grandes massas e que divulgam além do que os grandes conglomerados jornalísticos permitem que seja divulgado?

E tudo isso com um agravante, o mundo cerca a ilha e "ninguém" quer que aquilo dê certo. Depois da queda da União Soviética, Cuba, que economicamente era dependente do seu governo (recebia cerca de 4 a 6 bilhões de dólares anuais em 1990), ficou sem nada, em situação social de calamidade, o chamado "Período Especial", de 1990 a 1996. É preciso analisar toda a evolução de um país que não tinha nada naquela época e hoje mantém uma qualidade de vida, em termos de necessidades essenciais como moradia, saúde, educação e cultura que Cuba tem, você vai ver que não existe país no mundo que melhorou tanto e segue melhorando.

Seu PIB é de 51 bilhões de dólares (o do Brasil é de 2 trilhões de dólares) e, mesmo assim, Cuba ostenta um alto Índice de Desenvolvimento Humano (acima de 0,800); em 2007 o IDH de Cuba foi 0,863 (51° lugar ? 44º se ajustado pelo PNB). Com uma renda tão baixa, se o governo fosse corrupto, o país não seguiria nesta direção, nós brasileiros devíamos saber bem disso. Desenvolvimento econômico não está necessariamente ligado ao desenvolvimento social e Cuba provou isso.

A ilha consegue esse alto índice de desenvolvimento humano no seu país sem instalar grandes corporações, como acontece na maioria esmagadora dos países de terceiro mundo, onde podem pagar um salário baixíssimo para seus funcionários, sugar a matéria prima e pagar baixos impostos.

Pelo contrario, Cuba ainda exporta milhares de médicos, que viajam em missões de solidariedade para centenas de lugares do mundo todo, em países onde se o sistema de saúde não é ruim, ele simplesmente não existe. Mas sobre isso a VEJA não faz uma reportagem, também não faz uma reportagem sobre os milhares de estudantes de classes sociais muito baixas, que provêem de todos os países latino-americanos, inclusive brasileiros, que vão para Cuba estudar medicina e outras centenas em outros cursos, todos eles financiados pelo governo cubano, ganhando moradia, salário mensal, café, almoço, jantar e produtos para higiene pessoal.

Todos esses estudantes estão se formando em Cuba sem pagar um centavo. A universidade de medicina de Cuba é uma das mais bem conceituadas no mundo e a sua valorização em âmbitos internacionais é muito maior que as universidades brasileiras, um médico cubano na Europa consegue trabalho sem dificuldades, mesmo nos dias difíceis que vivemos, isso porque o sistema público de saúde cubano é considerado um dos mais eficazes do mundo.

Ainda assim os mais de mil estudantes brasileiros que estão se formando em Cuba estão encontrando dificuldades para validar seus diplomas no Brasil, sob a alegação de que os brasileiros que estudam em instituições cubanas se formam médicos generalistas básicos; todos os que conhecem o curso que eles fazem em Cuba sabem que isso é uma grande mentira, o que ninguém publica é a verdade, a verdade é que medicina no Brasil é coisa para quem tem dinheiro para pagar, a grande minoria. Com a chegada de médicos brasileiros formados em Cuba, com o projeto de suprir cerca de mil vagas de médicos em comunidades indígenas no interior do país, essa tradição começa a ser rompida e aumenta a tendência de um barateamento no sistema médico do país, mas não, para a maioria do congresso é melhor as pessoas continuarem morrendo do que os custos médicos serem mais baratos

Se eu fosse citar todas as vantagens que a ilha tem sobre nós eu teria que parar de tocar saxofone para me dedicar a escrever um livro, descrevendo todos os detalhes que, na verdade, não são tão detalhes assim, mas que passam despercebidos pelos olhares de muitas pessoas que viajam para lá com uma visão preconceituosa, elitista e não percebem coisas simples, como as crianças brincando pelas ruas de Havana, correndo pra cima e pra baixo, sem sequer seus pais se preocuparem; não importa se têm 5, 10 ou 15 anos, nada vai acontecer com eles lá fora, nenhum menino de 9 anos vai fumar crack e muito menos vender quinquilharias nas esquinas: isso não chega lá, as crianças em Cuba estão na escola, onde elas devem estar.

O narcotráfico, um dos maiores problemas mundiais, em Cuba não entra, o tráfico de drogas é praticamente inexistente se comparado com o restante do mundo, não há droga nos bares ou nas festas freqüentadas pelos jovens cubanos, assim como não há as propagandas massivas de bebidas alcoólicas.

Cultura transborda por todos os cantos, teatros, festivais de cinema, poesia, pintura e música estão por todas as partes e os preços dos espetáculos são acessíveis a todos os cidadãos. Tudo isso muita gente não percebe, isso a VEJA não publica, mas quando aparece uma pessoa com afirmações absurdas sobre a ilha, sem nenhuma fonte confiável para provar o que diz, aí sai na primeira pagina em todos os meios de comunicação, essa passa a ser a grande noticia do nosso país, cheio de "liberdade de expressão".

É fácil para um brasileiro que vive em São Paulo, no Morumbi, na Vila Olímpia, em Ipanema ou na Barra da Tijuca sair criticando a ilha e dizendo que aqui está melhor que lá. Claro que sim! Minha família é de classe média e eu também vivo melhor que os cubanos, mas quantos brasileiros vivem como a gente?

Existem milhões e milhões de brasileiros que dariam a vida para ter as oportunidades que o governo cubano dá para seu povo, para ter uma casa como todos os cubanos têm, para ter atendimento médico gratuito de excelente qualidade, para não ter que se preocupar com a escola dos seus filhos, para ter um prato de comida em cima da mesa. Mas não, nós, cegos, preferimos reparar que lá não tem carne de vaca, que só tem carne de frango, peixe e carne porco, que a variedade dos alimentos não é grande como a nossa ou que eles não têm dinheiro pra comprar um Nike, um IPod.

Vocês devem estar se perguntando se eu não tenho nenhuma critica negativa sobre a ilha, eu digo que é obvio que eu tenho varias, com certeza até mesmo o Fidel Castro tem varias criticas negativas ao seu governo.

A questão não são os erros que eles cometeram ou os acertos, a questão é que a luta do governo cubano é pela melhoria na qualidade de vida de todas as pessoas, é um governo que luta pelo seu povo e faz o impossível para manter todas as condições básicas para o ser humano viver com dignidade.

E tudo isso junto com o bloqueio comercial imposto pelos EUA que impede que o avanço na qualidade de vida dos cubanos siga em ritmo mais acelerado. Não é o Fidel que faz mal para a ilha, quem faz mal para a ilha somos todos nós, que a cercamos, a excluímos e seguimos prejudicando-os com nossas políticas internacionais que prejudicam um país que carece de muitos recursos financeiros.

Nós não podemos esquecer de que, antes de fazer criticas sobre a conduta do governo cubano para com seu povo, temos que pensar primeiro no contexto político que viveu e vive a ilha de Cuba; um erro pode significar o fim de mais de cinqüenta anos de luta pela soberania de um povo, o fim de uma população saudável e muito bem educada.

Lembrem-se de que o Haiti já foi o país com a melhor qualidade de vida da América Latina, situação que durou até a política norte-americana "América para os americanos": hoje o Haiti é o país mais pobre da América.

Antes de criticar as limitações impostas pelo governo para a saída dos cubanos do país, informem-se. Em primeiro lugar, os cubanos que tentam visitar familiares nos EUA assim como cubanos que vivem nos EUA e tentam visitar os familiares em Cuba, encontram muito mais resistência por parte do governo norte-americano do que por parte do governo cubano.

Essa resistência se dá pelo fato do governo norte-americano pressionar os cubanos que querem visitar seus familiares a assumir a nacionalidade norte-americana; como muitos só querem ir visitar a família nos EUA e depois voltar acabam tendo muita dificuldade para conseguir o visto. O mesmo acontece com outros países que impõem milhares de restrições para evitar que o cubano consiga o visto para a viagem.

Quem já viveu em Cuba um tempo razoável sabe que isto é verdade, inclusive na televisão cubana passam propagandas insistindo para os norte-americanos liberarem os cubanos que lá vivem para visitar seus familiares em Cuba. Em Cuba existe uma lei que diz que se um cubano sair de Cuba como turista, ele pode ficar, no máximo, onze meses fora do País e, se esse tempo for ultrapassado, ele perde a nacionalidade por um tempo limitado. Muitas pessoas também não compreendem isso.

Lembrem-se que Cuba é um regime Socialista, lá tudo é do Estado e o Estado garante todas as necessidades básicas da população (moradia, comida, educação e saúde); seria injusto que um cubano viajasse, trabalhasse fora, ganhasse bastante dinheiro, e depois voltasse para Cuba usufruir de todas essas vantagens, mas sem contribuir com nada. O Estado é o povo, o povo é o Estado. Com relativa freqüência, muito cubanos que viajam para Espanha ou outros países não voltam mais, pois logo conseguem um bom emprego, graças a excelente educação que tiveram em Cuba, mas os filhos ficam em Cuba.

Quando você pergunta por que eles não foram também, te respondem: "Ah! lá a escola é muito cara, eu não teria condições de pagar". Muitos destes cubanos ainda têm a cara-de-pau de criticar o governo do seu país. Eu acho que não precisa de muito para perceber que isso não está correto.

Eu gostaria de saber quando é que a gente vai parar de aceitar que todos esses meios de comunicação nos manipulem, na defesa dos interesses de uma elite que não se importa com ninguém além dela mesma. Quando vamos parar de prestar atenção nesses canais de televisão, nessas rádios, jornais e revistas que mentiram pra nós o tempo todo, manipulando pesquisas eleitorais, escondendo informações e divulgando calúnias, quando vamos parar de aceitar coisas como "rouba mas faz" ou um presidente que escreve livros e livros e quando assume a presidência diz pra esquecer tudo que ele disse.

Que convicção tem uma pessoa dessas que muda de uma hora para outra? Acho que nunca teve convicção em nada. Hoje vivemos talvez o início de uma era que nunca vivemos, a América Latina está sendo cada vez mais tomada por governos de esquerda que realmente estão se importando com a nossos povos, como o Hugo Chávez na Venezuela, o Evo Morales na Bolívia, o Rafael Correa no Equador, o José Mujica no Uruguai e o Lula no Brasil.

Só resta saber se vai ser apenas uma época ou se realmente vamos mudar. Esses presidentes não podem fazer nada se nós não ajudarmos, talvez se nosso povo se mobilizasse mais, nosso governo poderia realizar os seus projetos sem tantos obstáculos.

Pra essa blogueira eu gostaria de dizer que ela deveria sentir vergonha das injustiças que comete com um país que conquistou tudo que Cuba conquistou mesmo sendo o único país que olha para os EUA e diz NÃO. Como pode ela dizer que todas essas conquistas foram falsas? Como pode ela, na reportagem para a revista VEJA dizer que nenhum estrangeiro que viveu em Cuba pode admirar aquele regime?

Como ela pode falar assim pelos outros? Eu vivi em Cuba e não só admiro o seu regime como acredito nele, acredito que Cuba foi e continua sendo a grande esperança para os povos deste planeta que carecem dos recursos básicos para um ser humano viver. Eu tenho certeza que esses alunos de medicina, muitos oriundos de famílias que não tiveram condições de proporcionar todas as oportunidades que todos os seres humanos deveriam ter por direito, e muitas outras pessoas solidárias a Cuba e que lá viveram, sentem a mesma admiração que eu por tudo de maravilhoso que lá foi construído e pela pouca esperança que nos resta, mas que passa a ser tão grande quando olhamos para nossos queridos irmãos cubanos.

Eu acredito que num futuro distante o Fidel Castro Ruz não somente será lembrado como um grande homem, mas sim como um ícone da luta pela justiça e pela igualdade social em nosso planeta, um ícone ainda maior que nosso querido comandante Che Guevara. Bom seria se o mundo não esperasse sua morte, como aconteceu com o Che, para reconhecermos isso. Eu espero estar vivo para ver isso e espero que até lá o governo cubano se mantenha forte e resistente para que, no futuro, não precisemos olhar para trás arrependidos e dizer: "Que pena, naquela época a situação podia ter mudado, mas não mudou", como já vimos acontecer muitas vezes na nossa historia.


fonte: PCB
Colaboração: Associação José Martí - Rio Grande
 

Três homens de esquerda

Fernando Evangelista

O governo Lula trouxe à baila uma discussão que alguns intelectuais, daqui e de fora, haviam decretado como ultrapassado: o que é ser de esquerda hoje? O presidente, mesmo sem querer, ressuscitou o debate ainda no início do seu segundo mandato, deixando muita gente confusa.

O problema é que a dúvida durou pouco e ficou mais ou menos assim: exceto alguns inexpressivos grupos partidários, é de esquerda quem apóia o governo Lula, é de direita quem o critica. O curioso é que o próprio presidente disse, em mais de uma ocasião, que não é e nunca foi de esquerda. Porém, algumas coisas devem ser ignoradas porque senão tudo perde o sentido.

Vive-se um Fla-Flu político pouco polido e muito raivoso, e quanto mais próximas as eleições, maiores os decibéis da gritaria entre simpatizantes e críticos do governo. Por isso, de maneira simples e objetiva, destaco algumas posturas que, na minha visão, seriam os pressupostos formadores do homem ou da mulher de esquerda.

Escolhas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.

É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.

É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.

Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.

Vida Real

Eu conheço três homens de esquerda. Nenhum deles participa de partidos políticos ou utiliza palanques para proclamar suas próprias virtudes. Não são super-heróis ou pessoas infalíveis, são pessoas de carne e osso, com qualidades e contradições. São homens de esquerda, sem nunca, talvez, terem pensado nisso. Os três são de Santa Catarina.

O primeiro e mais novo é Vilson Groh, 55 anos, padre que vive e trabalha há 30 anos no Mont Serrat, comunidade da periferia de Florianópolis. Entre dezenas trabalhos que coordena, está o Aroeira, onde cinco mil jovens, todos pobres, quase todos negros, recebem formação profissional, com bolsas, para entrar no mercado de trabalho. Foi através de outro projeto, o Pré-Vestibular da Cidadania, que 400 jovens daquela comunidade se formaram nas universidades públicas de Santa Catarina e outros tantos seguem o mesmo caminho.

O segundo chama-se Aldo Brito, 77 anos, farmacêutico, que dedica a sua vida à luta pela inclusão dos portadores de necessidades especiais. Quando foi presidente da APAE, idealizou a Feira da Esperança, maior evento filantrópico de Santa Catarina. Há 11 anos, criou a COEPAD (www.coepad.hpg.ig.com.br), a primeira cooperativa no Brasil tocada por portadores de deficiência intelectual.

O terceiro é Francisco Xavier Medeiros Vieira, 78 anos, que escolheu a magistratura porque entendia ser o caminho mais eficaz para lutar por justiça. Entre seus projetos, está a construção de 50 casas da cidadania, para agilizar e humanizar o Poder Judiciário. Foi ele quem implementou e coordenou a primeira eleição computadorizada na América Latina e foi ele, quando presidente do Tribunal de Justiça, quem nomeou o primeiro juiz agrário do Brasil, para evitar conflitos no campo. O homem de esquerda sabe que não é justo, por isso inaceitável, que menos de 1% dos proprietários rurais detenham 46% de todas as terras agricultáveis do país.

Os três são movidos pela integridade de caráter, pela generosidade de espírito e por uma bondade risonha. E é com pessoas assim, como escreveu o poeta e revolucionário cubano José Martí, “que vão milhares de homens, vai um povo inteiro, vai a dignidade humana”. Então, para quem diz que a esquerda na essência não existe ou perde tempo com argumentos teóricos vazios de sentido, para quem ainda não entendeu o embuste da briga entre tucanos e petistas, aí está o exemplo destes três homens. Três homens de esquerda.

Fernando Evangelista é jornalista
Original em  Caros Amigos

terça-feira, 30 de março de 2010

IX Jogos Sulamericanos - Medelin 2010

A "grande imprensa" nacional não teve tempo ou oportunidade para transmitir, ou mesmo divulgar, a realização dos IX Jogos Sulamericanos que tiveram o encerramento na noite de hoje na cidade de Medelin na Colômbia. Tal desinteresse talvez tenha ocorrido ra não prejudicar a apresentação do "Domingão do Faustão", do "Big Brother Brasil",  do "Pânico na TV" ou, enfim, qualquer outro programa "cultural" da televisão brasileira. O certo é que, nessa competição continental o futuro do esporte nacional apresentou-se de forma convincente - destaque para a ginasta Angélica Kvieczynski (foto) com 8 medalhas de ouro. Abaixo o quadro final de medalhas




quinta-feira, 25 de março de 2010

Parricídio tucano ou afasia suicida de José Serra

Gilberto Felisberto Vasconcellos

O que significa, do ponto de vista político e psicológico, o personagem José Serra no cenário da direita no Brasil e na América Latina?

Foi líder estudantil da UNE, o que não quer dizer talento retórico nem capacidade intelectual; todavia se no passado porventura possuía algum charme persuasivo, atualmente não lhe sobrou nada, e isso está relacionado com a sua progressiva direitização depois do Chile, ou talvez até antes.

Serra em Santiago foi uma espécie de garçom ou mordomo de FHC, a quem deverá o futuro ingresso nas altas rodas banqueiras em São Paulo, tendo apoio da missa católica de Franco Montoro para fazer-se deputado.

Do Chile, José Serra vem carimbado de “marxista”, fazendo marola que estava na trincheira do marxismo, quando na verdade sua quitanda era a Cepal burguesa e desenvolvimentista, sob a direção de Raul Prebish, economista ponta de lança do imperialismo inglês na Argentina, odiado por peronistas, nacionalistas e trotskistas.

Não há contribuição alguma de José Serra à teoria econômica na América Latina. Isso foi dito em 1978 por Ruy Mauro Marini, artigo publicado na Revista de Sociologia Mexicana. José Serra, sem o menor escrúpulo intelectual, censurou o artigo de Ruy Mauro Marini no Cebrap. Neste artigo, aparecia como ele é hoje: um homem que se ufana da burguesia industrial e financeira paulista, um tecnocrata operador do capital monopolista internacional.

Ruy Mauro Marini antecipou o balé financeiro multinacional de José Serra, origem pobre, mas fascinado pelo Banco e pelo poder do dinheiro fazer dinheiro, que não tem nada a ver com o capital produtivo. O PSDB é a expressão de classe da universalização do capital monopolista, isto é, do imperialismo.

Funeral de Allende

A saga mal contada do Chile. Não se conhece nenhum protesto tucano contra a derrubada do presidente Salvador Allende. E esse silêncio, ou essa atitude impassível em relação ao socialismo chileno golpeado pela CIA, é revelador do tipo de “democracia” a que está afeiçoado o PSDB.

José Serra no Chile esteve mais próximo do ‘catolicão’ Eduardo Frei do que do comunista Salvador Allende, ao contrário do que sucedeu com Ruy Mauro Marini, Andre Gunder Frank e Darcy Ribeiro.

Eduardo Frei não só conspirou no golpe de Estado de 1973, como celebrou o regime de Pinochet, o qual contou com o Banco Mundial assessorado por Milton Friedman e os economistas Chicago Boys, que foram admirados e aplaudidos por Roberto Campos, o economista que se esforçou para privatizar a Petrobras e a Vale do Rio Doce.

O modelo econômico de Pinochet foi inspirado na ditadura brasileira de 1964 com os planos de “austeridade” ditados pelo FMI e Banco Mundial, privatizadores com corte de gastos estatais.

O que existe em comum entre Milton Friedman, FHC e José Serra? Estes no poder venderam as empresas estatais para o capital privado e, principalmente, para o capital estrangeiro.

Essa política neoliberal de desnacionalização, que direcionou tanto o regime fascista de Pinochet quanto a social democracia de FHC e Serra, baseia-se em três pilares: exportação, austeridade e superexploração do trabalho.

A Cepal de Raul Prebisch foi a ante-sala dos Chicago Boys de Milton Friedman, os quais ocuparam altos cargos executivos no regime fascista de Pinochet. A política econômica do general chileno foi de caráter neoliberal e privatizante tanto quanto a da “era vendida” de FHC e Serra. Isso significa que, para além da superficial análise políticóloga baseada na noção de “autoritarismo”, a repressão policial durante a “era vendida” não se fez necessária no Brasil para garantir o domínio neoliberal da burguesia financeiro-monopolista e sua acumulação de capital.

O genocídio econômico neoliberal no Chile estava, segundo Pinochet, justificado por uma “democracia autoritária”.

Panteão caipira

Se a ditadura de 64 seguiu o receituário tecnocrático de Roberto Campos, o repercurtor colonizado de Milton Friedman, o guru gringo de Pinochet, então a política privatizante do general chileno foi, por sua vez, radicalizada pelo príncipe da sociologia no Brasil, que recebeu o justo epíteto de “o rei das privatizações”, disputando esse qualificativo na América Latina com Menem na Argentina e Fujimori no Peru. É por causa desse condicionante econômico do capital monopolista que FHC e Serra nunca derramaram lágrima alguma para Salvador Allende assassinado pelos Chicago Boys, os quais iriam inspirar mais tarde a decisão tucana de privatizar a Vale do Rio Doce e vender as ações da Petrobrás.

FHC e Serra no poder iriam repetir e copiar Albert Hirschman, outro economista anti-marxista que não difere substancialmente de Walt Rostow bancado pela CIA, o assessor de Kennedy e Johnson que mandou jogar bomba nas cabeças dos vietnamitas.

A fúria neoliberal privatizante dos tucanos não foi de inspiração autóctone, ou o resultado de seu convívio com Ulisses Guimarães e Franco Montono, o panteão caipira do largo São Francisco, incluindo o cowboy Orestes Quércia.

Como tudo o que acontece com eles, a diretriz é traçada invariavelmente do exterior e dos centros imperialistas. A compreensão dessa política entreguista do PSDB está em Andre Gunder Frank, sociólogo nascido em Berlim (1929) que deu aula na Universidade de Brasília convidado por Darcy Ribeiro, e que continua até hoje sendo o demônio das ciências sociais.

Gunder Frank, o autor de O Desenvolvimento do Subdesenvolvimento morreu em 2005, deixou uma notável obra teórica e histórica, que é o desmascaramento do neoliberalismo com a ideologia da globalização do capital monopolista.

O detalhe é que além de ter vivido no Chile na época de Salvador Allende, o marxista Gunder Frank, foi aluno de Milton Friedman na Universidade de Chicago na década de 50 e percebeu o caráter reacionário de seu mestre, rompeu com ele e com a Universidade de Chicago, e mais tarde no Chile, denunciou o crime contra o povo latino-americano perpetuado por aquele figurão que ganhou o prêmio Nobel de economia, por ser o paradigma monetarista do vínculo entre a universidade e o banco, como é também o caso, repetido na periferia, do percurso de FHC e Serra, os quais concentraram o poder econômico e venderam o país, seguindo a terapia do “tratamento de choque”, a expressão de autoria de Milton Friedman, cuja política, como dizia Gunder Frank, aumentou o monopolismo capitalista no mundo, desde quando assessorou Barry Goldwater e orientou as medidas econômicas de Nixon.

Para América Latina exportou a bula, repercutida décadas depois pelos tucanos, sobre a “estabilização da economia”, que não é diferente do modelo de Roberto Campos.

Mercado livre e pau-de-arara

É preciso desconfiar da auto-propagada vocação dos tucanos à democracia. Roberto Campos também se dizia fã da democracia quando serviu à ditadura. Milton Friedman escreveu o livro Capitalismo e Liberdade e contribuiu para o assassinato de 30 mil pessoas no Chile, apelando para os princípios do “mercado livre” e do neoliberalismo. Por isso é preciso perguntar o seguinte: até onde vai o amor de José Serra pela democracia? O fascismo político de Pinochet se valeu do neoliberalismo na economia, o qual será retomado por FHC com eleições, seguindo o que receitava o guru Milton Friedman: o lucro é a essência da democracia. FHC sempre disputou as eleições por cima e em situação favorável, a moeda “real” foi a cédula eleitoral no bolso, dizia Leonel Brizola. Depois se reelege u na maré das reeleições, o que não acontecerá com José Serra, que é uma espécie de primo pobre da tucanalha, desprovido das fortunas maquiavélicas que foram oferecidas para FHC na Casa Grande.

A dialética Casa Grande e Senzala funciona como um sintoma psicológico de um partido político repleto de egos vaidosos e sem carisma. FHC colocou a graça de seu carisma no dinheiro, na moeda, ficando conhecido como o “príncipe da moeda”.

Herança Vende-Pátria

Hoje, em situação mundial desfavorável provocada pela crise financeira do imperialismo (FHC esteve oito anos agenciando a globalização do capital estrangeiro), o PSDB com José Serra – representando os interesses da burguesia financeira e industrial de São Paulo – se prepara para voltar ao Palácio da Alvorada.

Há porém um problema neste teatro subshakesperiano. É que depois do estrago entreguista de FHC, os tucanos não têm discurso a apresentar, digamos, nenhuma esperança em cima da telenovela, da moeda e da estabilização da economia.

Ainda que não reconheça publicamente, José Serra gostaria de descartar-se da herança de seu progenitor, porque essa herança é um estorvo fatal para ele, impedido de falar que vai retomá-la e tirar-lhe a parte ruim.

Afinal, que “Brasil venceu” com oito anos de FHC? José Serra vive essa contradição em sua trajetória política, pois não poderá negar a paternidade que o gerou, embora esse DNA seja um obstáculo para palmilhar o caminho da Presidência da República.

É difícil para José Serra refutar que a era FHC, com a sua política de privatização internacional e agente da universalização do capital privado, foi um retrocesso nacional, que não fez senão prosperar os bancos e as corporações multinacionais.

Durante a “era vendida” de FHC, o PSDB foi o instrumento político do capital globalizado, que levou adiante as medidas entreguistas de 64, valendo-se do argumento da eficácia, da racionalidade e da competência na administração da vassalagem entreguista.

Baile de Manhattan

Analisado de olho na América Latina, o governo neoliberal de FHC –que José Serra estará compelido a defender agora com todos os constrangimentos – tomou como paradigma e aprofundou o que foi feito na economia pelos Chicago Boys no Chile do general Pinochet.

O neoliberalismo econômico de FHC, Menem e Fujimori começou com as ditaduras da década de 60. A retirada de todas as restrições ao capital estrangeiro, a liberalização dos mercados, a desregulação das empresas privadas, as prescrições sobre os “ajustes estruturais” fizeram parte do pacote macroeconômico chamado “estabilização” aplicado em escala mundial a mando do FMI e do Banco Mundial. Essa foi, na era privatizadora de FHC, a economia portfólio e especulativa, de acordo com o processo de acumulação de capital sob a égide da financeirização.

Quem fez a farra com o Plano Real foi, dentre outros bancos estrangeiros, o Chase Manhattan com os seus superlucros.

São os bancos e as grandes instituições financeiras que irão conceder o prêmio Honoris Causa para FHC, o “gênio das ciências sociais” enfiando (como dizia Leonel Brizola) os barretes em sua cabeça por várias universidades do Primeiro Mundo pelo serviço prestado, sobretudo na Inglaterra de Tony Blair, o afilhado de dona Tatcher e pupilo de Giddens, o comensal assíduo nos ágapes oferecidos por Rupert Murdoch, a patota Barclays Bank e British Airways.

A política econômica neoliberal foi um desastre para a América Latina, empobreceu muita gente e marginalizou amplos setores da população. José Serra irá corrigir os defeitos dessa política imperialista de FHC? É difícil imaginar o discurso do PSDB agora para o que defendeu e executou no poder durante oito anos, tendo sido o principal agente político da universalização do capital monopolista.

Culpa e Insônia

O travesseiro de José Serra está esquentado com a questão: o que dizer na campanha de 2010 acerca da herança daquele que foi o seu progenitor político? Agora, com a crise da financeirização política do capital monopolista, nem a direita da metrópole defende mais a “flexibilização do capitalismo”.

A insônia de José Serra tem razão de ser: cadê o Giddens? Cadê o Blair? Cadê a Tatcher? Cadê o Clinton?

O modelo terceira via - globalização-privatizante - neoliberal fracassou. A alternativa durante a campanha é retornar a Keynes e aos investimentos públicos? Será que isso surtirá algum efeito?

O problema é o peso da herança: FHC foi a transferência do patrimônio público para os interesses privados.

O PSDB não é social nem democrático. Quem faz o programa desse partido é a big finança, e esta não tem nada de democrática; ao contrário, o capitalismo monopolista é contra a democracia.

O interesse imperialista da metrópole é o que determina a concepção do PSDB.

Os gerentes e estamentos anglosaxônicos formularam as políticas da “terceira via” e da privatização, porém isso resultou num desastre completo.

O que foi outrora tido como gênio, Tony Giddens, citado impreterivelmente na bibliografia dos cursos da pós-graduação em ciências sociais, virou um badameco da burguesia pirata de Londres.

Segundo o sibarita Giddens, acabou a luta de classes entre burguesia e proletariado, o vínculo entre nação opressora e nação oprimida foi dissolvido, dissipou a contradição capitalismo versus socialismo, assim a filantropia das ONGs é o que resolve a penúria; enfim, essa “terceira via” neoliberal privatizadora aumentou o abismo entre pobres e ricos.

O PSDB é um partido político colonizado e mimético, sua formatação origina-se dos centros financeiros do capitalismo, seu internacionalismo, ou melhor, seu cosmopolitismo é burguês, portanto não há abracadabra possível que faça José Serra pousar de nacionalista e defensor das riquezas naturais do país; afinal ele foi o fautor e companheiro de viagem do funeral feagaceano da era Vargas. Então, sem que se reduza a política à psicanálise, é preciso reconhecer que um espectro ronda o arraial tucano: o do parricídio. É a matança (simbólica, claro) do pai FHC pelo filho José Serra, se este quiser se despregar da “era vendida”, pelo menos durante a campanha eleitoral de 2010. Se não for seguido este caminho, não restará outra alternativa senão a afasia que o levará à autoimolação política.

Adiós, Serra.
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Gilberto Felisberto Vasconcellos é sociólogo, jornalista e escritor

Original em Correio Caros Amigos
 


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terça-feira, 23 de março de 2010

Rapina

Filipe Diniz*

A rapina dos povos feita pelo poder imperial dos Estados Unidos da América, a que os epígonos do capitalismo ainda há dois anos apelidavam de «a maior democracia do mundo», é acompanhada da rapina do dinheiro dos impostos do próprio norte-americano em subsídios de milhares de milhão de dólares: ás sacadas, literalmente, ou por transferências bancárias de dinheiros públicos para a conta pessoal dos corruptos que foram apanhados.

O New York Times (13.03.2010) publica um moralizador artigo. O título tende para o eufemismo: «Novos casos de fraude apontam para lapsos nos projetos no Iraque». Trata-se da investigação sobre corrupção em torno a «reconstrução» no Iraque, implicando alguns dos americanos que participam num programa de perto de 150 milhares de milhões de dólares.

Analisando importantes transferências de dinheiro para os EUA – que envolvem bancos, negócios imobiliários, pagamentos de empréstimos, cassinos e «até cirurgias plásticas» - os investigadores terão instaurado mais de 50 processos em 6 meses.

Alguns pormenores são algo primários. Os suspeitos enviaram dinheiro para si próprios («dezenas de milhar de dólares») através de correio eletrônico, transportaram-no em sacos e em malas, compraram carros de luxo e jóias, pagaram dívidas de jogo gigantescas. Outros disfarçaram os ganhos em contas de banco no estrangeiro (Gana, Suíça, Holanda, Grã-Bretanha) ou arrumaram simplesmente o dinheiro em cofres domésticos.

A notícia adianta, com assinalável simplicidade, que estas dezenas de processos e de condenações por corrupção vêm confirmar algo acerca do qual há algum tempo se especulava: que o caos, a débil fiscalização e o amplo recurso a pagamentos em dinheiro permitiram a «muitos americanos que aceitaram subornos ou roubaram safarem-se sem prestar contas».

O principal responsável norte-americano pelo «Gabinete para a Reconstrução do Iraque» ainda é mais angelical: «tenho tido a sensação de que haverá um ambiente de persistente fraude que ainda não fomos capazes de identificar, e o volume de casos recentes indica que essa sensação deve ter um razoável fundamento».

Duas coisas há a concluir. Uma, que é certamente positivo este tão bem intencionado esforço norte-americano para investigar casos de corrupção. Outra, que o que estes senhores «especulavam sobre» e «tinham a sensação de» só os pode ter surpreendido a eles.

Todas as guerras imperialistas são guerras de rapina. O dinheiro que estes americanos corruptos fazem voltar aos EUA em malas e sacos não é senão uma insignificante parte do que o imperialismo arrecadou e arrecada sob a forma de petróleo e outros recursos, de tesouros arqueológicos e artísticos, do enorme retrocesso histórico imposto aos povos que humilha e agride, dos lucros de todas as Haliburton para quem a guerra é e continuará a ser o mais rentável dos negócios.


Este texto foi publicado no Avante nº 1.894 de 18 de Março de 2010.


Publicado em O Diário
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A lista da “Forbes” e os seus contrastes violentos e chocantes

Aqui no Brasil, a imprensa dominante exulta com a divulgação da “promoção” de um brasileiro que acaba de ser publicada pela revista “Forbes”, especializada na publicidade mediática de bilionários, no seu balanço para 2010. Trata-se de Eike Batista, que acaba de ascender à condição de 8º mais rico homem do mundo, com uma fortuna estimada em 27 bilhões de dólares e galgando muitas posições desde a sua anterior classificação, quando era o 61º.

Ao câmbio do dia, uma verba correspondente a cerca de 19.832 milhões de euros, ou seja, uma riqueza pessoal equivalente, por exemplo, ao salário mínimo português pago durante um ano (quatorze meses!) a 2.982.255 trabalhadores, ou – estas comparações são intermináveis – igual a mais de quatro anos de trabalho garantido para os 700.000 portugueses desempregados.

Além de Eike, entre banqueiros e empresários, o Brasil tem mais 17 pessoas com fortunas acima de US$ 1 bilhão, segundo a mencionada lista anual, divulgada na quarta-feira. O país tem o maior número de bilionários da América Latina.

Claro que, na óptica da comunicação social do capital brasileiro, é uma classificação muito “honrosa”, não obstante o 1º classificado neste escandaloso "ranking" ser um mexicano, Carlos Slim, com uma fortuna calculada em 53,5 bilhões de dólares (*), destronando este ano o anterior “vencedor”, o estadunidense Bill Gates.

Segundo a “Forbes”, o número de bilionários no mundo subiu de 793 no ano passado para 1.101, mas ainda abaixo dos 1.125 contados em 2008 (uma queda dramática!). Atualmente, os bilionários no mundo têm em média 3,5 bilhões de dólares, o que representa um aumento de 500 milhões de dólares sobre o último ano, ano de “crise”, está bem de se ver. Considerados os dez primeiros da lista, o total dos seus "pecúlios" cresceu de US$ 254 bilhões para US$ 342 bilhões, um aumento de 34,6%! Entre estes, há quatro bilionários oriundos de países "emergentes" - além de Slim e de Batista, aparecem os indianos Mukesh Ambani e Lakshmi Mittal, na 5ª e na 6ª posições, respectivamente, com 29 bilhões e 28,7 bilhões -, países "emergentes" que usualmente são considerados os “bons exemplos” para aqueles países que ambicionem conseguir um crescimento econômico “milagroso”...

Numa versão fina do usual “dar lugar aos novos”, sempre segundo aquela revista, este ano entraram na lista 97 novos membros do “clube”, dos quais – atenção, muita atenção mesmo! – estão fazendo a sua estréia (verdadeiros debutantes!) 62 bilionários da Ásia, um "avanço" que permitiu à China fixar-se como o 2º país com o maior número de bilionários - 64! -, logo após os Estados Unidos, isto sem contar com mais outros 25 bilionários originários de Hong Kong.

Voltando ao empresário brasileiro Eike Batista, reza a sua encomiástica biografia que a sua fortuna começou a ser construída no início dos anos 1980, no “ramo” do comércio de ouro e diamantes, com negócios posteriormente estendidos ao petróleo e gás, mineração, energia, logística e estaleiros. Fato carregado de simbolismo, todas as companhias de Eike têm a letra “X” no nome, numa referência descaradamente explícita ao sinal matemático da multiplicação… Nos últimos anos, o bilionário Eike decidiu redirecionar integralmente para o Brasil as suas atividades, pois este país “é um dos melhores lugares do mundo para se fazer negócio”, segundo as suas próprias palavras.

Do ponto de vista do capital, assim parece ser. Só nos primeiros dias deste mês de Março, o saldo positivo na Bolsa brasileira, entre entradas e saídas de movimentações, no investimento em dólares, atingiu os 1.450 milhões, obrigando de novo o Banco Central a comprar 780 milhões da dominante moeda norte-americana, procurando “enxugar” esta nova inundação de dólares da especulação financeira, operada pelo grande capital multinacional.

Entretanto, no país real, outros são os dados da realidade brasileira. Já anteriormente neste espaço ("Davos, os Emergentes...", 31/01/10) se trataram alguns dos seus aspectos econômicos e sociais.

Segundo os números acabados de divulgar pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), 12,6% da população total brasileira – cerca de 24 milhões, dos quase 190 milhões de brasileiros - vive em situação de indigência, classificação que no Brasil é dada aos que têm uma renda mensal inferior a 1/4 do valor do salário mínimo - fixado este ano pelo governo em 510 reais (cerca de 210 euros)-, ou seja, pessoas obrigadas a sobreviverem com menos de 128 reais (53 euros), enquanto outros 32% dos brasileiros – cerca de 61 milhões de pessoas – (sobre) vive em situação de pobreza, designação usada para aqueles que têm um rendimento menor que 1/2 do salário mínimo, isto é, 255 reais (106 euros).

Segundo a análise da pesquisadora do IPEA, Luciana Jaccoud, se hipoteticamente fossem retirados três dos principais subsídios sociais de assistência aos mais necessitados – o Bolsa-Família, outros benefícios previdenciários e o BPC (Benefício de Prestação Continuada de Assistência Social) – os índices de indigência e de pobreza pulariam, passando a representar, respectivamente, 23,4% e 43,7% da população brasileira.

Mesmo consideradas as diferenças nos custos de vida respectivos, dá para nós, portugueses, imaginarmos qual a ”qualidade” de vida a que estão sujeitos, com aqueles níveis de “rendimentos”, tantas dezenas de milhões de brasileiros.

Num país “bonito por natureza”, prenhe de enormes potencialidades econômicas próprias (petróleo, ferro, outros metais, pecuária, agricultura, etc, etc.), são violentos e chocantes estes contrastes, entre os rendimentos do multimilionário Eike Batista e da minoria oligárquica parasitária à qual pertence, e, tantos milhões de compatriotas seus, obrigados pela extrema e desumana exploração capitalista a sobreviverem com tão escassos – verdadeiramente subumanos! - e irrisórios meios de vida, cavando um dos maiores fossos sociais existentes no mundo.

Um contraste violento e uma gritante contradição, a exigirem muitos combates de classe, muita denúncia política e muita luta por parte de todos aqueles que se reclamam comunistas e revolucionários, tal como por parte de todos os verdadeiros democratas e patriotas (com ou sem partido), uns e outros fazendo assim jus à condição de legítimos herdeiros das melhores tradições de luta e de insubmissão do grande povo brasileiro.


(*) Nota: Segundo as notícias oriundas do Chile - que tem quatro bilionários na lista, entre eles o presidente da direita revanchista recém-eleito, Sebastián Piñera - os gastos totais com a reconstrução, para recuperar das destruições ocasionadas pelo grande terremoto que recentemente atingiu o país, cifram-se em 15 bilhões de dólares; isto é, um pouco mais que uma quarta-parte da fortuna unipessoal do bilionário mexicano.

Publicado em O Assalto ao Céu
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sexta-feira, 19 de março de 2010

Honduras: A Igreja e os Lobos

Gustavo Zelaya

Parece que Bento XVI e seu irmão George estão com problemas, as acusações sobre abuso sexual e pedofilia vão e vem, desde os Estados Unidos até a Holanda, passando pela Alemanha e México e assim, até o infinito. É a cabeça visível da igreja de Roma e chefiada pelo cardeal Rodríguez. Tal quais os anteriores vigários de Cristo na terra seguem demonstrando os problemas que os envolvem para admitir que seu lugar na vida social não é mais que tentar conduzir espiritualmente aos que elegeram certo corpo de idéias religiosas. Antes se considerava que os hierarcas católicos também tutelavam moralmente os seus paroquianos e por aspirações universalistas entendiam esse papel ao resto da sociedade. Tal guia moral é mais duvidosa que nunca e aí estão os processos milionários por abuso sexual, a fila que arrasta o Papa, os casos de mulheres engravidadas por sacerdotes, a forma cínica com que a igreja que dirige o cardeal hondurenho corrige os erros dos padres mudando-os de paróquia, tirando-os do país até que os rumores diminuam e o garotão tenha refletido, mandando-os para estudar na Europa, promovendo-os a cargos de direção, aos que não aceitam os coloca nas paróquias menos expostas e agora, sobre tudo, participando ativamente no maior ato de corrupção realizado na historia nacional: o golpe de estado de 28 de junho contra o governo de Manuel Zelaya.

Em nosso caso (de Honduras - NT), essa hierarquia, devido ao oportunismo dos políticos que têm governado Honduras desde 1900 até hoje, tem assumido papéis pouco religiosos e se envolvem com os poderes econômicos e políticos pontificando sobre o bem e o mal , colocando-se como uma espécie de juízes que decidem, sugerem, condenam e absolvem sobre todas as coisas terrenas. Das do céu há tempo se esqueceram. É comum encontrar nas hierarquias católicas lúcidas e bem sustentadas reflexões sobre a conservação da vida e os perigos contra ela, a conseqüência dos avanços da ciência e os conflitos bélicos. O mais estranho ocorre quando essa firme defesa e essas obrigações com a vida que se amplia à condenação absoluta do aborto e à proteção das formas embrionárias, não condenem de maneira total a pena de morte já que a aceita para casos de “absoluta necessidade” e não tenham dito uma só palavra de desaprovação contra as mortes ocasionadas pelo golpe de estado. Nem um só documento saiu do palácio episcopal reprovando agressões, torturas, detenções, censuras e perseguições sofridas pela Resistência Popular. É como se estes eventos não estejam ocorrendo. Inclusive, um dos bispos auxiliares está à espera a que haja suficientes mortes para que o conflito desencadeado pelo golpe de estado possa ser classificado de importante. Parece que uma só morte não é suficiente para sacudir a consciência desses personagens.

Todo esse ativismo e compromissos proclamados pela conservação plena da vida caíram em descrédito ao aceitar o fato que alguns seres humanos podem ser privados de sua existência por razões de estado. Podem ser violentados e na prática assim segue ocorrendo para manter a “harmonia” social ao estilo dos católicos e evangelistas fundamentalistas agrupados na Opus Dei e grupos similares. Na boca desse radicalismo religioso a defensa da vida humana não é mais que uma linda expressão que é abandonada quando os interesses empresarial e político que eles representam são ameaçados pelas demandas populares em busca da justiça e da igualdade social.

Por exemplo, a forma obstinada de rechaçar métodos anticonceptivos em defesa da vida e em apego à suposta “lei natural” choca-se com a realidade. Provoca duvidas entre os fiéis que não podem deixar de utilizar esses métodos. Gera conflitos teóricos quando surgem perguntas sobre quê é isso de lei natural, si realmente há leis naturais, até porque o conceito de lei se opõe ao natural; todas as leis são produtos sociais, são históricas, em conseqüência, não são eternas e se modificam segundo transcorre a experiência social. Mas também há inquietudes acerca dessa defesa fundamentalista da vida que dá lugar a crescimentos estadísticos da morte. Isto é muito complexo quando alguém aceita como verdade absoluta que a relação sexual só te, como finalidade a procriação e em nenhuma circunstancia a obtenção de uma forma de prazer. Essas concepções presentes na doutrina da igreja só devem ter validade para os católicos mas a participação eclesiástica em assuntos próprios da atividade política, estatal, legislativa e que afetam à sociedade civil deve ser rechaçada ou, pelo menos, deve discutir-se publicamente e em condições de igualdade.

A história nacional depois de 28 de junho segue pondo em seu lugar pessoas, crenças, instituições e verdades que pareciam absolutas. E delas, princípios e sistemas de valores se quebraram até desmoronar, como se o “prestigio” que supostamente tinham os hierarcas religiosos, e não só católicos, aquela frase repetida de a “reserva moral” manifestada na pessoa do cardeal não era mais que uma flatus vocis, palavras, expressões cujo sentido a dávamos os humanos; um simples convencionalismo sem maior conteúdo e que agora pretende resgatar ao retirar-se desse inútil aparato do Conselho Nacional Anticorrupção. Mas como lavar-se essa face marcada pela mão do golpista cabeça de alho, alias Micheletty? Como desmentir essa cumplicidade com a corrupção desencadeada pelo golpe de estado? Como deixar de lado tantas mortes provocadas e a consolidação do golpe de estado a partir de 27 de janeiro respaldado pela hierarquia religiosa? Não se trata de ocultar-se atrás dos panos para não sair mais na foto. Bem sabemos que têm sido lobos pastoreando ovelhas. Já não lhes serve manter discretos perfis.

Original em Habla Honduras
Tradução Rosalvo Maciel
 
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quinta-feira, 18 de março de 2010

Escola Latino-Americana de Medicina em Cuba tem uma matrícula de 10 mil estudantes

A Escola Latino-Americana das Ciências Médicas (ELAM) de Cuba completou dez anos de criada e conta com uma matrícula de 10 mil estudantes de dezenas de países, que recebem a preparação acadêmica sem custo algum para os seus familiares.

"A nossa matrícula atual é de perto de 10 mil jovens. Já fizemos cinco formaturas (dos que concluíram o programa de seis anos) com 7.248 formados de 28 países", comentou a vice-reitora acadêmica, Midalys Castilla.

Atualmente, estudam jovens de 55 países — pois entraram alguns de países africanos e até de pequenas ilhas do Pacífico — e 75% deles são filhos de operários e camponees; além de estarem presentes bolsistas de 104 comunidades originárias da América Latina.

A única coisa que se exige aos jovens (com idades que flutuam entre 17 e 25 anos) é que, depois de formados, retornem as suas localidades ou bairros humildes para trabalharem nelas e retribuírem o aprendido.

Com os primeiros 34 jovens estadunidenses formados criou-se uma situação tal que obrigou a ELAM a obter um credenciamento da Junta Médica da Califórnia, para que seus títulos tivessem valor. Atualmente, estudam nesse centro 113 jovens desse país.

Ainda, em Cuba há 11 000 bolsistas do projeto ALBA, da Aliança Bolivariana para as Américas, formada pela Venezuela, Bolívia, Equador e outros países.

De início, "houve uma forte resistência nalguns países por parte dos Colégios Médicos", disse a vice-reitora acadêmica, durante um percurso pelas instalações da ELAM, na periferia de Havana.

Indicou que a preocupação das associações de médicos foi diminuindo, na medida em que perceberam que esses colegas retornavam a seus povoados, aonde realmente outros médicos não tinham interesse de trabalhar.

"Inclusive, governos da região que reagiram com desconfiança perante o projeto — disfarçada ou não —modificaram depois a sua percepção", disse Castilla.

Em países como Honduras, México, Brasil e Argentina os próprios jovens têm que batalhar para que seus títulos sejam reconhecidos. Porém, aos poucos, as universidades, as associações médicas e os governos têm vindo a ceder. Em troca, em Espanha, o reconhecimento do diploma é automático.

"Estamos num momento importante quanto à validação do programa", disse Castilla,

As aulas começaram em fevereiro de 1999 com 1.900 jovens, nomeadamente da América Central. Na época, a passagem de dois furacões abalou duramente as populações pobres dos países dessa região.

O então presidente Fidel Castro assegurou que tinha chegado a hora de começar a formação de profissionais "humanistas" comprometidos com suas comunidades, um verdadeiro "exército de batas blancas".

Atualmente, os estudantes e os já formados trabalham com o objetivo de fundar uma associação internacional que os reúna.

Original em Granma
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Quem são e por que lutam os “dissidentes” cubanos

Osvaldo Bertolino

A foto acima está correndo o mundo pela mídia para ilustrar a “repressão” às “Damas de Blanco” ontem na cidade de Havana, em Cuba. A manipulação é flagrante. Observe que as pessoas que não estão de branco não são mostradas. As legendas e as matérias dizem apenas que são policiais, agredindo manifestantes pacíficos. Podem até ser policiais — vamos admitir essa hipótese para não sermos tão rigorosos com os manipuladores. Mas a mensagem ignora que uma multidão de cubanos — cerca de 400 “partidários do regime”, segundo a mídia torpe — enfrentou as manifestantes. De onde surgiram essas “Damas”? Vejamos.

Em meados de 2002, um sujeito astuto desembarcou em Havana, vindo dos Estados Unidos, pisando macio como se estivesse de sandálias de veludo. Atendia pelo nome de James Cason e em setembro daquele mesmo ano seria anunciado como o novo chefe do Escritório de Interesses dos Estados Unidos em Cuba. Era amigo de longa data de Otto Reich, o comandante das operações da “guerra suja” travada contra a Revolução Sandinista na Nicarágua. Ali, os dois atuaram juntos. Reich era o responsável por redigir proclamações e manifestos em nome dos grupos organizados por eles e que empreendiam a “guerra suja”. Cason atuava como recrutador de mercenários.

Com o caso “Irã - Contras”, um escândalo de corrupção e tráfico de armas para financiar os “contras” nicaragüenses, ambos foram afastados das operações por decisão do Senado dos Estados Unidos. Reich ficou atuando nas sombras até que em um momento de recesso do Congresso, já no governo do ex-presidente George W. Bush, foi nomeado subsecretário de Estado para Assuntos da América Latina. E uma de suas primeiras providências foi a de enviar Cason a Cuba para “sondar o terreno”.

Viagens de exploração

O momento era delicado para a ilha socialista. O governo dos Estados Unidos trabalhava febrilmente para convencer o mundo que um “eixo do mal” preparava ações para atacar o império. E, para se defender, a melhor defesa seria o ataque. O Iraque foi o primeiro país a entrar na alça de mira de Bush — a invasão do país começou no dia 19 de março de 2003. Cuba poderia ser a próxima vítima a qualquer momento.

Em setembro de 2002, antes de assumir oficialmente a chefia do Escritório de Interesses dos Estados Unidos em Cuba, Cason fez algumas viagens de exploração pelo país. Fez contatos, propostas e muitas reuniões. Com as informações levantadas, montou um plano de ação. A primeira atividade foi a convocação de uma manifestação para o dia 24 de fevereiro de 2003, quando se comemora na ilha o início da última guerra de independência contra a Espanha, em 1895. O ato ocorreu no apartamento de Martha Beatriz Roque — organizadora do grupo “Damas de Blanco” e conhecida mercenária cubana —, em Havana, com a presença de cerca de 30 pessoas. Tudo feito às claras, com declarações públicas.

Liberdade e justiça

Em uma entrevista coletiva, Cason anunciou o plano de intensificar os esforços pela “transição democrática” em Cuba e pronunciou verdadeiros impropérios contra o líder revolucionário e então presidente cubano, Fidel Castro. Quando um jornalista lhe perguntou se a sua presença no ato não confirmava a denúncia do governo cubano de ingerência em assuntos internos, Cason disse: “Não, porque acredito que aqui convidaram todo o corpo diplomático e, como convidado, não tenho medo.”

Em seguida ele revelou a verdadeira intenção da reunião. “Infelizmente, o governo cubano, esse sim, tem medo. Medo da liberdade de consciência, da liberdade de expressão, medo dos direitos humanos. Os grupos (de “dissidentes” organizados por ele) estão demonstrando que há cubanos que não têm medo”, disse. E finalizou a declaração: “Estou aqui como convidado e vou percorrer todo o país, visitando todas as pessoas, que, sim, querem liberdade e justiça.”

Invasão do país

Os cubanos presentes eram pessoas que os norte-americanos capturavam no mar e mandavam de volta à ilha — geralmente com antecedentes criminais ou com problemas legais que as impedem de serem enquadradas nas regras para um visto de saída conforme o acordo migratório entre Cuba e Estados Unidos. Cason agrupou essas pessoas em uma “organização de ex-balseiros” e deu-lhes a denominação de “dissidentes”. Outro grupo foi organizado como “jornalistas independentes”.

Logo depois da reunião, Cason viajou para Miami — onde intensificou os ataques a Cuba e a Fidel Castro. Nos dias seguintes, ele fez um intenso vai-e-vem entre Havana e Miami. E sempre concedia entrevista coletiva, matéria prima que alimentou uma onda anticubana ignominiosa pela mídia. O objetivo era provocar a sua expulsão ou algum outro tipo de atrito para criar um fato que justificaria a invasão do país. O assunto foi debatido pela Assembléia Nacional cubana, que chegou à conclusão de que o país estava diante de uma armadilha.

Celas solitárias

Outra medida que complementaria o plano Reich-Cason foi a transferência dos “Cinco Heróis da República” cubanos, presos nos Estados Unidos em missão para combater o terrorismo contra a ilha, para unidades especiais, no dia 6 de março de 2003. Foram tomadas medidas rigorosas contra eles, como o confinamento em celas solitárias. No dia 10 de março, o Ministério das Relações Exteriores de Cuba entregou uma nota diplomática de protestos a Cason.

A situação já havia chegado a um ponto crítico. No dia 12 de março de 2003, foi realizada, na residência de Cason em Havana, uma atividade com 18 “dissidentes”. No dia 14, o grupo votou a se reunir. E, desde então, passaram a se encontrar regularmente. A invasão do Iraque estava próxima. E uma atmosfera de guerra tomou conta do país.

Tensa negociação

Duas horas antes de começar a invasão do Iraque, no dia 19 de março de março de 2003, um avião da ilha da Juventude, fazendo a última viagem di dia, foi seqüestrado por seis pessoas e desviado para os Estados Unidos com mais um grupo de “dissidentes” a bordo, onde receberam permissão para ficar em virtude da imoral Lei de Ajuste Cubano. Os demais passageiros foram incitados e ficar e, diante da recusa, foram hostilizados e devolvidos a Cuba.

No dia 31 de março de 2003, outro avião foi seqüestrado, com 45 passageiros a bordo. O líder dos seqüestradores anunciou que desviaria o vôo para Miami, mas o combustível não dava. O avião pousou na ilha da Juventude e iniciou-se uma tensa negociação, comandada pessoalmente por Fidel Castro. O próprio piloto se recusava a voar, indignado com a ousadia dos “dissidentes”. Foi preciso uma longa conversa de Fidel Castro para convencê-lo a levar o avião para as Bahamas.

Pena capital

No dia seguinte, 1º de abril, na baía de Havana, houve o seqüestro de uma embarcação cheia de passageiros — alguns, turistas — por um grupo de onze ou doze “dissidentes”. De novo, Fidel Castro comandou pessoalmente as negociações, que resultaram na prisão do chefe dos seqüestradores e na liberação da embarcação. Duas turistas francesas se jogaram na água. Na distração do líder do bando, um membro do Ministério do Interior que estava a bordo se atracou com ele e o dominou.

Diante da situação, a Assembléia Nacional aprovou a aplicação de penas previstas na legislação do país, de acordo com decisões da Justiça. Três “dissidentes” receberam a pena capital. Outros tantos foram apenados de acordo com os mais rígidos preceitos do Estado de Direito e das regras judiciais internacionais. Logo em seguida, começou a campanha internacional da direita pela libertação dos “presos políticos”, que tem nas “Damas de Blanco” um de seus pontos de apoio.

Com informações dos livros “Biografia a duas vozes” e “Os dissidentes”

Original em O Outro Lado da Notícia
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Os heróis das FARC no panteão da História

Dax Toscano Segovia*

“Calar em silêncio, esconder-se em surdina, ou permanecer cômoda e ociosamente sentado em frente a um computador no local de trabalho, não é digno de quem afirma lutar por um mundo melhor. A solidariedade e o apoio aos revolucionários colombianos, e apesar dos riscos que tal atitude comporta, por causa das perseguições arbitrárias movidas pelo regime narcoparamilitar orientado por Uribe, tem de afirmar-se de viva voz, como no tempo dos revolucionários vietnamitas e argelinos, por exemplo, e como se faz hoje em dia, com o povo palestino, vítima de alguns dos mais abomináveis crimes que é possível praticar, da parte do estado sionista de Israel.”
O mês de Março de 2008 carrega um significado muito especial pela profunda dor para o movimento das FARC e para todas as forças revolucionárias a atuar na América Latina e de todo o mundo, infligida pelas mortes dos comandantes Raúl Reyes, Iván Ríos e Manuel Marulunda Vélez.

Raúl foi assassinado a 1° de Março desse mesmo ano, num bombardeamento do acampamento guerrilheiro onde prestava serviço e que se instalara em Angostura, na zona de Putumayo, ataque aliás que provocou ainda a morte de outras vinte e quatro pessoas, grupo em que se encontraram cinco estudantes de nacionalidade mexicana que permaneciam no referido local. Lucía Morett foi a única sobrevivente desse grupo de estudantes. Atualmente, é perseguida por membros do governo narcoparamilitar colombiano e por representantes da justiça equatoriana, que decidiram incriminá-la pelo fato de ter visitado o acampamento guerrilheiro de Raúl.

O projeto e a execução da «Operação Fênix» foram da responsabilidade das forças de segurança colombianas, as mesmas que puderam contar para o efeito, com o apoio de especialistas militares e de espionagem estadunidenses e israelitas. Quadros dos serviços secretos do exército e da polícia equatoriana contribuíram igualmente em operações de infiltração no terreno para posteriormente ajudar a descobrir a localização exata do acampamento do comandante das FARC-EP. O oficial de polícia Manuel Silva e o coronel do exército Mario Pazmiño foram figuras chave nesta vergonhosa tarefa de trabalhar diretamente para os serviços de investigação policial colombianos, e ao serviço do governo equatoriano.

Esta campanha foi imbuída de crueldade, devidamente aproveitada pela comunicação social colombiana que, simultaneamente, se regalava com a mórbida profanação do assassinado Raúl Reyes através do abuso da exibição das fotografias dos cadáveres. Juan Manuel Santos, antigo ministro da defesa da Colômbia, exibia um sorriso macabro ao comunicar a fatídica notícia e apresentou a morte de Raúl como um troféu desportivo pessoal.

Ainda mal refeita da dor provocada por esta recente perda, o movimento das FARC foi forçado a enfrentar o assassinato do comandante Iván Ríos, igualmente membro do secretariado das FARC-EP, no dia 3 de Março de 2008. Iván foi vítima de Pedro Pablo Montoya, também conhecido por «Rojas», um indivíduo cobarde a quem a promessa de muito dinheiro e a garantia das vantagens que o fato de ser traidor em favor da política interna de Uribe lhe trariam e que são oferecidas aos traidores e assassinos do povo colombiano, subiram à cabeça, acabando por causa disso, por disparar na cabeça do comandante assim como na sua companheira, enquanto ambos dormiam no seu próprio acampamento, e para logo a seguir decepar friamente uma das suas mãos e levá-la consigo, como prova a apresentar ao exército colombiano, para reclamar a sua recompensa de 5 mil milhões de pesos que, previamente, lhe fora prometido. Mais uma vez Uribe, Santos e Padilla nem tentaram disfarçar a sua satisfação por este novo atentado orquestrado contra as FARC-EP. As afirmações destes mafiosos através das suas correias de transmissão informativas atropelavam uns e outros, acenando já com uma desvairada euforia com a derrota das FARC numa questão de pouco tempo.

A prepotência do regime narcoparamilitar de Álvaro Uribe Vélez atingiu extremos impensáveis quando, durante o mês de Maio, as FARC-EP confirmaram a morte do seu comandante supremo, Manuel Marulanda Vélez, com 78 anos de idade e ocorrida a 26 de Março de 2008, como conseqüência de uma paragem cardíaca. Estimulado por essa notícia, o criminoso Juan Manuel Santos decidiu dar ordens ao exército colombiano para se ir resgatar o cadáver de Marulanda, chegando mesmo a oferecer uma quantia milionária em dinheiro, a quem ajudasse a localizar o corpo do malogrado comandante.

Estes dias foram vividos com intenso sofrimento e muita dor para o movimento da guerrilha das FARC-EP. No entanto, apesar da violenta campanha mediática financiada pelo uribismo que propagandeou a suposta desmoralização e desorganização dos revolucionários, os combatentes das FARC-EP não perderam o rumo traduzido, desde as suas origens, numa luta pela construção de uma Colômbia nova, ao mesmo tempo em que, simultaneamente, tomavam as medidas necessárias para se reestruturarem face às baixas e dificuldades sofridas e sentidas como corolário lógico da guerra, em que todo o povo colombiano se encontra envolvido, fruto da política criminosa da oligarquia deste nosso país e do imperialismo estadunidense. O comandante Alfonso Cano foi, por conseguinte, escolhido para novo líder das FARC-EP.

Os fatos ocorridos neste funesto mês de Março do ano de 2008 para os revolucionários das FARC-EP mas também para todas e todos os revolucionários de todo o mundo, não poderá ser evocado com melancolia ou sentimentalismos que não ajudam à nossa indispensável ação transformadora do sistema político e ordem vigentes, porque é precisamente isso que pretende atingir quem detém o poder através de inúmeros mecanismos de subversão e de alienação, entre os quais figuram a intimidação através da insinuação do medo da morte e face ao sucedido em situações específicas no passado, e que tiveram reflexos negativos para as organizações revolucionárias e os seus heróicos combatentes.

O revolucionário basco Iñaki Gil de San Vicente afirmou que «um povo vive na medida em que as pessoas que morreram para que esse povo pudesse viver, continuem vivas nesse mesmo povo». Não basta, por conseguinte, recordar as nossas heroínas e os nossos heróis em cada aniversário das suas mortes, ou tão somente celebrar atos em sua homenagem nos dias em que faleceram. Tal atitude só provocaria a mumificação ou petrificação dos seus gloriosos atos perpetrados, dos seus ideais. As recordações estéreis são também evocadas por quem detém o poder para aproveitamento desses momentos com o objetivo de, desse modo, esvaziar de conteúdo todo o vigor e entusiasmo dos combatentes revolucionários mortos ou então para continuar a denegrir ou a insultar o exemplo dado como revolucionário. Assim foi feito com a imagem do Che ao longo de 43 anos!

«Um povo vive na medida em que essa memória esteja sempre presente, se transforme em ação sistemática, seja vivida na prática do dia a dia, e não se limite a não ser mais do que uma recordação num obituário de um jornal», exprimiu Iñaki. E acrescentou que um povo só pode viver «na medida em que seja capaz de manter nas ruas, nas lutas, na mobilização, todos os contributos dados por todos aqueles e aquelas que lutaram e morreram e que não hesitaram quando enfrentaram todo o tipo de perigos, por acreditarem nas suas reivindicações para eles próprios e para as gerações vindouras, porque a memória não pertence somente ao passado, mas é isso sim, uma arma carregada de futuro, um instrumento para a libertação, para inspirar a acção no presente».

Marx anotou na sua tese sobre Feuerbach a necessidade de não só saber interpretar a realidade, mas também de lutar para transformá-la.

Para o autor de «O Capital», é imprescindível que não se aja somente (ainda que obviamente não se deva deixar de fazê-lo) repetindo palavras de ordem ou usando boinas ou camisolas com os retratos dos revolucionários ou decorando com cartazes com fotografias dos combatentes admirados as paredes da residência ou do local de trabalho.

A prática revolucionária implica absorver conhecimentos teóricos adequados para saber interpretar a realidade, não só para conseguir explicá-la a terceiros ou ir aprofundando e atualizando esse mesmo conhecimento, assim como para melhorar ou transformar no caso dessa mesma realidade ser de miséria e de exploração para a maioria da população.

Mas na verdade, não se trata aqui, de uma ação individualista, levada a cabo solitariamente, desligada de um coletivo político. Antes pelo contrário, os povos e as suas diferentes organizações é que devem liderar o seu próprio destino, e em conseqüência desta necessidade, devem empreender as tarefas políticas e revolucionárias para se lutar contra os inimigos do progresso da humanidade, ou seja, o imperialismo, o sionismo, a alta burguesia mundial e as oligarquias para, desse modo, conquistar uma sociedade que seja diferente do capitalismo.

Neste processo, os povos não deverão esquecer-se, nem perdoar a todos aqueles que infligiram dor ou sofrimento. Os atos criminosos cometidos por figuras como Uribe, Santos, Padilla, Bush e a sua parafernália militar e paramilitar, não poderão nunca ficar somente no passado, mas deverão, isso sim, ser lembrados em nome da memória dos coletivos políticos, com o propósito, precisamente, de impulsionar a luta revolucionária que um dia irá pôr cobro à política criminosa e guerreira defendida pela oligarquia e pelo imperialismo. Do mesmo modo, há que manter vivos cada um dos feitos cometidos pelos criminosos ao serviço de quem detém o poder na sociedade capitalista, para que, mais cedo ou mais tarde, prestem contas pelos seus crimes em tribunais revolucionários.

Ao longo destes últimos cinqüenta anos, as FARC-EP provaram, com a prática seguida pela organização e pelos seus combatentes como Raúl, Iván mas também do velhote muito acarinhado, o comandante Manuel, ser coerentes com os princípios defendidos pelos próprios para proteger o povo, ou seja lutar do seu lado, com firmeza e coragem, contra o imperialismo e pugnando pelo internacionalismo revolucionário, agora com ainda mais brio, depois de ter recuperado a espada libertadora de Simón Bolívar.

Ao cumprirem-se dois anos após o assassínio de Raúl Reyes e de Iván Rios e da morte natural do comandante supremo, Manuel Marulunda Vélez, os revolucionários devem demonstrar a sua solidariedade militante, ativa e sincera com as FARC-EP. O medo, as dúvidas não podem colher naqueles que lutam pela construção de um mundo inteiro alternativo ao modelo imposto pelo capitalismo neo-liberal.

A oligarquia santanderista e o imperialismo desejam que os povos do mundo inteiro generalizem e validem as mentiras que eles próprios veiculam constantemente sobre o movimento revolucionário colombiano.

É triste escutar muitas altas figuras, supostamente de esquerda, assim como organizações políticas aparentemente progressistas, repetir os argumentos estafados da propaganda destrutiva da oligarquia colombiana e do imperialismo estadunidense sobre as FARC-EP. Essas pessoas e esses movimentos que, na verdade, nunca se sentiram forçados a segurar o touro pelos cornos, não merecem qualquer tipo de consideração da parte dos povos que têm de lutar contra os seus inimigos, contra os seus exploradores.

Ninguém duvida que a propaganda fascista também provocou um efeito sedutor em grande parte das populações, que diariamente são intoxicadas com mentiras a respeito do movimento guerrilheiro colombiano.

Em nome desse movimento, há que ir desmontando esses argumentos negativos e dar a conhecer a cada pessoa, através de vários meios possíveis, as verdadeiras intenções das FARC-EP. Esclarecer sobre a verdade contra as mentiras dos oligarcas e dos imperialistas, é uma tarefa prioritária de todos os revolucionários. A direita está bem unida. A atestá-lo, Uribe e a sua marionete Gabriel Silva, atualmente ministro da defesa da Colômbia, deram ordens às suas embaixadas para que, com a ajuda destas, se lançasse uma campanha agressiva com o objetivo de denegrir as FARC-EP, assim que se desse a conhecer na Argentina o documentário «As FARC-EP, os revolucionários do século XXI», onde a guerrilha colombiana é apresentada ao público, nas suas verdadeiras dimensões, como força com implantação popular e valor político-militar, ao serviço dos pobres.

Calar em silêncio, esconder-se em surdina, ou permanecer cômoda e ociosamente sentado em frente a um computador no local de trabalho, não é digno de quem afirma lutar por um mundo melhor. A solidariedade e o apoio aos revolucionários colombianos, e apesar dos riscos que tal atitude comporta, por causa das perseguições arbitrárias movidas pelo regime narcoparamilitar orientado por Uribe, tem de afirmar-se de viva voz, como no tempo dos revolucionários vietnamitas e argelinos, por exemplo, e como se faz hoje em dia, com o povo palestino, vítima de alguns dos mais abomináveis crimes que é possível praticar, da parte do estado sionista de Israel.

Esta solidariedade também dever-se-á estender a todos aqueles que são perseguidos por denunciarem as violações dos direitos humanos cometidas pelo regime fascistóide colombiano e todos os que defendem os revolucionários, como sucede com os jornalistas Jorge Enrique Botero e Dick Emanuelsson, entre muitos outros e outras comunicadores coerentes com preocupações sociais.

Esse é o melhor tributo que se poderá prestar a Manuel, Raúl, Iván, Martín Caballero, Efraín Guzmán, mas também para todos os revolucionários que foram capturados e confinados a cárceres de prisões colombianas ou estadunidenses pelo simples delito de lutarem pela construção de uma Colômbia nova, como Sonia, Simón Trinidad ou Iván Vargas.

Bolívar vive! A luta prossegue!

Juramos vencer por isso venceremos!

* Jornalista equatoriano

Este texto foi publicado em http://www.lahaine.org/

Tradução de João Hinard de Pádua
Publicado em O Diário
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