Além do Cidadão Kane

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Serra e a morte de Deus

A afirmação sobre empregos não é piada, mas sim desespero de um candidato que, em face de uma conjuntura que lhe é totalmente adversa, tem que produzir discursos a todo e qualquer custo. Os números mostram que, quando Serra pôde mais, o trabalhador pôde menos.
Gilson Caroni Filho




José Serra precisa de ajuda. Não basta aquela que lhe é oferecida por uma mídia favorável. É necessário que alguém reavive seu senso de oportunidade. Um dos males que costumava atacar com muita frequência o brasileiro, principalmente aquele que vivia de salário (a maioria, portanto) consistia na tendência de ser enganado com facilidade. Faz cerca de oito anos que o PSDB deixou o governo e ainda não se deu conta de que a percepção da realidade mudou. Jogar palavras ao vento, como fez o pré-candidato tucano para uma platéia de militantes (?) do PPS, é um exercício arriscado, uma manifestação que mescla soberba e desespero em dosagem tão hilariante quanto assustadora. Mas nada disso nos permite duvidar de sua capacidade e argúcia analítica. Afinal, como diz o slogan de campanha dos tucanos: "o Brasil pode mais". Resta saber o quê. E para quem.

Ao afirmar, em uma tentativa de crítica à política econômica do governo Lula que "nós estamos voltando rapidamente a um modelo que não atende à demanda de emprego que o país possui", o ex-governador paulista aposta no total alheamento do eleitor brasileiro. Tamanha credulidade espanta, tendo em vista que o mundo do trabalho - a principal vítima do modelo neoliberal orquestrado pelo tucanato - aprendeu direitinho, na própria pele, o que significou o mercado desregulado como chave para o crescimento econômico e as virtudes do “Estado musculoso", elementos centrais no discurso serrista.

A afirmação sobre empregos não é piada, nem brincadeira de um notívago diletante, mas desespero de um candidato que, em face de uma conjuntura que lhe é totalmente adversa, tem que produzir discursos a todo e qualquer custo. E de Serra, pode-se afirmar várias coisas, menos a de não ser um ator político que sabe o que faz. Sua eventual perdição, entretanto, antes de ser festejada pelas forças progressistas, deve causar desconfiança e vigilância redobrada. Pois é inevitável que os ânimos se acirrem em seus dois principais pólos de apoio: a mídia corporativa e o Poder Judiciário.

Mas a comparação suscitada por suas declarações é inevitável. Segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), o número de vagas criadas no mercado de trabalho bateu recorde no primeiro trimestre de 2010, com um saldo acumulado até março somando 657.259 empregos. Convém retornar no tempo e observar como se comportava a economia brasileira quando o pré-candidato tucano era ministro do Planejamento e Orçamento do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso.

O desemprego na indústria atingia 5,7% em 1997 em relação a 1996, resultado fortemente influenciado pela taxa de dezembro, quando a queda foi de 2,6% em relação a novembro, a pior desde dezembro de 1990, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para se ter uma idéia do tamanho da retração nos empregos, os dados do instituto mostravam uma queda anualizada de 7,3%. Quando Serra pôde mais, o trabalhador pôde menos.

Até então, o governo FHC registrava um desemprego industrial de 19,77%. Mas o “Brasil que não podia mais", aquele que os colunistas econômicos tanto enaltecem, vivia um amargo processo de ajuste, acentuado em 1996, com a atividade econômica represada e a queda no emprego apresentando taxas expressivas. Ao contrário do que afirma Serra foi sob a batuta tucana que “o Brasil adotou uma política econômica desastrosa."

Mas o discurso do tucano foi além, mirando também o campo da ética, com críticas a supostas práticas de corrupção no governo petista. Como fazem as vestais tucanas, destampou um poço de demônios para sentenciar: "se aquele que era o guardião da moral, da ética, do antipatrimonialismo toma outro rumo, o rumo oposto, para muita gente Deus morreu". Que metafísica, o ex-governador paulista quer superar com essa alusão a Nietzsche?

Decerto não deve ser a do governo ao qual serviu em dois ministérios. Fernando Henrique não teve escrúpulos de usar métodos condenáveis para evitar investigação da banda podre da administração federal. A retirada de assinaturas para esvaziar a criação da CPI da Corrupção, em 2001, é um belo exemplo. O arrastão de favores para livrar o governo de qualquer constrangimento ficou como um dos mais baixos momentos de um presidente eleito e reeleito pela ansiedade ética na vida brasileira.

Fernando Henrique liberou por bravata os parlamentares de sua base política para subscrever a CPI e, na hora H, liberou verbas estocadas e fez nomeações para cargos públicos. Junto com ACM e José Roberto Arruda, FHC afrontou o sentimento ético da cidadania falando em “linchamento precipitado" quando sua posição anterior incentivava a punição exemplar e imediata. E onde estava José Serra em meio a tudo isso? No Ministério da Saúde, definindo a criação da CPI como uma “brincadeira"," pretexto eleitoral", " instrumento para prejudicar a governabilidade.”

Em sua campanha, o tucano terá que se confrontar com questões sobre ética e economia. Mas com muita cautela, evitando o reaparecimento de fantasmas incômodos. Eles podem dizer que foi naquela época, e não hoje, que “para muita gente Deus morreu". Um deus imanente, amoral e, tal como os dirigentes aboletados no Estado, servil ao mercado que o pagou.
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Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil

Original em Carta Maior
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quarta-feira, 26 de maio de 2010

A guerra de sempre

Mauricio Dias

Nestas horas o partido da mídia brasileira torna-se exército contra Dilma, como foi contra Lula.Não há nessa afirmação nenhuma surpresa. Foi assim nas cinco eleições diretas anteriores, após o ciclo militar, marcadas por uma constante: a presença do PT na disputa com um candidato competitivo.

Esse é o fator que tem desequilibrado o jornalismo brasileiro no momento do mais importante ritual das democracias políticas.

Recentemente, o deputado Cândido Vaccarezza, líder do governo na Câmara, propôs, esperançoso, a criação de um “conselho de autorregulamentação”, com o objetivo de obter “um equilíbrio no comportamento da mídia”.

“Isso impede a partidarização ou cobertura dirigida, principalmente quando o processo eleitoral é polarizado”, observou o parlamentar.

Não há conselho igual a esse em lugar nenhum do mundo. É verdade. Mas, também, em lugar nenhum do mundo vinga uma mídia – jornal, revista, radio e televisão – dirigida por uma única orientação: o candidato do PT não pode vencer.

Não se trata aqui de contestar posições políticas mais ou menos conservadoras de todos os grandes veículos de comunicação. Mas, sim, de lamentar a inexistência de pluralismo de informação, da diversidade de opinião que permita ao leitor julgar, avaliar e decidir.

Seria possível repetir o que Annita Dunn, diretora de Comunicações da Casa Branca, disse sobre a Fox News: “Ela opera praticamente (…) como o setor de comunicações do Partido Republicano”.

A senhora Dunn chora de barriga cheia. Lá, bem ou mal, existe diversidade. Por aqui a imprensa brasileira, como admitiu Judith Brito, presidente do Conselho Nacional de Jornais (CNJ), está “tomando de fato a posição oposicionista, já que a oposição está profundamente fragilizada”.

Essa afirmação leva água para o moinho daqueles que, crentes no discurso da isenção e da imparcialidade, chegam à beira de um compreensível desespero e a um passo de injustificáveis reações autoritárias. A proposta de monitoramento da imprensa é uma delas.

“Há certa resistência, da parte dos jornalistas, em admitir a legitimidade da análise de mídia. Ainda são poucos os observatórios e analistas, e os próprios meios dedicam pouco espaço ao tema, as exceções confirmando a regra pelo barulho que provocam – como foi o caso da reportagem de CartaCapital sobre o episódio da divulgação das fotos do dinheiro apreendido pela Polícia Federal, em 17 de outubro.” Essa é a constatação do estudo sobre a imprensa nas eleições de 2006, feito pelo Instituto Doxa, do Iuperj, sob orientação do cientista político Marcus Figueiredo.

Naquele ano, em busca da reeleição, Lula enfrentou um problema que Figueiredo aponta com coragem e clareza: “Os grandes jornais de circulação nacional, no Brasil, adotam um híbrido entre os dois modelos de pluralismo: formalmente, no discurso ético de autoqualificação diante dos leitores, procuram associar-se aos conceitos e rituais de objetividade do jornalismo americano, como é possível constatar nos slogans, diretrizes oficiais, manuais de redação, cursos de jornalismo. No entanto, na produção do impresso diário, o que vimos são diferenças no tratamento conferido aos candidatos, de amplificação de certos temas negativamente associados a Lula, contraposto à benevolência no tratamento de temas espinhosos relacionados aos seus adversários”.

E tudo tende a se repetir, em versão piorada e ampliada, com Dilma Rousseff na medida em que a eleição de 2010 se avizinha.

Fonte: revista CartaCapital


Publicado em Fundação Maurício Grabois
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Biografia de José Serra

Guina

Segue abaixo uma verdadeira biografia de José Serra, onde pode-se analisar friamente, porque o mesmo não reúne condição alguma para suceder Lula.

Biografia completa de José Serra:

José Serra tem 68 anos é paulista, filho único de italianos. Seu pai era um bem sucedido comerciante no ramo de frutas. José Serra foi criado em uma ampla e confortável casa na Mooca, São Paulo.

Quando Serra tinha 11 anos, sua família mudou para uma luxuosa casa em São Paulo na Rua Antônio de Gouveia Giudice, no bairro nobre de Alto Pinheiros.

Imóvel não era problema para a rica família Serra, que passava férias no Rio. Um dos espaçosos apartamentos foi cedido para Serra utilizar, exclusivamente, como esconderijo seguro para os grupo terrorista Ação Popular do qual foi um dos fundadores, que pouco tempo depois viriam a praticar atentados, roubar e seqüestrar.

Serra, neste período, ajudou a fundar a Ação Popular (grupo radical e adepto da luta armada que explodiu o aeroporto de Guararapes em 25/07/1966).

Quando presidente da UNE vivia encangado na barra da calça de Jango.

Aos 18 anos, Serra ingressou no curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, o qual nunca concluiu. Com o golpe militar de 1964, ele exilou-se na Bolívia, no Uruguai e, em seguida, no Chile, onde fez o “Curso de Economia” da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), de 1965 a 1966, especializando-se em planejamento industrial. Apenas 2 (dois) anos de curso! Quer dizer, não é um curso superior formal. Depois disso, fez mestrado em Economia pela Universidade do Chile (1968), da qual foi professor entre 1968 e 1973. Em 1974, fez Mestrado e Doutorado em Ciências Econômicas na Universidade Cornell, nos Estados Unidos, sem nunca ter concluído uma faculdade. Como foi possível isso? No Chile e nos EUA não é exigido curso superior para fazer pós-graduação, o que não é permitido aqui no Brasil. Além disso, os cursos de pós-graduação que Serra cursou na Cornell (com que dinheiro não sei, porque são caríssimos) não são “strictu senso“ mas “lato senso“ como os fornecidos pela rede privada aqui no Brasil. Em suma: não valem nada em termos acadêmicos. Serra permaneceu 13 anos longe do Brasil. Autoexilando-se (ou melhor, fugindo) no Chile, junto com FHC ao invés de lutar pelo povo contra a ditadura. Na volta ao Brasil, logo locupletou-se com as elites brasileiras.

Em 1978, Serra iniciou a sua carreira política, que este ano completa 32 anos. Teve sua candidatura a deputado impugnada, pois estava com os direitos políticos suspensos devido à explosão do aeroporto de Guararapes. Foi admitido como editorialista do jornal que também apoiou a ditadura (Folha de São Paulo).

Em 1983, Serra iniciou, efetivamente, a sua carreira como gestor, assumindo a Secretária de Economia e Planejamento do Estado de São Paulo, quando fez um péssimo trabalho. Braço direito do governador Montoro, não conseguiu sequer arrumar as finanças do Estado, sucateando ainda mais a Educação e a Saúde.

Em 1986, Serra foi eleito deputado constituinte, e teve um dos piores desempenhos, como pode-se conferir abaixo:

a) votou contra a redução da jornada de trabalho para 40 horas;

b) votou contra garantias ao trabalhador de estabilidade no emprego;

c) votou contra a implantação de Comissão de Fábrica nas indústrias;

d) votou contra o monopólio nacional da distribuição do petróleo;

e) negou seu voto pelo direito de greve;

f) negou seu voto pelo abono de férias de 1/3 do salário;

g) negou seu voto pelo aviso prévio porcional;

h) negou seu voto pela estabilidade do dirigente sindical;

i) negou seu voto para garantir 30 dias de aviso prévio;

j) negou seu voto pela garantia do salário mínimo real;

Fonte: DIAP — “Quem foi quem na Constituinte”;pág. 621.

Serra foi um dos fundadores do PSDB, em 1988. Foi derrotado por Luiz Erundina, (á época do PT), nas eleições para prefeito de São Paulo. Em 1990, foi reeleito deputado federal quando teve novamente péssimo mandato.

Em 1994, Serra foi um dos grandes apoiadores do Plano de Privatização de Fernando Henrique Cardoso, deixando um rastro de enormes prejuízos para o povo brasileiro:

· 166 empresas privatizadas entre 1990 e 1999;

· 546 mil postos de trabalho extintos diretamente;

· 17,1% dos 3,2 milhões de empregos formais perdidos na década.

(Fontes: Pochmann, Márcio. A década dos mitos. São Paulo, Editora Contexto, 2001. Biondi, Aloysio. O Brasil privatizado. São Paulo, Editora Perseu Abramo, 2001)

Depois foi eleito senador por São Paulo, em seguida, assumiu o Ministério do Planejamento, onde por pura incompetência deixou o país à mercê de um racionamento durante o famoso “apagão” no governo FHC que durou oito meses.

Em 1998, José Serra assumiu o Ministério da Saúde. Junto com FHC, zerou o investimento na área de saneamento, o que causou a propagação de várias doenças no país. Além disso, José Serra demitiu seis mil mata-mosquitos contratados para eliminar os focos do Aedes Aegypti. Dos R$ 81 milhões gastos em publicidade do seu ministério em 2001, apenas R$ 3 milhões foram utilizados em campanhas educativas de combate à doença. O resultado desta política criminosa se fez sentir no Rio de Janeiro que, entre janeiro e maio de 2002, registrou 207.521 casos da dengue e a morte de 63 pessoas.

Em 2002, Serra candidatou-se à Presidência, sendo derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno.

Em 2004, Serra elegeu-se Prefeito de São Paulo e prejudicou sua já arranhada imagem ao mentir para o povo de São Paulo quando no debate da Band, diante de Boris Casoy, afirmou que em caso de não cumprir a promessa, que seus eleitores nunca mais votassem nele. Disse ainda que “embora alguns candidatos adversários gostem de dizer que eu sairei candidato à presidência da República ou ao governo do estado, eu assumo esse compromisso, meu propósito, minha determinação é governar

São Paulo por quatro anos”. Deu sua palavra em rede nacional e depois voltou atrás, mentindo para o povo.

Em 2006, Serra elegeu-se Governador de São Paulo (confirmando que mentira mesmo ao povo), cargo que exerceu até o último dia 31 de março de 2010. O governo foi marcado pela tragédia no Metrô e o escândalo no Caso Alstom.

É o candidato natural da oposição à Presidência da República. Oposição esta composta pelo PSDB (partido à qual pertence o chefe do mensalão mineiro, Eduardo Azeredo e Yeda Crusius, governadora do RS, envolvida em um escândalo no Detran daquele estado). Ainda possui aliança com o DEM (partido do mensalão do DF no qual o ex-governador e principal operador do esquema, José Roberto Arruda, iria ser o candiato à vice de José Serra).

Como se vê, a biografia de José Serra nos revela como é perigoso para o povo brasileiro uma catastrófica vitória deste político "inventado" pela mídia nas próximas eleições. Sua candidatura representa a elite e possui o único intuito de deixar o povão cada vez mais distante das melhorias promovidas pelo governo Lula.

A biografia de José Serra revela ainda que, um homem aliançado com o DEM de José Roberto Arruda , ACM Neto e cia., e que anda de mãos dadas com políticos como FHC, Eduardo Azeredo e Yeda Crusius, não pode merecer qualquer crédito.

Original em Tribuna Petista

terça-feira, 25 de maio de 2010

Nas ruas de Atenas, continua a ira

Traduzido por J.A. Pina/Rosalvo Maciel

Os gregos continuam mostrando sua oposição ao plano de austeridade apesar das divisões da esquerda. As manifestações e comício se sucedem. Os chamamentos à unidade se multiplicam.

Junto à Avenida Stadiou, em Atenas, três aposentadas aplaudem, levantam o punho e saúdam a seus camaradas na onda de manifestantes que flui ainda, neste sábado, pelas ruas da capital grega. Ainda que não possam “desfilar devido a problemas nos joelhos”, seus rostos resplandecem ante a grandiosidade do movimento organizado pelo KKE, o Partido Comunista grego. As três Helenas permaneceram mais de uma hora e meia de pé, apoiando o cortejo desde o inicio até os últimos participantes vindos de quase todo o país. Elas se manifestam “contra a austeridade”. Kristina, nascida em 1945, é membro do KKE. “Tenho 575 euros de pensão por viuvez. Eles já me tiraram os 13º e 14º mês de pensão.” “Eles”, são o governo, a União Europeia e o FMI que impõe um plano drástico aos gregos, no qual as reduções de gastos públicos vão de mãos dadas com uma elevação do IVA e com reduções colossais nos salários e pensões. Com uma pitada irônica, Kristina prossegue : “Eles reduzem nossa parte para que os ricos não se empobreçam.” Sua amiga, Hindi Georgia, nascida em 1931, considera que recebe uma “boa pensão, 1.000 euros”. Ela sofrerá não só a suspensão de dois meses de salário, mas também a redução de sua pensão.

O movimento de oposição ao plano de austeridade imposto à Grécia continua. Em 12 de maio, convocados pelos sindicatos, vários milhares de manifestantes expressaram sua ira na capital e outras cidades saindo à rua. Dia 14, outros milhares de cidadãos assistiram a um comício organizado por Siriza (coalizão de esquerda radical cujo principal partido é o Synapismos). Jean Pierre Brard falou ali em nome do Grupo Comunista da Assembléia Nacional francesa ; o deputado europeu Joe Higgins representava os progressistas irlandeses ; a deputada europeia Marisa Matias se expressava em nome do Bloco de Esquerdas português. “O ataque especulativo a todos os países da zona do euro é muito grave, especialmente nos países mais fracos. Estes países estão, de fato, afogados por uma economia que não está destinada ao bem estar dos trabalhadores, dos cidadão, mas que joga a favor dos capitalistas”, expôs Matias. Os números lhe dão razão. Na Grécia, o desemprego não para de aumentar, até alcançar 12,1% em Fevereiro de 2010 (9,1% um ano antes, 10,2% em Dezembro de 2009). A inflação é galopante (+4,2% entre Fevereiro e Março).

A respeito dos bancos, apesar do “plano de apoio” UE-FMI, eles continuam seus ataques. Em seu discurso, Alexis Tsipras, no comando do Sinapismos, chama a fazer frente. Manolis Glezos, figura da resistência ao nazismo e à ditadura dos coronéis, denunciou o governo, em mãos do PASOK (social democrata), à UE e o FMI que “obrigam ao povo a pagar o que deveria pagar o capital”. Lançou uma chamada “à unidade para fazer frente à situação atual”. Fazer frente: é o mais urgente antes que as leis que destruirão a sociedade sejam aprovadas por decreto ou durante o recesso parlamentar.

Publicado em L'Humanité
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segunda-feira, 24 de maio de 2010

Em 10 anos EUA gastaram 2,3 bilhões com propaganda anti-Cuba

A Lei de Acesso à Informação desclassificou documentos que mostram que a USAID (Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional) modificou contratos e investiu mais de 2,3 bilhões de dólares para propaganda contra Cuba desde 1999.

Segundo os contratos da agência com a organização CubaNet – site com sede em Miami contra a Revolução Cubana e um dos parceiros da USAID – os Estados Unidos bancaram jornalistas na ilha para difundir informações distorcidas, divulgando até mesmo dados falsos com o objetivo de convencer a opinião pública internacional contra o governo cubano.

Desde a Revolução Cubana, os EUA promovem uma campanha de agressão contra a ilha caribenha. Nos últimos anos, porém, as ações foram intensificadas com o aumento de investimentos de 98 mil dólares, em 1999, para 20 milhões de dólares previstos para 2010.

O CubaNet, um dos principais parceiros da agência norte-americana, surgiu em 1994, e desde então faz da internet um novo campo de bombardeio a Cuba. Em parceria com a NED (sigla em inglês para Fundação Nacional para a Democracia), organização privada que se diz a serviço da democracia nas Américas, o USAID financia declaradamente o CubaNet alegando “apoiar um programa para expansão de um site de jornalistas independentes em Cuba”, segundo o contrato.

Além disso, os documentos prevêem o controle da USAID sobre as contratações de funcionários, sobre o plano de trabalho e exige um relatório trimestral de progresso e atividades realizadas, o que explicita a intervenção direta da agência norte-americana sobre o site que, em sua própria página, se diz uma “organização apartidária, dedicada a promover a imprensa livre em Cuba, impulsionar o setor independente a desenvolver uma sociedade civil e informar ao mundo a realidade do país”.

Tais ações vão contra a própria lei norte-americana que apresenta restrições no envio de dólares para Cuba, proíbe a divulgação de propagandas financiadas pelo governo e a utilização destas informações nos meios de comunicação do país.

Em um documento datado de 19 de abril de 2005, fica explícito que o site não limita seu trabalho ao território cubano: “o CubaNet continua publicando reportagens e promovendo sua disseminação nos meios de comunicação de massa nos EUA e na imprensa internacional”, diz um dos relatórios.

O mesmo arquivo mostra que foi autorizado o envio de “fundos privados” que não pertenciam a USAID para a ilha naquele ano. Diante da restrição do Departamento do Tesouro de Washington, o documento afirma que os “fundos privados” foram escondidos dentro da autorização concedida a agência estadunidense para financiar o site.

Fonte: Opera Mundi

Publicado em Pátria Latina
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Brasil está em todas as frentes, diz Le Monde

Osvaldo Bertolino

Editorial e reportagem do jornal francês Le Monde elogiam Lula, Celso Amorim e o desempenho da economia brasileira.

O vespertino francês Le Monde traz em sua edição desta segunda-feira, um grande editorial na capa sobre o papel de destaque alcançado pela diplomacia brasileira durante o governo Lula. Em tom elogioso, o jornal diz que a atuação do ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, é brilhante. E, nas páginas internas, o crescimento excepcional do PIB brasileiro atrai a curiosidade do jornal. Segundo previsão divulgada hoje pelo Banco Central do Brasil, a economia deve crescer 6,46% neste ano.

O editorial do jornal Le Monde não poupa elogios à economia brasileira e ao papel do Brasil na cena internacional. O vespertino lembra os pronunciamentos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva diante da crise grega e suas iniciativas de mediação no conflito israelo-palestino, além do recente acordo conseguido junto com a Turquia no complicado dossiê nuclear iraniano. Fatos importantes que vão bem além do talento dos brasileiros no futebol, ironiza Le Monde.

Um dinamismo no cenário internacional encabeçado de forma brilhante pelo ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, relata o jornal. O vespertino lembra que durante muito tempo o Brasil negociou timidamente suas questões econômicas com a OMC, mas que a situação mudou. Agora Amorim é um dos principais atores na busca de uma conclusão do empacado Ciclo de Doha sobre a liberalização do comércio mundial.

Já em suas páginas internas, Le Monde elogia a economia brasileira. O vespertino relata que apenas no primeiro trimestre desse ano o Produto Interno Bruto do país cresceu 9.84% e que quase um milhão de empregos foram criados no Brasil nesse período. Resultados de uma economia aquecida pelo consumo interno, impulsionado pelos 25 milhões de brasileiros que integraram a classe média na ultima década.

Le Monde alerta, no entanto, para um risco superaquecimento da economia brasileira. O jornal explica que o grande desafio para o país agora é controlar a sua inflação, a pior inimiga dos pobres, escreve o jornal francês, citando Lula.

O jornal francês lembra, ainda citando o presidente brasileiro, que o século 21 será o século dos países que não tiveram suas oportunidades. E diz ainda que já Lula, que se considera ainda na metade de sua carreira política, ele poderá muito bem apresentar sua candidatura para o cargo de secretário-geral das Nações Unidas, em 2012.

Original em O Outro Lado da Notícia
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domingo, 23 de maio de 2010

A estupenda contribuição de Serra à criação do Bolsa Família no Brasil

Algo irritado, Serra, durante o encontro de prefeitos na quarta-feira, respondendo se iria acabar com o Bolsa Família, disse que “o Bolsa Família absorveu programas que eu mesmo criei, como foi o caso da Bolsa Alimentação, do Ministério da Saúde. Eu vou fortalecer o Bolsa Família”.

O Bolsa Família é o principal programa do Fome Zero. Seu objetivo, como anunciou o presidente Lula no mesmo dia em que foi eleito pela primeira vez, é fazer com que todos os brasileiros “comam pelo menos três vezes por dia”. Quem já esteve na miséria sabe o que significa isso – e quem não esteve, mas não é um embotado estúpido, é capaz perfeitamente de perceber.

Até então, a política era aquela verbalizada por Fernando Henrique: “não adianta dar o peixe”. A coordenadora dos “programas sociais” daquele governo, do qual Serra era ministro - uma certa Wanda Engel - disse, literalmente, que não havia fome no Brasil. E, assim, milhões de brasileiros, de seres humanos, vegetaram com estômagos vazios durante oito anos - e muitos morreram, sobretudo crianças.

O Bolsa Alimentação, segundo sua diretora, Denise Coitinho, grande defensora de Serra, era um programa específico para gestantes, mães que amamentavam e crianças até seis anos, onde se previa uma ajuda durante seis meses, com direito à prorrogação por mais seis meses. Somente foi lançado no final de 2001 – portanto, durou pouco mais de um ano (V. o artigo de Coitinho, “O Fome Zero e a Bolsa Alimentação”, Jornal da Unicamp, dez./2002).

Um especialista respeitável, José Graziano, que esboçou o Fome Zero, descreveu, em 2002, o Bolsa Alimentação: “... foi um programa criado pelo ministro José Serra com forte característica eleitoral. (…) foi uma resposta ao lançamento do Fome Zero, que nós fizemos em outubro do ano passado [2001]. Eles se deram conta de que não tinham um programa especificamente destinado a aumentar o consumo de alimentos e então saíram correndo com esse Bolsa Alimentação (…) destinado a gestantes e mães com crianças até dois anos de idade. É um público muito restrito” (entrevista ao Jornal da Unicamp, nov./2002).

Em poucas palavras: depois de se apresentar como inventor dos genéricos, sem o ser, Serra se apresenta agora como pai, ou pelo menos precursor, do Bolsa Família, que tem uma única relação com o seu programa: a de tê-lo substituído.

Algum tempo antes, diante da pergunta: “você vai acabar com o Bolsa Família, não?”, feita pelo apresentador José Luiz Datena, Serra começou o seu desmentido com a frase “eu não sou trouxa”. Foi inevitável que as pessoas interpretassem a resposta como se ele tivesse dito “eu não sou trouxa de dizer que vou acabar com o Bolsa Família”, embora ele não tivesse falado isso.

O interessante é que quanto mais Serra nega que vá acabar com o Bolsa Família, mais as pessoas acham que é isso mesmo o que ele faria se fosse eleito. Até o Datena...

Pois, afinal, os seus correligionários – aqueles que negavam a existência da fome - cansaram-se de chamar o Bolsa Família de “bolsa-esmola”. Um notório coça-saco do Serra, o Reinaldo Cabeção, chama até hoje assim o Bolsa Família. Da mesma forma, aquela meretriz da CIA, agora escondida no último refúgio dos canalhas, isto é, na “Veja”, que o Tanure enxotou do JB, parece que por excesso de serrismo.

Houve até um artigo no “O Globo” intitulado: “Bolsa-esmola: a receita de como gerar uma legião de vagabundos”, onde aparecia um latifundiário declarando que, com o Bolsa Família, “os operários não querem mais trabalhar”. Segundo o artigo, o Brasil estava diante de uma crise de mão de obra, inclusive na construção civil, pois o pessoal preferia ficar no Bolsa Família do que pegar no batente...

Mas, talvez, menos convincente ainda do que ter essa tralha por correligionários, seja o próprio Serra garantindo que vai continuar e até ampliar, ou reforçar, os programas sociais do governo Lula. Se é assim, por que ele não deixa de ser candidato e vota na Dilma?

C.L.

Original em Hora do Povo
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sexta-feira, 21 de maio de 2010

Agronegócio, o velho latifúndio maquiado

Marcos A. Pedlowski


Universidade Estadual do Norte Fluminense

Volta e meia somos inundados por estatísticas destinadas a demonstrar que a agricultura brasileira passou por uma grande modernização e que, hoje, graças ao dinamismo dos grandes proprietários rurais, não precisamos mais nos preocupar com os efeitos danosos da persistência de altos padrões de concentração da terra.

Esta falácia é útil para muitas coisas, desde impedir a realização da reforma agrária até tornar o Brasil uma presa das grandes corporações multinacionais que aqui se refestelam, tanto vendendo substâncias banidas internacionalmente quanto disseminando sementes geneticamente modificadas para resistir a grandes cargas de agrotóxicos, cuja utilização compromete a nossa soberania e segurança alimentar.

E, nos casos em que as práticas agrícolas dos latifundiários aceleram a degradação ambiental, os seus representantes ainda aparecem exigindo dinheiro público para remediar os efeitos de suas práticas agrícolas, como no caso da dragagem de canais no município de Campos dos Goytacazes.

Há que se dizer que a aura de perfeição que cerca o chamado agronegócio é produto de uma longa campanha ideológica cujo ápice ocorreu durante os anos do governo FHC, onde não apenas o termo foi cunhado para apagar da memória nacional a existência do latifúndio, mas também uma imensa perseguição aos defensores da realização da ampla reforma agrária no Brasil.

Durante os anos FHC, a agricultura familiar foi estigmatizada ao ser transformada em sinônimo de atraso, enquanto que o latifúndio, rebatizado de agronegócio, era cinicamente elevado à condição de moderno e eficiente. Com a eleição de Lula, a expectativa era de que houvesse uma reviravolta e que tanto a agricultura familiar fosse devidamente valorizada como a reforma agrária saísse do plano do discurso para se tornar uma política de Estado.

Infelizmente, não foi isto o que aconteceu porque Lula e o PT preferiram se aliar ao latifúndio, colocando inclusive dois diletos representantes deste setor para dirigir o Ministério da Agricultura (Roberto Rodrigues e Reinhold Stephanes) que continuou sendo turbinado com orçamentos gigantescos, enquanto o Ministério do Desenvolvimento Agrário tornou-se algo mais midiático do que efetivo.

Aliás, como em governos anteriores, o atual governo utilizou a regularização da posse da terra para demonstrar que estava efetivamente realizando uma política de reforma agrária. Entretanto, a simples análise da localização dos supostos assentamentos criados pelo governo Lula mostra que o grosso dos títulos de posse concedidos está na Amazônia legal.

Essa velha tática de mascarar inoperância com números mal explicados também ocorre no financiamento da produção e na rolagem da dívida dos produtores rurais. A mídia insiste em apresentar a tese de que o latifúndio passou por um processo de modernização de tal ordem que hoje não necessita mais de ser financiado pelo Estado para poder se manter.

É através desta imagem que se tem, convenhamos com bastante eficiência, conseguido vender a noção de que o Brasil hoje possui um pujante setor agrícola que pode competir internacionalmente em pé de igualdade com os países desenvolvidos.

No entanto, uma simples verificação do montante de recursos que é concedido na forma de financiamentos para a produção mostrará que os grandes proprietários rurais continuam (me perdoem a liberdade poética) mamando nos cofres do Estado brasileiro, recebendo grandes quantidades de recursos e, ainda por cima, se beneficiando de generosos períodos de rolagem para suas dívidas milionárias.

O fato é que dos R$ 120 bilhões que o governo Lula pretende investir em crédito para o Plano Agrícola e Pecuário para a safra de 2010/2011, R$ 100 bilhões deverão ser entregues aos grandes proprietários.

Enquanto isto a agricultura familiar, além de receber um montante bastante inferior, também não recebe os prazos elásticos que são concedidos para o latifúndio. E o pior é que os empréstimos tomados em linhas de crédito pelos agricultores familiares possuem custos relativamente mais altos.

Uma das conseqüências deste tratamento tão diferenciado é, pasmem, o avanço e não o recuo do latifúndio em termos da quantidade de terra que este setor controla.

Entre os efeitos desta equação desbalanceada entre latifúndio e agricultura familiar está o aumento do êxodo rural (que aumenta o exército de mão-de-obra de reserva que vive em condições precárias nas periferias urbanas brasileiras) e o recuo na quantidade de alimentos que é produzida internamente.

Se nos concentrarmos apenas nos problemas que o Brasil já encontra devido à redução da área produzindo alimentos veremos que estamos caminhando para um grande paradoxo.

Enquanto a maioria das mais férteis terras brasileiras está sendo usada para o cultivo de monoculturas voltadas para a exportação, corremos o risco de nos tornarmos importadores de itens básicos de nossa dieta como feijão e arroz e sofrermos cada vez mais com a falta de água.

Digo isto porque, ao exportar soja, álcool, açúcar e papel, o principal custo de produção embutido é o da água, visto que todas estas monoculturas são fortes consumidoras de recursos hídricos.

Para finalizar, é sempre bom lembrar que o trabalho escravo só sobrevive graças à existência do latifúndio, visto que é nas grandes propriedades ocupadas pelas diferentes monoculturas o lugar onde esta excrescência social se mantém firme e forte. E tudo isto com um generoso financiamento público! Por essas e outras é que se pode dizer em alto e bom tom: de moderno o latifúndio não tem nada!

Original em MST
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Alguns recados do Irã: a paz invadiu o meu coração

Beto Almeida

Após o anúncio do acordo construído entre Brasil, Irã e Turquia para evitar que a nação persa sofra novas sanções ou que tenha que renunciar ao seu direito de desenvolver a tecnologia nuclear para fins pacíficos, já se nota em certos segmentos políticos e midiáticos brasileiros uma tentativa de desmerecer a importância da iniciativa do presidente Lula que conseguiu apoio também da Rússia e da China.

Por isso mesmo vale colocar em realce - como já tem feito a imprensa internacional - os desdobramentos políticos que o Acordo Nuclear Brasil-Irã-Turquia poderá promover. A viagem de Lula à Teerã foi cercada de imenso ceticismo, silencioso ou declarado, como o da Secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton que disse que o presidente brasileiro iria ter que enfrentar uma montanha de problemas, desacreditando do êxito de sua empreitada. É como se não soubesse que Lula, desde que nasceu, enfrentou os mais montanhosos e espinhosos problemas que seres humanos pobres, nascidos no Nordeste, foram obrigados a enfrentar, a começar por vencer a pena de morte a céu aberto que executava crianças nordestinas pela fome dia-a-dia, fenômeno político denunciado com franqueza e precisão por outro nordestino mundialmente respeitado, Josué de Castr o. Na mesma linha, o chanceler francês - que não acredita que o fim da tarde é lilás - chegou a afirmar de modo deselegante e desrespeitoso, que Lula seria embromado pelos iranianos, sendo obrigado a corrigir-se e a desculpar-se por orientação do presidente Sarkozy, este talvez mais pragmático e interessado na bilionária venda dos aviões Rafale para o Brasil.

O acordo é uma lição para muita gente. Não seria petulante afirmar que o episódio constitui grande recado para o presidente dos EUA, Barack Obama. Afinal, não deveria ser dele, Prêmio Nobel da Paz, a iniciativa principal de promover o diálogo, insistir em saídas pacíficas, apostar em soluções cooperativas, ao invés de falar precipitadamente na lógica das sanções que, obviamente, são muito interessantes para as encomendas da indústria bélica? Talvez por ser prisioneiro do Complexo-Militar-Industrial, denunciado por um ex-presidente dos EUA, Obama ainda não demonstrou claramente estar o Prêmio nas mãos mais adequadas....

O acordo firmado entre Lula, Ahmadinejad e o chanceler turco Ebergan manda recados também para o Conselho de Segurança da ONU, que, antes mesmo de explorar as possibilidades de uma saída pelo diálogo e que não implicasse no veto aos países que - como o Irã e o Brasil, entre outros - estão desenvolvendo tecnologias nucleares para finalidades pacíficas, deu péssimo exemplo de intolerância e prepotência ao mundo. O Conselho só tem falado em sanções, em ameaças, sem sequer referir-se ao fato que a via das sanções aplicadas por ele até hoje tem resultado, fundamentalmente, em castigos militares de gigantescos sofrimentos, perdas de vidas, destruição e rigorosamente nenhuma solução, como se observa no Afeganistão e no Iraque.

Embora o impacto internacional positivo seja inegável, o acordo traz ingredientes novos para o debate político brasileiro já que o candidato oposicionista, José Serra, manifestou-se de maneira negativa à viagem de Lula ao Irã, afirmando que nem iria lá, nem convidaria o presidente iraniano a vir ao Brasil. Se o objetivo é buscar soluções negociadas, por meio de conversações complexas e delicadas, como podem Obama, o chanceler francês, o Conselho da ONU e José Serra não privilegiarem o diálogo direto com a parte envolvida, o Irã, para se alcançar a paz? Sintonia entre tucanos e falcões....

Para a mídia sobram muitas lições, sobretudo para grande parte da mídia brasileira que, desde o anúncio da viagem de mandatário brasileiro à antiga Pérsia encontrou inúmeras qualificações negativas e pessimistas para a iniciativa, algumas de escassa qualificação, como aquelas que davam a entender que o “Lula não se enxerga”, ou que “isto é apenas uma bravata”. Ou, então, que seria pretensioso acreditar que o Brasil poderia ter alguma importância na solução de um problema de tão grande porte e tão distante. Uma por uma estas conceituações midiáticas, provavelmente eivadas de uma certa dose de preconceito, foram, pouco a pouco, desmanchando-se no ar. Agora, até mesmo os mais pessimistas admitem que o acordo reveste-se de importância altamente relevante e que é uma vitória de Lula e da política externa brasileira independente e soberana. O mundo inteiro está discutindo o gesto brasileiro e rejeitá-lo será altamente desgastante para eles, sobretudo para o Prêmio Nobel da Paz.

O curioso é que esta mesma mídia reconhece e destaca o protagonismo de outro brasileiro, Oswaldo Aranha, quando das gestões feitas para a criação de Israel, há décadas. Mas, agora, quando Lula insiste em ter voz ativa, convocando ou até mesmo desafiando as grandes potências a empenharem-se na via pacífica seja para o Irã, para o Iraque, como também, por desdobramento, para a Questão Palestina, nenhum reconhecimento. O difícil mesmo é acreditar que tanto o Prêmio Nobel da Paz, como os demais dirigentes dos países ricos, tenham coragem em apostar em caminhos que contrariem a indústria bélica. Coragem, que Lula, em sua dialética de retirante, tem demonstrado ter de sobra.
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Beto Almeida é jornalista e membro da Junta Diretiva da Telesur
 
Original em Caros Amigos
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terça-feira, 18 de maio de 2010

Lula recebe prêmio Nova Economia Fórum nesta terça em Madri

Destaque é um reconhecimento ao desenvolvimento econômico e à coesão social


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se mostrou hoje emocionado ao receber, em Madri, o prêmio Nova Economia Fórum 2010, em reconhecimento ao desenvolvimento econômico e à coesão social, e aproveitou a ocasião para mencionar sua relação com a Espanha e reconhecer seus especiais laços com a Argentina.

Na entrega do prêmio, a presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner; a vice-presidente primeira do Governo espanhol, María Teresa Fernández de la Vega; e o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, prestaram homenagens a Lula.
Em seu discurso, Lula defendeu o diálogo e afirmou que, "conversando, as pessoas se entendem, por isso fui ao Irã" em busca do acordo com Teerã sobre seu programa nuclear.
Sobre a crise financeira, Lula disse que "muitos estão pagando os excessos de poucos" e defendeu a reforma do sistema financeiro internacional e a redução das desigualdades.
Lula lembrou que na década de 80 teve um encontro "curto, mas importante" com o então presidente do Governo Adolfo Suárez, "não um homem de esquerda, mas certamente um democrata", segundo ele.
Também agradeceu ao presidente do Governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero.

Sobre os elogios da presidente argentina, pelos quais disse sentir-se "comovido", Lula destacou a boa harmonia construída entre os dois países desde o Governo de Nestor Kirchner, mas ressaltou, brincalhão, "uma pequena divergência no futebol".
Cristina disse que "deve ser a primeira vez que uma presidente argentina participa de uma homenagem a um presidente do Brasil", em alusão a tempos de rivalidade e tensas relações entre os dois países.
O presidente da Comissão Europeia qualificou Lula como "um grande homem de Estado, cujo país está influenciando nos eventos globais" graças a sua personalidade e trabalho.
EFE

Publicado em Zero Hora
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domingo, 16 de maio de 2010

A odiosa tirania imposta ao mundo

Fidel Castro

Tradução Rosalvo Maciel

Nossa época se caracteriza por um fato que não tem precedentes: a ameaça à sobrevivência da espécie humana imposta pelo imperialismo ao mundo.

A dolorosa realidade não deveria surpreender a ninguém. Via-se aproximando a passos acelerados nas últimas décadas, a um ritmo difícil de imaginar.

Significa isto que Obama é responsável ou promotor dessa ameaça? Não! Demonstra simplesmente que ignora a realidade e não quer nem pode superá-la. Ou melhor, sonha coisas irreais em um mundo irreal. “Idéias sem palavras, palavras sem sentido”, como expressou um brilhante poeta.

Ainda que o escritor norte-americano Gay Talese, considerado um dos principais representantes do novo jornalismo, tenha afirmado em 5 de maio - segundo informa uma agência de notícias européia - que Barack Obama encarnava a melhor historia dos Estados Unidos no último século, o que pode compartilhar-se em alguns aspectos, em nada altera a realidade objetiva do destino humano.

Ocorrem fatos como o desastre ecológico que acaba de produzir-se no Golfo do México, que demonstram quão pouco podem os governos contra os que controlam o capital, que tanto nos Estados Unidos como na Europa são, através da economia em nosso planeta globalizado, os que decidem o destino dos povos. Tomemos como exemplo as medidas que partem do próprio Congresso dos Estados Unidos, publicadas pelos meios de imprensa mais influentes desse país e da Europa, tal como têm sido divulgadas na Internet, sem alterar uma palavra.

“Rádio e TV Martí mentem ao difundir informações sem fundamento, reconhece um informe da Comissão de Relações Exteriores do Senado norte-americano que recomenda que ambas as estações sejam retiradas definitivamente de Miami e relocalizadas em Washington para integrar-se ‘plenamente’ ao aparato propagandístico da Voz de América.

“Além de enganar a seu público” [...] “ambas as emissoras usam ‘uma linguajem ofensiva e incendiaria’ que as desqualificam.

“Após 18 anos a Rádio e TV Martí falam ‘em penetrar de maneira explícita na sociedade cubana ou influenciar ao governo cubano’…”

“O informe divulgado nesta segunda-feira recomenda unificar o Escritório de Transmissões para Cuba (OCB) - por sua sigla em inglês - com a Voz da América, a rádio oficial de propaganda do governo dos Estados Unidos.

“‘Problemas com o respeito às normas jornalísticas tradicionais, uma audiência minúscula, interferências radiofônicas pelo Governo cubano, e alegações de nepotismo e empreguismo têm afetado o programa desde o principio’, reconhece a Comissão presidida pelo Senador democrata John Kerry.”

“O comitê recomenda retirar urgentemente as duas estações de Miami sublinhando a necessidade de contratar de maneira mais equilibrada o pessoal para alcançar um ‘produto’ despolitizado e profissional, avaliam os senadores.

“O informe Kerry faz referencia a Alberto Mascaró, o sobrinho da esposa de Pedro Roig, Diretor Geral da Rádio e TV Martí, que foi contratado - graças a seu parente - como diretor do serviço latino-americano da Voz da América.

“O documento relata detalhadamente como, em fevereiro de 2007, o ex-diretor da programação da TV Martí, ‘conjuntamente com um parente de um membro do Congresso’ confessaram sua culpabilidade em uma corte federal por haver recebido cerca de 112.000 dólares em comissões ilegais de parte de um contratado da OCB. O ex-empregado da OCB foi sentenciado a 27 meses de cadeia e a pagar uma multa de 5.000 dólares por haver embolsado ‘50 por cento de todo o dinheiro pago pela TV Martí para a produção de programas pela firma Perfect Image’.”

Até aquí o artigo de Jean Guy Allard publicado no sitio web da Telesur.

Outro artigo, dos professores norte-americanos Paul Drain e Michele Barry, da Universidade de Stanford (Califórnia), republicado no sitio da Internet Rebelión, informa:

“O bloqueio comercial norte-americano contra Cuba, promulgado depois de a revolução de Fidel Castro derrubar ao regime de Batista, alcança seus 50 anos em 2010. Seu objetivo explícito consistiu em ajudar ao povo cubano a alcançar a democracia, mas um informe de 2009 do Senado dos Estados Unidos concluiu que ‘o bloqueio unilateral contra Cuba fracassou’.”

“… Apesar do bloqueio, Cuba tem obtido melhores resultados em saúde do que a maior parte dos países latino-americanos, comparáveis aos da maioria dos países desenvolvidos. Cuba tem a expectativa média de vida mais alta (78,6 anos) e a maior densidade de médicos per capita, 59 médicos por 10.000 habitantes, assim como as taxas mais baixas de mortalidade em menores de um ano (5,0 por cada 1.000 crianças nascidas vivas), e de mortalidade infantil (7,0 por cada 1.000 crianças nascidas vivas) entre os 33 países latino-americanos e do Caribe.

“Em 2006, o governo cubano destinou 355 dólares per capita para a saúde” [...] “O custo sanitário anual destinado a um cidadão dos Estados Unidos foi, nesse mesmo ano de 6.714 dólares [...] Cuba também destinou menos fundos para a saúde que a maioria dos países europeus. Mas os baixos custos em cuidados sanitários não explicam os êxitos de Cuba, que poderia atribuir-se à maior ênfase na prevenção da enfermidade e nos cuidados sanitários primários que a ilha tem aplicado durante o bloqueio comercial norte-americano.

“Cuba possui um dos sistemas de saúde primaria preventiva mais avançados do mundo. Mediante a educação de sua população na prevenção da enfermidade e na promoção da saúde, os cubanos dependem menos dos produtos médicos para manter saudável sua população. O contrario sucede nos Estados Unidos, que depende enormemente de produtos médicos e tecnologias para manter saudável sua população, mas a um custo econômico muito elevado.”

“Cuba tem as taxas mais altas do mundo de vacinação e de partos atendidos por especialistas. Os cuidados assistenciais dispensados nos consultórios, nas policlínicas e nos maiores hospitais regionais e nacionais são gratuitos para os pacientes…”

“Em março de 2010, o Congresso dos Estados Unidos apresentou um projeto de lei para fortalecer os sistemas de saúde e ampliar o envio de trabalhadores sanitários especialistas a países em vias de desenvolvimento” [...] “Cuba também segue enviando médicos para trabalhar em alguns dos países mais pobres do planeta, uma prática que se iniciou em 1961.”

“Na frente interna, dado o recente impulso em apoio a uma reforma sanitária, existem oportunidades para aprender de Cuba válidas lições sobre como desenvolver um sistema sanitário verdadeiramente universal, que ponha ênfase nos cuidados primários. A adoção de algumas das políticas sanitárias mais exitosas de Cuba poderia ser o primeiro passo até uma normalização das relações. O Congresso poderia encarregar ao Instituto de Medicina que estudasse os êxitos do sistema sanitário cubano e como iniciar uma nova era de cooperação entre os cientistas norte-americanos e cubanos.”

Por sua parte, o portal de noticias Tribuna Latina publicou recentemente um artigo sobre a nova Lei de Imigração no Arizona:

“Segundo uma sondagem que publica a cadeia CBS e o diário ‘The New York Times’, 51 por cento considera que a lei é o enfoque adequado em relação à imigração enquanto que 9 por cento considera que se deveria ir ainda mais longe nesta matéria. Frente a eles, 36 por cento considera que no Arizona se tem ido ‘demasiado longe’.”

“… dois de cada três republicanos respaldam a medida” [...] “enquanto que só 38 por cento dos democratas se mostram a favor da lei…”

“Por outra parte, um de cada dois reconhece que é ‘muito provável’ que como conseqüência desta norma se detenha a ‘pessoas de determinados grupos raciais ou étnicos com mais freqüência que a outras’ e 78 por cento reconhece que implicará em um maior trabalho para a Polícia.

“Mesmo assim, 70 por cento consideram provável que como conseqüência desta medida o número de residentes ilegais e a chegada de novos imigrantes ao país se reduzam…”

Na quinta-feira, 6 de maio de 2010, sob o título de “Arizona: Um morto de fome com pretensões”, se publicou um artigo da jornalista Vicky Peláez em Argenpress, que começa recordando uma frase de Franklin D. Roosevelt: “Lembra-te, lembra-te sempre, que todos nós somos descendentes de imigrantes e revolucionários.”

É um documento tão bem elaborado que não quero concluir esta Reflexão sem incluí-lo.

“As marchas das multidões neste 1° de maio, em repudio à nefasta lei anti-imigrante aprovada no Arizona, estremeceram a toda a América do Norte. Por sua vez, milhares de estadunidenses, políticos, juristas, artistas, organizações cívicas exigiram do governo federal declarar inconstitucional a lei SB1070 que tem semelhança com leis da Alemanha nazista ou da África do Sul nos tempos do apartheid.

“No entanto, apesar da forte pressão contra a nefasta lei, nem seu governo, nem 70 por cento dos habitantes desse Estado não querem aceitar a gravidade da situação que criaram para usar os ilegais como culpados da severa crise econômica que estão atravessando. Enquanto pedem dinheiro a Barack Obama para pagar 15 mil policiais, estão radicalizando sua política racista. A governadora Jan Brewer declarou que ‘a imigração ilegal implica no aumento do crime e do surgimento do terrorismo no Estado’.

“Igualar os ilegais com terroristas, autoriza à polícia a disparar contra pessoas só pela cor de sua pele, por sua vestimenta, pelo que levam nas mãos ou até por sua forma de caminhar. Sem duvida alguma, afetará também aos 280.000 norte-americanos nativos que vivem marginalizados e em extrema pobreza como a outras minorias, além dos hispanos, que encontraram refugio e trabalho nesta zona árida dos Estados Unidos.

“Seguindo o republicano, Pat Buchanan o qual disse: ‘Os Estados Unidos devem fazer mais forte a cruzada pela libertação da América do Norte das hordas bárbaras de famintos estrangeiros portadores de enfermidades exóticas’, a governadora Brewer, depois de arremeter contra os “ilegais” jornaleiros, operários da construção, empregadas domésticas, jardineiros, trabalhadores da limpeza, dirigiu sua campanha contra os professores de origem hispano.

“De acordo com seu novo decreto, os professores com marcado sotaque não poderão ensinar nas escolas. Mas aí não termina sua cruzada porque a ‘limpeza étnica’ em todos os tempos históricos sempre foi acompanhada pela ideologia. Desde agora os ‘estudos e projetos étnicos’ ficam abolidos nas escolas. Também proíbe o ensino de temas que possam promover ressentimento para uma raça ou classe social. Isto implica politizar o conhecimento, convertendo os mitos criados pelo sistema norte-americano em realidade. Também significa desterrar os pensadores mais respeitados nos EE.UU. como Alexis de Tocqueville que dizia em 1835 que ‘o lugar onde um anglo-americano põe sua bota fica para sempre a sujeira. A província do Texas todavia pertence aos mexicanos, mas logo não haverá nenhum mexicano ali. E assim acontecerá com qualquer lugar’.”

“A única consciência dos racistas é o ódio e a única arma para vencê-lo é a solidariedade dos homens. Este estado já foi vencido quando se negou a dar feriado no dia de Martín Luther King, o boicote foi sólido e contundente…”

Original em Cuba Debate
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DILMA SERÁ A PRESIDENTE DO BRASIL!

A pesquisa Vox Populi foi um banho de gelo na oposição. Na semana teremos o resultado da pesquisa SENSUS. A pesquisa SENSUS foi feita após o programa do PT do dia 13/05. Eles estão desesperados, estão esperneando mais que siri em panela de água quente. Na pesquisa Vox Populi Dilma ganha do Serra em todos os cenários, veja abaixo. Os votos do Ciro não foram para o Serra como eles pregavam, foram para Dilma. Por isso a oposição, a PIG, estava defendo que Ciro continuasse na campanha. Outro mito derrubado seria que Serra levaria no primeiro turno, não leva no primeiro e nem no segundo. Essa semana será emocionante, o estoque de Valium, Rivotril já esgotou, PIG, PSDB, DEM, PPS estão acabando com o estoque. Acharam que o povo é bobo de deixar um governo Lula- Dilma, para um governo Serra-FHC. PSDB/DEM nunca mais. Agora é Dilma.



Na pesquisa espontânea:

Dilma Rousseff (PT): 19%
José Serra (PSDB): 15%
Lula (que não pode ser candidato): 10%


Na pesquisa estimulada:

Dilma Rousseff (PT): 38%
José Serra (PSDB): 35%
Marina Silva (PV): 8%


Segundo turno:

Dilma Rousseff (PT): 40%
José Serra (PSDB): 38%

Publicado em Blog da Dilma
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sábado, 15 de maio de 2010

Grécia: os verdadeiros militantes da Europa

Traduzido por J.A. Pina/Rosalvo Maciel

Os estivadores do Pireo, os camponeses da Tesalia, todo o mundo do trabalho desde o Peloponeso a Macedônia não têm que pagar a fatura da bancarrota à qual os dirigentes da Nova Democracia (direita) conduziram o país, agora respaldados pelos socialistas do Pasok.

Eles não têm que pagar os pratos quebrados de uma construção européia na qual a lei de mercado e da competição se sobrepõe à soberania popular. Não nos enganemos, para a maioria da população, o futuro da Europa se joga atualmente em Atenas. Mais exatamente, a possibilidade de preservar as oportunidades de construir uma verdadeira união solidaria de povos é o debate concreto, duro que está no centro da queda de braço que antepõe os principais dirigentes da UE com a Grécia popular que resiste.

Quais são os verdadeiros militantes da idéia européia? Os dirigentes franceses, que se preparam para apresentar ante a Assembléia Nacional um plano de emergência que consiste em um empréstimo de 3.900 bilhões de euros a 5%, muito superior às taxas atualmente em vigor? “nenhuma condescendência com a Grécia” declarou com desdém Christine Lagarde, orgulhosa de anunciar o que os investimentos significarão, avaliando a redução de 150 milhões. Ângela Merkel e seu ministro das Finanças, Wolfgang Schaüle que não têm palavras suficientemente duras contra os gregos, acusados de não cortar os gastos sociais com suficiente energia?

Após haver reforçado os bancos concedendo créditos a 1% oferecidos pelo Banco Central Europeu, os Estados mais ricos da União vão “conceder” a Atenas empréstimos de agiotas, obrigando o governo a reduções orçamentárias que poderiam ser as de um Estado em guerra. Reduções de salários e de pensões, compressão nos setores sociais, sacrifícios mortais no ensino e na saúde… o inferno liberal abre seus primeiros círculos. Hoje o povo grego está no meio da tormenta, O que acontecerá amanhã em Portugal, Espanha e nos países da Europa Central e Oriental?

Os verdadeiros militantes da idéia européia são os que advertiram contra um tratado europeu que faz do liberalismo o início e o fim, o único horizonte da política da UE: A história não terá que esperar muito tempo para dar razão aos que desde a esquerda têm combatido o projeto de constituição européia, e ao tratado de Lisboa. Os denunciavam, precisamente porque não permitem a solidariedade entre os Estados, fazem do Banco Central Europeu o guardião de um templo inexpugnável da ortodoxia monetária em lugar de ser um instrumento para uma política de crédito a serviço do desenvolvimento e do progresso social.

Prognosticaram-nos a crise na Europa se o tratado de Lisboa não fosse ratificado. Seus promotores desapreciaram os votos dos franceses, dos holandeses, dos irlandeses, prontamente rechaçaram que outros povos, entre eles o povo grego, se pronunciassem livremente sobre seu futuro. Hoje, temos o tratado de Lisboa e a Europa vive sua mais grave crise.

Os verdadeiros militantes da Europa são aqueles que pensam ainda que outra Europa é possível, na condição de ter a coragem de mudar suas regras. Mas no momento, é urgente, que as consciências despertem. Vítima dos bancos, o povo grego deve beneficiar-se, ao menos, das mesmas condições de crédito que as que o Banco Central Europeu e os Estados têm concedido ao mundo das finanças. É só a mais elementar justiça.

Publicado em L'Humanité

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Cuba: as urnas e a praça

Abner Barrera Rivera no Cuba Debate
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Tradução: AF Sturt/blog Solidários
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Uma das falácias espalhadas pelos inimigos da revolução cubana, é que na ilha, todas as mobilizações políticas são conduzidas por obrigação e mandato do governo cubano. Ele supervisiona e pune aqueles que estão ausentes. Segundo eles,a “ditadura cubana”, para mostrar seus atos de massa entre os cubanos obrigam esses a comparecer aos desfiles e outros eventos, caso contrário ele irá diminuir o pagamento do dia. O terrorista Carlos Alberto Montaner, por exemplo, repete por muitos anos, a ladainha, que para mobilizar a população, o governo cubano coloca um policial em cada casa.

Se observarmos as chamadas democracias ocidentais “, representativa e exemplar”, encontramos um divórcio entre o governo e o povo, e em muitos países, o governo é o inimigo do povo. No caso de Cuba,não é possível haver essa separação ou encontrar essa adversidade, porque a revolução em Cuba foi feita pelo povo e desde 1959 as pessoas têm os seus representantes no poder.

Nas últimas semanas ocorreu na maioria da ilha dois grandes atos de mobilização cidadã, em que o povo cubano participou com zelo e coragem que os caracteriza: o primeiro foi na votação em 25 de abril para eleger representantes das Assembleias Municipais do Poder Popular (governos locais) e o segundo na celebração do Dia do Trabalhor em 01 de maio.Vamos nos referir a esses dois eventos.

Quanto ao primeiro, a imprensa amordaçada pelo Imperio, não informou ao mundo sobre essa festa democrática socialista. Questionar o sistema político e eleitoral em Cuba, é um dos principais alvos da campanha anti cubana, liderada pelos Estados Unidos e outras nações capitalistas.O objetivo é impor os chamados países do terceiro mundo um sistema político e eleitoral que lhes permitam interferir nos assuntos internos de cada país para que eles possam manter os seus controles e submeter seus domínios. Mas com Cuba fracassam e muito.

Os opositores, há muitas décadas,acusa Cuba de ser uma ditadura, que não faz escolhas (para eles a democracia se esgota nas eleições), e cada vez que Cuba faz processos eleitorais, a regra dos EUA e de seus aliados é recusar os relatórios.Há um silêncio vergonhoso. Em 25 de abril, 8.205.994 cubanos exerceram o voto no primeiro turno das eleições, esse número é mais de 94% dos eleitores que votaram nas eleições. Que outro país no mundo pode mostrar esses números de participação popular e eleitoral? Você pode achar esse exemplo na “democracia americana”? Não, porque lá o presidente do país é eleito com menos de 50% dos americanos que tem direito a voto.

A grande mídia não informa que as eleições em Cuba são muito mais democrático do que as realizadas em outros países capitalistas. Uma das características do sistema político e eleitoral cubano é a falta de “milionárias” campanhas com custos altos e com recurso para a ofensa, calúnia e manipulação. Todos os candidatos foram tratados de forma igual. A publicidade aceita é a publicação oficial da biografia para os méritos e condições para todos os candidatos. Mas, nos países capitalistas os candidatos são escolhidos pelo poder do dinheiro, não das pessoas, ou seja é o grande capital que determina quem ganha uma eleição. As opiniões são manipuladas pela propaganda da mídia privada de massa. Os critérios e as decisões das pessoas são influenciadas pela propaganda de grandes máquinas que executam milhões nos partidos políticos. É um espetáculo. Fidel Castro a este respeito diz: “eu acho que um show realmente desagradável que acontece com muitas destas formas chamados democráticas”. O tipo de propaganda eleitoral que eles fazem, você pode ver que o dinheiro que se torna um factor determinante nos resultados. Nos Estados Unidos e em outros lugares, quem não tem recursos não pode propor qualquer objetivo político, porque eles são excluídos, são eliminados.

Sobre a comemoração do Dia do Trabalhalhador, governantes de muitos países não podem comemorar o 01 de maio junto com os trabalhadores, porque exercem políticas neoliberais dirigidas contra eles.Não podem comemorar com o povo, porque os seus governos saqueia as finanças públicas, através de privatizatisações das empresas estatais e aumento do desemprego e da pobreza entre a classe trabalhadora.A comemoração do Dia do Trabalhador nesses países torna-se um ato vergonhoso de repúdio aos governantes dessas democracias capitalistas. Algo muito diferente em Cuba, porque a revolução fez com que os interesses e os direitos das pessoas esteja verdadeiramente representados nas lideranças políticas e revolucionárias que estão no poder. Assim, quando chamado para uma manifestação,como a de 01 de maio, as pessoas respondem unidas como uma só força política com seus líderes. Enquanto nos países capitalistas a classe trabalhadora no 01 de maio,se manifesta reivindicando os seus direitos violados pelas políticas impopulares, a classe trabalhadora cubana “manifesta” para comemorar as conquistas da revolução socialista.

Nesta exposição imensa e popular em Cuba, alguns dos principais meios de comunicação não pode ser indiferente, tiveram que admitir que trata de uma onda de centenas de milhares de pessoas que marcharam pelas cidades de Cuba.Apenas na Praça da Revolução um milhão de pessoas se reuniram.

Aqueles que acusam Cuba de violar os direitos humanos só poderia encontrar nessa multidão, o patriotismo, a defesa do sistema socialista e da revolução, trincheira de idéias e a coragem de continuar lutando por um mundo mais justo e mais humano. Os faltosos foram apenas as auto-Damas de Blanco, não desfilaram, porque seus patrões da SINA não quiseram pagar por essa marcha.

Na numerosa manifestação, as bandeiras estiveram a cargo de dar comprovação revolucionária. Quem não foi é por que estava no retorno do trabalho,estava em frente à TV na sala de sua casa e os cubanos licenciados em defesa da pátria.Os cubanos não se redem,não se vendem.

João Cândido, petróleo, racismo e emprego

Beto Almeida (*)

Nesta sexta-feira a Transpetro lançou ao mar o navio petroleiro João Cândido. Batizado com o nome de um dos nossos heróis, marinheiro negro, filho de escravos e líder da Revolta da Chibata, o navio tem 247 metros de comprimento, casco duplo que previne acidente e vários significados históricos. Primeiro, leva a industrialização para Pernambuco, contribuindo para reduzir as desigualdades regionais. Em segundo lugar, dá um cala-boca para quem insinuou de forma maldosa que o PAC era apenas virtual. Em terceiro, prova que está em curso a remontagem da indústria naval brasileira criminosamente destruída na era da privataria. Como um simbolismo adicional, um total de 120 operários dekasseguis foram trazidos do Japão, com suas famílias, para juntarem-se aos operários nordestinos que construíram o navio. Os primeiros não precisam mais morar longe da pátria; os outros saem do canavial para a indústria e não precisam mais pegar o pau-de-arara, nem entoar com amargura a Triste Partida, de Patativa do Assaré, como um certo pernambucano teve que fazer na década de 50. Até que virou presidente.

Mulheres trabalhando como chefes de equipe de soldagem no Estaleiro Atlântico Sul, no município de Ipojuca, em Pernambuco, pronunciavam frases orgulhosas lembrando que não sabiam nem que esta também poderia ser uma tarefa feminina. O ex-pescador de caranguejo contava em depoimento agreste que antes do estaleiro não sabia direito como ganhar o sustento da família a cada dia que acordava. O ex-canavieiro, agora operário, destaca que não depende mais temporalidade insegura da colheita da cana e quando acorda já tem para onde ir, quando antes vivia a insegurança. Estes alguns dos vários depoimentos colhidos na inauguração do navio petroleiro João Cândido ao ser lançado ao mar pernambucano. Deixa em terra um rastro de transformação.

Inicialmente, na vida destas pessoas antes lançadas ao deus-dará de uma economia nordestina reprimida, desindustrializada. A transformação atinge os municípios mais próximos, pois no local onde foi construído o estaleiro, uma antiga moradora, Mônica Roberta de França, negra de 24 anos, que foi escolhida para ser a madrinha do navio, dizia que ali era um imenso areal, não tinha nada. Agora tem uma indústria e uma escola técnica para os jovens da região. E que só agora ela tem seu primeiro emprego na vida com carteira assinada.

Desculpas à Nação

Para o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, o lançamento do João Cândido ao mar tem o mesmo alcance histórico do gesto de Getúlio Vargas quando deu forte impulso à nacionalização da indústria naval brasileira, na década de 30, por meio da empresa de navegação estatal. “Aqueles que destruíram a indústria naval tem que assumir sua responsabilidade e pedir desculpas à Nação”, disse Campos na solenidade que teve a participação de 5 mil pessoas aproximadamente, sobretudo dos operários.

O Navio João Cândido abre uma nova rota para a economia brasileira. Inicialmente, porque a Petrobrás já não será obrigada a desembolsar cerca de 2,5 bilhões de reais por ano com o afretamento de navios estrangeiros. Há, portanto, um revigoramento do papel do estado na medida em que a reconstrução da indústria naval brasileira é resultado direto de encomendas da nossa empresa estatal petroleira. O que também permite avaliar a gravidade e o caráter antinacional das decisões que levaram um país com a enorme costa que possui, tendo montado uma economia naval de peso internacional respeitável, retroceder em um setor tão estratégico.

E isso quando nossa economia petroleira, há anos, já dava sinais de expansão, mesmo quando estavam no poder os que promoveram o espantoso sucateamento, a desnacionalização e a abertura da navegação em favor dos países que querem impedir nosso desenvolvimento. Este tema, certamente, não poderá faltar nos debates da campanha presidencial deste ano.

Almirante negro

A escolha do nome João Cândido também foi destacada na solenidade por meio do novo ministro da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial, Eloy Moreira. Vale registrar que há pouco mais de um ano Lula participou de homenagem ao Almirante Negro inaugurando sua estátua na Praça XV, no Rio, que estava há anos guardada, supostamente porque não teria havido grande empenho da Marinha na realização desta solenidade. Pois bem, agora João Cândido não está apenas nas “pedras pisadas do cais”, com diz a maravilhosa canção de Bosco e Blanc. Está na estátua e está cruzando mares levando para o mundo afora o nome de um de nossos heróis.

Navegar é possível

O novo petroleiro estatal, portanto, é uma prova real de que sim “navegar é possível”, como dizia uma faixa no ato. Navegar na rota inversa daquela que promoveu o desmantelamento da nossa indústria naval. Navegar na rota da revitalização e qualificação do papel protagonista do estado. Recuperar um curso que havia sido fundado lá durante a Era Vargas onde se combinava industrialização e nacionalização com geração de empregos e direitos trabalhistas. Se no período neoliberal foi proclamada a idéia de destruir a “Era Vargas”, agora, está não apenas proclamada, mas já colocada em marcha, a necessidade de reconstruir a partir dos escombros da ruína das privatizações - entulho neoliberal - tendo no dorso no navio-gigante o nome heróico do líder da Revolta da Chibata. Sem revanchismo, o episódio permite lembrar outra canção: “É a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar”

(*) Presidente da TV Cidade Livre de Brasília

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