Além do Cidadão Kane

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Brasil ultrapassa o Reino Unido e se torna a sexta maior economia do mundo, dizem jornais

O Brasil ultrapassou o Reino Unido e se tornou a sexta maior economia do mundo, conforme os jornais britânicos The Guardian e Daily Mail. O primeiro aponta a crise de crédito nos bancos em 2008 e a subsequente recessão europeia como causas da queda do país para a sétima posição no ranking, apontado por uma equipe de economistas. Pelo lado brasileiro, o Guardian destaca o "boom" nas exportações para a China e o Oriente.

O chefe-executivo do Centro de Pesquisa para Economia e Negócios (CEBR, em inglês), Douglas McWilliams, considera o crescimento do Brasil um "fenômeno", fazendo uma analogia ao futebol:

— O Brasil tem batido os países europeus no futebol há muito tempo, mas vencê-los na Economia é um novo fenômeno. A tabela da economia mundial mostra o quanto esse quadro está mudando, com as nações da Ásia e as produtoras de commodities subindo, enquanto nós, na Europa, descemos — relatou ao Guardian.

Já o Daily Mail observa que esta é a primeira vez em que o Reino Unido é ultrapassado por um país da América do Sul no ranking dos mais ricos. Segundo o periódico, também referindo-se à pesquisa do CEBR, "mais frequentemente conhecido pelo futebol e as favelas, o Brasil está se tornando rapidamente um dos motores da economia global".

A publicação diz que o maior país da América Latina cresceu nos últimos anos em decorrência de "vastas reservas de recursos naturais e do avanço da classe média".

— O poderio do Brasil ultrapassou o da Grã-Bretanha por causa do grande potencial econômico das pessoas que vivem lá — disse ao Daily Mail Peter Slowe, um ex-conselheiro de política econômica do governo.

— O Brasil tem uma variedade muito grande de recursos naturais, incluindo o ouro, a prata, o petróleo e os minérios da Amazônia — ressaltou Slowe.
 
Publicado em Zero Hora

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

COISAS DO PARAISO CAPITALISTA!

Hungria coloca em vigor lei que converte sem-teto em delinquentes

Deputados do partido governante justificam a lei neo-fascista com o pretexto de que Budapeste "não podia fazer frente à grande quantidade de gente que vive nas ruas", e dizem que a lei foi criada para que as Prefeituras "abram mais albergues".

Os críticos, incluindo organizãções civis de caridade para pessoas sem lar, dizem que essa lei é inaplicável e que os albergues não são suficientes. Isto é, ao criminalizar os sem teto, eles terão de mudar a rua pelas celas da prisão.

De acordo com a Lei, aprovada por uma ampla maioria no parlamento no mês passado, os que dormem nas ruas receberão primeiro uma advertência. Se não abandonarem a rua, podem então ser encarcerados ou forçados a pagar uma multa.

Estão previstas para os próximos dias uma série de manifestações contra a nova lei. As organizações de direitos humanos repudiaram a lei e a qualificaram como "medida nazista".

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

A SÍRIA NA MIRA DO IMPERIALISMO



Após a conquista da Líbia, e antevendo uma guerra de rapina contra o Irã, o imperialismo mira a Síria



A “primavera árabe” foi um levante popular que questionou profundamente as ditaduras títeres da região num momento de crise econômica, mas, devido aos conflitos religiosos internos e à forte repressão, sem uma organização política forte nestes locais que levasse o movimento às suas últimas conseqüências. Por esta razão, não pode ser confundida com as ações armadas e/ou “manifestações” organizadas por uma oposição diretamente ligada ao capital internacional em países que ainda mantêm uma postura mais independente, como Líbia, Síria ou Irã. Esta oposição apropriou-se de uma conjuntura de levantes autênticos no mundo árabe, que enfraqueceram politicamente o Estado de Israel e fragilizaram seu discurso racista. As recentes “manifestações pró-democracia” na Síria não podem, portanto, ser compreendidas como parte do mesmo fenômeno que estremeceu Tunísia, Egito, Bahrein e Iêmen.

Salim Kheirbek, ativista sírio dos direitos humanos, disse: “com o governo de Gaddafi a ponto de terminar, a OTAN vai provavelmente lançar suas forças contra a Síria. Nosso presidente acredita que eles estão se preparando para um ataque contra nós, o que dificilmente facilitará mudanças democráticas. Eu não faço a mínima idéia do que poderá acontecer com a Síria neste caso”. Com efeito, a retórica contra Assad se assemelha muito à usada contra Gaddafi: o ditador anti-ocidental que tem reprimido protestos pacíficos em seu país e, pela “responsabilidade de proteger”, as potências imperialistas têm o dever humanitário de impor sanções e, caso necessário, preparar uma guerra para a proteção da população. O problema é que o cenário sírio apresenta algumas especificidades que tornam sua abordagem mais complexa do que a da Líbia.

Na Síria, a grande imprensa tem defendido os assim chamados “manifestantes pacíficos” contra o “regime opressor de Assad”. No entanto, há registros de que, ao lado das movimentações pacíficas, há uma insurgência armada no país sobre a qual não se comenta.

O professor Michel Chossudovsky do site canadense GlobalResearch denuncia que “o governo turco do primeiro-ministro Recep Tayyib Erdogan está apoiando grupos de oposição sírios no exílio e ao mesmo tempo também os rebeldes armados da Irmandade Muçulmana no Norte da Síria.”. O governo de Assad também tem acusado a Turquia de apoiar diretamente a incursão de forças rebeldes ao norte e oficiais sírios que conduzem investigações nas áreas de conflito têm constatado que os combatentes estão usando armas e munições turcas. Estes insurgentes são, na verdade, terroristas islâmicos organizados e treinados pela OTAN e pela Turquia, que têm dividido a sociedade síria. Os esquadrões da morte, sob a orientação do general David Petraeus, apontado por Obama como novo chefe da CIA, formaram o chamado Conselho de Salvação Nacional, uma espécie de governo sírio no exílio.

Uma invasão à Síria integraria os separados palcos de guerra dos países árabes, a saber, AfPaq, Iraque, Palestina e Líbia, abarcando toda uma região que se estende do norte da África à Ásia Central. A Síria constitui o único estado independente e secular do mundo árabe, dispondo de uma forte base anti-imperialista, e o objetivo da OTAN é desestruturá-lo para estabelecer um regime títere pró-ocidental.

No caso sírio, porém, a Rússia expressa uma oposição mais contundente a uma eventual saída militar e insiste numa solução negociada de reformas políticas internas. Por isso mesmo, o país euro-asiático e a China vetaram as “medidas dirigidas” contra Damasco do Conselho de Segurança da ONU. O Irã também tem defendido uma retórica considerada mais moderada, referindo-se a “demandas legítimas” dos opositores e advogando também uma reforma política no país.

Deve-se levar em consideração que, diferentemente da Líbia, a existência de um inimigo externo tão agressivo e intransigente como Israel permite uma coesão interna bem mais significativa entre o povo sírio, fator fundamental durante uma guerra. Assad está disposto a realizar as reformas internas indicadas por Rússia e Irã, já tendo se comprometido com uma considerável mudança constitucional, eleições diretas e até um sistema multipartidário. Isso, de fato, não alterará a disposição da OTAN em invadir o país, mas é um elemento retórico a mais ao qual Rússia e China poderão recorrer para a manutenção de seu apoio na ONU. Como a invasão ao Iraque já demonstrou, este veto só será efetivamente respeitado se estes países dispuserem de real capacidade de contenção militar. E, além do mais, a guerra contra a Líbia e a manutenção do conflito em países como Iraque e Afeganistão-Paquistão têm exaurido muito os recursos das grandes potências que compõem a OTAN, as quais estão enfrentando uma crise econômica interna sem precedentes.

Por fim, deve-se atentar que o representante estadunidense na Síria, Robert S. Ford, já tinha trabalhado na embaixada de Bagdá com John D. Negroponte. Este último adquiriu vasta experiência na formação de esquadrões da morte e forças paramilitares para a desestabilização de países. Embaixador em Honduras entre 1981 e 1985, infiltrou e apoiou os “contras” na Nicarágua sandinista e, depois, no Iraque, organizou esquadrões curdos e xiitas para combaterem a resistência. Ford, “discípulo” de Negroponte, mantém seus contatos com grupos opositores na Síria. Neste caso, os EUA podem vislumbrar a lenta desestabilização do governo de Assad por paramilitares até que a potência e seus aliados da OTAN estejam em melhores condições para se lançarem numa ofensiva definitiva.

Pode-se perceber então que, por um lado, a guerra contra pequenos e médios países do mundo árabe apresenta-se como uma forma de movimentar economicamente o poderoso complexo industrial-militar e saquear as reservas de petróleo para solucionar a crise energética. Por outro, os gastos nela implicados aumentam o déficit do governo dos EUA, evidenciam a hipocrisia dos argumentos imperialistas da OTAN para suas agressões e precipitam o sistema capitalista a sua crise inevitável.

Vinicius Cione

Publicado em Inverta

sábado, 5 de novembro de 2011

Represália dos EUA pelo ingresso da Palestina na Unesco: corte de US$ 70 milhões

Ao aceitar a Palestina como membro pleno, a Unesco aceitou o desafio de funcionar com quase um quarto a menos de seu orçamento. Não é a primeira vez que os Estados Unidos chantageiam a Unesco com a retirada de sua contribuição financeira. Entre 1984 e 2003, Washington boicotou a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura para protestar por sua "péssima administração" e pela "ideologia terceiro-mundista". O artigo é de Eduardo Febbro.

Eduardo Febbro - Correspondente da Carta Maior em Paris

Os palestinos deram um passo firme rumo ao reconhecimento pleno de seu Estado, enquanto a primeira potência mundial, os Estados Unidos, colocou o primeiro obstáculo frente à marcha palestina. Reunida em Paris até dez de novembro, a Conferência Geral da Unesco votou pela adesão da Palestina como Estado membro de pleno direito. O ingresso da Palestina à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura muda radicalmente o regime precedente dos palestinos uma vez que, até segunda-feira, 31 de outubro, a Palestina só tinha um estatuto de missão observadora. A adesão da Palestina como Estado de pleno direito foi aprovada por 107 votos a favor, 14 contra e 52 abstenções.

Os Estados Unidos, que se opuseram à medida, decidiram de imediato suspender seu financiamento à Unesco. Tal medida privará a organização de 22% do seu orçamento, em torno de 70 milhões de dólares. Washington aplicou, sem concessões, duas leis que datam dos anos 90 e que proíbem os Estados Unidos de financiarem qualquer agência das Nações Unidas em que a Palestina seja aceita como Estado pleno enquanto não se chegue a um acordo de paz com Israel.

Mas os já claríssimos interesses da administração norte americana e seu favoritismo para com Israel, não são os da maioria dos países da comunidade internacional. A França, a quase totalidade dos países árabes, os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul), Argentina e, excetuando o México que se absteve e o Panamá que votou contra, os países de América Latina fecharam fileiras a favor dos palestinos. Os Estados Unidos, a Alemanha e o Canadá se opuseram enquanto a Itália e o Reino Unido se abstiveram. Israel também antecipou que retiraria sua contribuição financeira à Unesco.

O embaixador israelense na organização, Nimrod Barkan, disse que o ingresso da Palestina como Estado era una “tragédia para a Unesco”. Barkan tirou do bolso as já desgastadas ameaças contra os países que apoiaram os palestinos. O embaixador israelense advertiu que isso “debilitará” a capacidade desses países de “influenciar a posição israelense”. Barkan qualificou de “ficção científica” o ingresso dos palestinos na Unesco e ressaltou que este era “um dia triste” porque marcava o momento em que “uma organização decide desconectar-se da realidade”.

A disputa de declarações entre os principais atores do conflito israelense palestino permite medir a distância abismal que existe para se chegar a um acordo de paz. Washington, através de seu embaixador na Unesco, David Killion, avaliou que a iniciativa da Unesco era “prematura” e “contraproducente”. Na direção contrária, o Ministro Palestino de Relações Exteriores, Riyad Al-Malki, declarou que estamos vivendo “um momento histórico que devolve à Palestina parte de seus direitos”. Al-Malki refutou o argumento israelense norte americano que consiste em vincular o novo estatuto da palestina com a paz na região.

A Palestina se converteu no Estado número 195 da UNESCO graças aos estatutos que regem essa organização dependente da ONU. Diferentemente do que acontece no Conselho de Segurança onde cinco países (Estados Unidos, Grã Bretanha, França, Rússia e China) têm direito de veto e podem bloquear, entre outras coisas, a adesão de um novo Estado, na Unesco só se requer dois terços dos votos da Conferência Geral para adquirir o estatuto de Estado de pleno direito. O novo regime permitirá aos palestinos que alguns dos territórios ocupados por Israel, entre eles Belém, Hebrón e Jericó, sejam reconhecidos como Patrimônio Mundial da Humanidade.

Para o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, trata-se de um êxito diplomático de grande alcance que torna um pouco mais tangível o reconhecimento da Palestina como Estado. No dia 23 de setembro passado, Abbas propôs oficialmente a aceitação da Palestina como Estado membro da ONU. O Conselho de Segurança examinará a solicitação no próximo dia 11 de novembro, mas ela tem poucas possibilidades de ser aceita uma vez que Washington já adiantou que exerceria seu direito de veto.

Por enquanto, a Unesco aceitou em Paris o desafio de funcionar com quase um quarto a menos de seu orçamento. Não é a primeira vez que os Estados Unidos chantageiam a Unesco com a retirada de sua contribuição financeira. Entre 1984 e 2003, Washington boicotou a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura para protestar por sua péssima administração e pela ideologia terceiro-mundista que imperava na Unesco. A Diretora Geral da organização, Irina Bokova, admitiu que de agora em diante terá que “cortar programas e reajustar o equilíbrio do nosso orçamento”.

Entretanto, para a responsável da organização, já não se trata de um “problema financeiro”, mas de um “problema que concerne à universalidade da nossa organização”. Como já se pôde corroborar no conflito israelense palestino e tantos outros dramas que sacodem o mundo, as grandes potências mundiais têm uma visão variável da “universalidade” dos direitos. Estes são “universais” segundo o peso dos interesses e não como valor supremo da humanidade.

Tradução: Libório Junior

Publicado em Carta Maior
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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Deu no Jormal:

Estados Unidos e Israel devem suspender repasses à Unesco após admissão do Estado da Palestina


...Democratas... Justos... Paladinos da Liberdade... e, principalmente, imparciais...

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Confrontos

Centenas de milhões de pobres e famintos em todo o mundo apelam à solidariedade de todos aqueles que se afogam no consumismo e no desperdício. Mas será que a solidariedade é entendível por todos? Não !.

. Muitos habitantes deste planeta ainda pensam segundo o paradigma de antigos negreiros, o Outro só existe enquanto for útil, servir para alguma coisa. Não lhes reconhecem a dignidade de pessoas. As relações entre os povos são vistas em termos de exploração, saque, rapina. A solidariedade é uma palavra que não consta no seu léxico.

Os argumentos do negreiro, para não ajudar o Outro são quase sempre os mesmos. Alega frequentemente que não pode fazer porque ainda não tem todos os seus problemas domésticos resolvidos. Não tem a casa ou o automóvel dos seus sonhos, as férias que há muito deseja. A solidariedade do negreiro reduz-se em dar ao Outro (preto,pobre, etc) os sobejos, os desperdícios do festim. Os pobres não necessitam de mais, contentam-se com as sobras. A sua preocupação está centrada na ementa do festim, não nos restos.

Muitos pensam segundo o paradigma capitalista, o Outro é parte de um negócio a curto prazo (Toma Lá da Cá), a médio prazo ( Toma lá, e quando tiveres condições para isso retribui com juros) ou no longo prazo (Toma lá e diz a outros que foi eu que te dei).

Na verdade, continuam a haver muitos poucos utópicos neste planeta. Aqueles que conseguem ver no Outro uma pessoa que co-habita no mesmo mundo e sobretudo, são capazes de entender que se ele estiver mal, então todos também estamos.

Publicado em Confrontos

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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Há saída para a Palestina?

Como sempre acontece em épocas que envolvem negociação, Israel aproveita para expandir seu projeto colonizador. Na terça-feira, 27, anunciou a construção de mais 1.100 casas na colônia de Gilo, em Jerusalém oriental, início de um projeto destinado a separar o sul da Cisjordânia das vilas palestinas vizinhas a Jerusalém.

Baby Siqueira Abrão*

Com o Quarteto e os Estados Unidos exigindo, em uníssono, negociações diretas com Israel, a impressão é que não há solução viável para o caso palestino. As superpotências, sua insistência em acordos impossíveis e sua mobilização frenética não levam em consideração, evidentemente, os milhões de cidadãos da Palestina e de praticamente todos os países do mundo que saíram às ruas para apoiar o pleito à ONU.

Os termos da proposta do Quarteto, porém, nada estabelecem sobre as questões centrais: colônias israelenses em terras palestinas, fronteiras, Jerusalém oriental e retorno dos refugiados. Tampouco tratam do reconhecimento do “Estado judeu”, exigido por Israel [1] . O documento limita-se a estabelecer datas: chamada para conversas iniciais em um mês, sugestões de ambos os lados sobre fronteiras e segurança em três meses e assinatura do acordo de paz no final de 2012.

A proposta foi enviada aos dirigentes dos dois países. Divulgou-se que Netanyhau, primeiro ministro de Israel, a apoiaria, mas uma reunião que se estendeu da noite de terça-feira à madrugada de quarta-feira, com oito membros de seu gabinete, mudou tudo. Não houve consenso. Quanto à ANP, reuniu-se dia 28 para estudar o documento, mas ainda não tomou nenhuma decisão.

Como sempre acontece em épocas que envolvem negociação, Israel aproveita para expandir seu projeto colonizador. Na terça-feira, 27, anunciou a construção de mais 1.100 casas na colônia de Gilo, em Jerusalém oriental, início de um projeto destinado a separar o sul da Cisjordânia das vilas palestinas vizinhas a Jerusalém. A denúncia é de Khalil Toufajki, especialista palestino que estuda as colônias israelenses. Ele informou à rádio Voz da Palestina que, além dessas 1.100 casas, uma nova área residencial, Givat Yael, será construída nas terras da vila palestina de Al-Walajah e vai se estender até a porção oeste de Gilo, abrigando milhares de israelenses. No total, o projeto prevê a construção de 58 mil unidades até 2020, o que significa que Israel não tem a menor intenção de incluir o fim da construção de colônias em nenhum acordo, ou que não pretende assinar acordo algum.

Na quarta-feira, 28, o exército israelense entregou ordens de confisco de terras na vila de Battir, em Belém. Os 148 dununs (cada dunum corresponde a mil metros quadrados) pertencem a 40 famílias e contêm casas, plantações de frutas, vegetais e oliveiras, além de poços de água. A região, segundo a notificação entregue aos moradores, será evacuada por “razões militares e de segurança”, ou seja, para servir à expansão da colônia de Gilo, que fica perto dali.

Também no dia 28 a municipalidade de Beit Ummar, no norte de Hebron, foi notificada de que perderá 800 dununs de terra para a construção de uma estrada exclusiva para a colônia de Etzion, com oito quilômetros de extensão e 160 metros de largura. Israel não perde tempo.

Realidade e miragem

Como se vê, há motivos de sobra para a indignação e a impaciência dos milhões de palestinos que apoiaram a ida da OLP à ONU, e dos 40 mil vindos de todos os pontos da Palestina para a recepção a Mahmoud Abbas no domingo, 25. Seriam bem mais, caso os soldados israelenses não tivessem detido vários ônibus lotados nos checkpoints. A Autoridade Palestina está sem dinheiro, e o país registra um déficit em conta corrente de U$ 610,7 milhões, segundo dados divulgados em 27 de setembro, mas nada disso impediu novos gastos para o encontro entre a população e Abbas, que chegou de Nova York via Amã.

Recebido como herói nacional depois do discurso feito na ONU no dia 23, Abbas foi sucinto. Em cerca de cinco minutos disse que dera o recado dos palestinos ao mundo, que a Primavera Palestina começara, que a luta seria longa e difícil, que a firmeza do povo levaria à vitória e terminou conclamando todos a levantar a cabeça pelo simples fato de serem palestinos. Ovacionado, com o retrato colado em centenas de cartazes carregados pela multidão e em enormes banners nos prédios vizinhos à Muqata, sede da ANP, Abbas teve seu dia de glória.

De personagem político desacreditado – em especial depois que os Palestine Papers, liberados pelo Wikileaks à rede de TV Al-Jazeera, revelaram pesadas concessões a Israel, como partes de Jerusalém oriental e a negação dos direitos dos refugiados, além de apoio ao ataque militar sionista a Gaza, em 2008-2009 –, acusado de corrupto pela população, ele foi guindado, graças a sua performance na ONU, para o patamar dos super-homens. Comentava-se o conteúdo do discurso, a coragem de Abbas por ter mantido a promessa de ir à ONU apesar da pressão dos enviados de Estados Unidos e União Europeia, o fato de ele ter denunciado ao mundo, item por item, a tragédia palestina.

Naquela tarde cinzenta e chuvosa de domingo, o Conselho de Segurança deixou de ser o assunto da semana. Deu lugar à personagem da semana, do dia, do mês: Abu Mazen, codinome de luta pelo qual os palestinos chamam o velho líder. Pelo levantamento informal feito pela reportagem de Carta Maior, ele venceria qualquer candidato se a eleição fosse naquela tarde. E, caso não concorresse às eleições, o nome que apoiasse seria o ganhador.

Encerrar o ciclo estéril de negociações que serviram de cobertura a confiscos de terra e água, à expansão de colônias israelenses em território palestino e à manutenção da Palestina como vitrine da tecnologia bélica sionista foi um alívio para a maioria da população. Jogar o conflito no colo do mundo, dentro da organização que o formalizou, em 1947, foi objeto de críticas até o começo da semana do discurso, mas depois recebeu aprovação quase geral dentro da Cisjordânia e em Gaza. A verdade é que o desespero dos palestinos é tamanho que qualquer miragem de alívio é bem-vinda. Os governos israelenses, de 1948 até hoje, parecem testar na Palestina os limites da paciência humana. Por enquanto, estão perdendo. Mesmo exaustos, os palestinos continuam a resistir à ocupação.

E agora, com a OLP carregando o problema para o campo diplomático internacional, na tentativa de acabar com o monopólio dos Estados Unidos como mediador das negociações com Israel, a miragem se torna quase palpável. Mas ainda é miragem.

Plano B: “Unidade para a paz”

Como ficariam os palestinos, por exemplo, se soubessem que o Conselho de Segurança, em sua primeira reunião, dia 26 de setembro, praticamente concluiu que guindar a Palestina à posição de membro pleno foge ao escopo da Resolução 377? A informação, dada por um dirigente da OLP à Carta Maior em 27 de setembro, sob a condição de anonimato, acabaria com o que ainda resta da miragem.

A Resolução 377, também conhecida como “Unidade para a paz”, estabelece que, quando o Conselho de Segurança falha em seu papel de resguardar a paz e a segurança, por falta de unanimidade entre seus membros, a questão pode ser levada à Assembleia Geral, em que a Palestina tem ampla maioria. Lá, esperava a direção da OLP, o status de membro pleno seria alcançado. Francis Boyle, consultor da OLP, professor de direito internacional que dedicou a vida à defesa da causa palestina em seu campo de estudo, defendeu essa possibilidade, assim como Gabriela Shalev, ex-embaixadora de Israel na ONU.

Richard Schifter, ex-secretário assistente de Estado dos EUA, citou o caso da Namíbia, que em 1981 teve a ajuda da 377 para obter sua independência. A Assembleia Geral da ONU, à época, solicitou a todos os países-membros “aumentar e manter apoio material, financeiro, militar e outros tipos de ajuda para a Organização dos Povos do Sudoeste da África, a fim de permitir-lhe intensificar sua luta pela libertação da Namíbia”.

Também exortou-os a encerrar “todos os negócios com a África do Sul, para isolá-la por completo nos campos político, econômico, militar e cultural”.

Mas o Conselho de Segurança da ONU, na segunda-feira, tendia a considerar que a Resolução 377 é aplicável a todos os casos, menos à aceitação de um Estado como membro pleno. “Eles ainda estão negociando”, disse o dirigente da OLP, “mas é quase certo que não permitam a utilização da 377”.

Não é preciso pensar muito para entender que Estados Unidos e Israel estão por trás dessa tendência. Até já conseguiram os seis votos necessários para vetar a solicitação palestina sem que o ônus da decisão pese apenas nos ombros dos EUA. Quanto à Palestina, até agora pode contar, com certeza, com os votos de China, Rússia, Brasil, Líbano, Índia e África do Sul. Embora nove países do CS tenham reconhecido seu Estado, apenas seis já deram a certeza de estar a seu lado. Conquistar o voto dos outros dois, com tanta pressão contrária, não é tarefa fácil. Um deles, provavelmente, é a Colômbia: Maria Angela Holguin, ministra das Relações Exteriores, recebeu na segunda-feira a visita de Hillary Clinton. O páreo está disputadíssimo.

Plano C: Estado-membro observador

A guerra de influências pende contra os palestinos, mas Ryad Mansour, embaixador da Palestina na ONU, diz confiar “em nossos amigos”. Caso algum desses amigos o traia, há outra saída. A Assembleia Geral pode reconhecer a Palestina como “Estado não-membro” ou como “Estado-membro observador”. Hoje ela é “entidade observadora”. Com esse reconhecimento, a Palestina pode solicitar participação em outros órgãos, nos quais o veto dos EUA não tem valor, e em tratados internacionais.

O ideal seria ter acesso ao Tribunal Penal Internacional (TPI), para abrir processos individuais contra os responsáveis por atos criminosos contra os palestinos. Essas pessoas, caso condenadas, não poderão viajar para os 117 países signatários do Estatuto de Roma (que estabeleceu o TPI), ou serão presas. Também é possível levar Israel ao TPI por crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

Estados não membros também podem recorrer ao TPI, solicitando-lhe que assuma jurisdição sobre seus territórios. A Palestina fez isso em 2009, denunciando os oficiais do exército israelense que participaram do ataque militar a Gaza em 2008-2009 e por “atos anteriores cometidos na Palestina”. O problema é que o TPI até hoje não decidiu se a “entidade” Palestina tem direito a fazer essa queixa. O reconhecimento do Estado pela Assembleia Geral daria esse direito ao país.

Nesse caso, os palestinos também poderiam denunciar os colonos da Cisjordânia, com base na proibição, estabelecida nas Convenções de Genebra, de deslocamento forçado de populações. E isso preocupa muito o governo israelense.

O problema é que o TPI, assim como a ONU, é um órgão político, o que significa que suas decisões não são baseadas exclusivamente na lei. E esse problema, de decisões políticas, vem impedindo os palestinos de fazer valer seus direitos desde a partilha de 1947. Elas são tomadas com base no poder dos lobbies, não nos direitos humanos.

Plano D: “Toma que o filho é teu”

É o plano mais radical de todos. Mas defendido por muita gente, em especial os críticos da solução de dois Estados. Trata-se de dissolver a ANP, a OLP e deixar que os sionistas se responsabilizem pela Palestina. Na prática, significa abdicar do Estado próprio e fundir a Cisjordânia com Israel.

Embora essa seja uma proposta tentadora para a direita israelense, defensora do estabelecimento do Grande Israel em toda a Palestina histórica, apresenta problemas sérios para Israel. Ideia nesse sentido foi aventada em 2010 pelos sionistas linha-dura, mas logo abandonada, ou postergada, talvez pelas dificuldades que levanta. Uma delas é o que fazer com os quase 4 milhões de palestinos da Cisjordânia num Estado que em outubro de 2010 aprovou a “Lei de juramento de fidelidade”. Essa lei exige que todo cidadão de Israel jure fidelidade ao “Estado judeu democrático”, o que, definitivamente, nenhum palestino muçulmano ou cristão fará. Sem contar os aspectos econômicos, políticos, eleitorais, culturais e da tradição.

Outro problema é a chamada “bomba demográfica”. As muçulmanas palestinas têm, no mínimo, 3 ou 4 filhos, enquanto a maioria das israelenses prefere 1 ou 2. Segundo estudo da CIA divulgado em 2010, em 20 anos Israel entrará em colapso. Por isso, o professor Francis Boyle aconselha que os palestinos não assinem nenhum acordo com Israel. “É tempo de adotar uma nova estratégia”, escreveu ele em “The Impending Collapse of Israel in Palestine”, publicado no portal My Catbird Seat em 2 de outubro de 2010. “Com muito respeito, recomendo a eles que considerem esta: não assinem nada e deixem Israel desintegrar-se!”

[1] Essa exigência é incompreensível, uma vez que Israel foi fundado como “Estado judeu” e como tal foi reconhecido por Yasser Arafat, em carta ao então primeiro ministro israelense Yitzhak Rabin, datada de 9 de setembro de 1993 (veja em http://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/Peace/recogn.html), e no Roadmap de 2003. Em entrevista ao jornal israelense Haaretz antes de morrer, em 2004, Arafat confirmou que reconhecera Israel como Estado judeu. É impossível que políticos e diplomatas são saibam disso. Mas é possível que entrem no jogo de Netanyhau a fim de criar mais obstáculos para a Palestina.


*Jornalista, autora de diversos livros e pós-graduanda em Filosofia. Mora em Ramallah, Palestina, onde é correspondente do jornal Brasil de Fato.

Publicado em CartaMaior

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sábado, 10 de setembro de 2011

A Revolta de Londres: um sinal

Osvaldo Coggiola

A recente revolta em bairros periféricos de Londres, que se estendeu rapidamente para outras cidades inglesas, foi apresentada pela grande imprensa como uma série de atos de vandalismo, sem outro conteúdo. Nada mais longe da verdade. O brutal assassinato de Mark Duggan, um taxista negro de 29 anos alvejado pela polícia londrina em Tottenham – uma zona que conta com as maiores taxas de desemprego e de imigrantes da capital britânica – produziu uma reação da juventude que, por sua magnitude e composição, foi rapidamente comparável com o levantamento dos jovens árabes e norte-africanos nos subúrbios parisienses em 2005, ou à sublevação da juventude grega em fins de 2008. Esta vez, no entanto, a bancarrota capitalista mundial vinculou a revolta com a crise dos Estados chamados ao resgate do capital. O movimento também teve lugar no quadro da revolução nos países árabes e da irrupção da juventude européia dos "indignados", na Espanha especialmente. O assassinato de Duggan produziu uma manifestação de cerca de 300 vizinhos que, com o decorrer das horas e frente às manobras de encobrimento da polícia, converteu-se em uma revolta popular. O governo britânico respondeu com uma brutal repressão, junto a uma operação midiática que buscava instalar a versão de um "enfrentamento" da polícia com Duggan, acusado de ser "traficante de armas".

Tottenham tem uma longa história de resistência contra a opressão policial por sua composição majoritariamente imigrante, incluído um levantamento popular em 1985 só comparável ao que ocorreu recentemente. No bairro vivem africanos, caribenhos, polacos, judeus ortodoxos, turcos e ingleses brancos, que sofrem dia a dia a extorsão da polícia. A zona é também representativa da crise que atravessa o país. Mais de 10 mil jovens de Tottenham vivem graças à assistência social e se estima que uns 54 jovens concorrem por cada posto de trabalho. Outro dado alarmante é a alta taxa de gravidez adolescente - a mais alta do Reino Unido. Este quadro social de decomposição é a base sobre a qual opera a rebelião dos subúrbios britânicos. A repressão policial nas ruas de Londres deixou o saldo de cinco mortos, dezenas de feridos e centenas de detidos. No entanto, os protestos aumentaram, em novos bairros, como Oxford Circus e Enfield, e inclusive outras cidades, como Leeds, Birmingham, Liverpool, Manchester e Bristol, o que obrigou ao governo a proceder a uma mobilização inusitada de forças - uns 16 mil policiais. Estes fatos revelam que a pauperização das condições de vida das massas é um fenômeno que se estende ao conjunto do país.

A crise não poderia chegar em pior momento para o regime político britânico que, sacudido pela crise política gerada pela revelação das escutas telefônicas de personagens ou figuras públicas por parte do império midiático de Rupert Murdoch, com a cumplicidade da polícia britânica, Scotland Yard (cujos chefes tiveram que renunciar por sua relação com o escândalo) e dos políticos britânicos. O premiê britânico, o conservador David Cameron, foi obrigado a regressar de suas férias – destinadas a afastá-lo da crise política - ante a extensão da rebelião juvenil contra a força policial. A crise e a rebelião social desatada pela repressão policial voltou a colocar a Cameron no olho da tormenta. Este assumiu com o objetivo de aplicar um rigoroso plano de ajuste frente à crise mundial, e agora luta por manter a seu governo. A rebelião dos jovens explorados da Grã-Bretanha tem lugar enquanto os sindicatos discutem um plano de luta contra o corte às aposentadorias, depois de protagonizar a maior paralisação de funcionários públicos em 80 anos, e no meio de uma grande mobilização estudantil contra o plano de cortes à educação proposto pelos conservadores. A conjunção da crise política com a crise capitalista e com um processo de mobilização de massas excepcional reúne os elementos de uma tormenta que poderia significar o fim do governo conservador na Grã-Bretanha em um quadro de aguçamento da crise mundial.

Na Espanha, um pacote de austeridade reduziu em 5% os salários públicos em 2010, e fez um corte de 600 milhões de euros nos investimentos públicos. Essas medidas foram exigências do FMI, para “enfrentar a crise” nesses países. O pacote de austeridade foi enfrentado com uma massiva paralisação nacional dos trabalhadores, convocada pelas centrais sindicais. Os trabalhadores de outros países europeus também reagiram com grandes manifestações, uma resistência bem superior à de 2008. A classe operária começou a manifestar-se: greves de massas, mobilizações massivas, ocupações de fábricas, tomada de reféns de patrões por trabalhadores, revoltas de jovens e operários. As greves gerais na Grécia e Turquia, as greves e as manifestações na França e Espanha, as numerosas ocupações de fábricas na Itália, são uma mostra da crescente combatividade do proletariado contra o desemprego massivo, a flexibilização trabalhista, as reduções salariais, a destruição dos sistemas sociais.

Nos últimos anos, houve uma recomposição da classe operária mundial, com a incorporação de milhões de novos trabalhadores, que protagonizam novos combates de classe, na Grécia, França, Itália, Alemanha, passando pela América Latina, sem esquecer a recuperação da classe operária russa e na Europa do Leste, os trabalhadores sul-africanos, e a classe operária chinesa, que começa a levantar cabeça com greves extraordinárias. Antes da explosão árabe, a Europa estava no centro da luta classista. Em novembro de 2010, 150 mil pessoas protagonizaram uma grande mobilização em Dublin para rejeitar o resgate da Irlanda por parte da União Européia (UE) e do FMI – um ataque aos salários, ao gasto social e ao emprego. Poucos dias antes, havia ocorrido uma grande greve geral em Portugal, grandes mobilizações estudantis na própria Irlanda, Inglaterra e Itália, e nas semanas anteriores manifestações em toda a França. A crise capitalista se estende a Portugal, Espanha e Itália, e inclusive à França, ao ponto de se colocar na pauta dos governos um desdobramento da Europa em um bloco do norte e outro do sul – com diferentes moedas (Grécia, Portugal, Espanha e Itália sairiam da “zona euro”). A rebelião árabe, que “cruzou o estreito de Gibraltar” para chegar às praças da Espanha, encontrou no velho continente um terreno propício.

A revolta londrina, certamente desorganizada, não foi um tiro no escuro de uma juventude desesperada, mas um sinal anunciador do terremoto social nas próprias metrópoles do capitalismo.

Osvaldo Coggiola é historiador, economista e professor da Universidade de São Paulo

Original em Correio Caros Amigos

terça-feira, 6 de setembro de 2011

A Líbia - O que a mídia jamais vai mostrar

I – EM 2007, A ONU CONSTATOU EM RELAÇÃO À LÍBIA:



1 - Maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da África (até hoje é maior que o do Brasil);

2 - Ensino gratuito até a Universidade;

3 - 10% dos alunos universitários estudam na Europa, EUA, tudo pago;

4 - Ao casar, o casal recebe até US$ 50.000 para adquirir seus bens;

5 - Sistema médico gratuito, rivalizando com os europeus. Equipamentos de última geração, etc.;

6 - Empréstimos pelo banco estatal sem juros;

7 - Inaugurado em 2007, maior sistema de irrigação do mundo vem tornando o deserto (95% da Líbia) em fazendas produtoras de alimentos.



II - POR QUE DETONAR A LÍBIA, ENTÃO?...



Três (3) principais motivos:

1 - Tomar seu petróleo de boa qualidade e com volume superior a 45 bilhões de barris em reservas;

2 - Fazer com que todo o Mar Mediterrâneo fique sob controle da OTAN. Só falta agora a Síria;

3 - E o maior, provavelmente: O Banco Central Líbio não é atrelado ao sistema mundial Financeiro. Suas reservas são toneladas de ouro, dando respaldo ao valor da moeda, o dinar, e desatrelando-o das flutuações do dólar. O sistema financeiro internacional ficou possesso com Kaddafi, após ele propor, e quase conseguir, que os países africanos formassem uma moeda única desligada do dólar.



III - O QUE É O ATAQUE HUMANITÁRIO PARA LIVRAR O POVO LÍBIO:



1 - A OTAN, comandada pelos EUA, já bombardeou as principais cidades Líbias com milhares de bombas e mísseis que são capazes de destruir um quarteirão inteiro. Os prédios e a infraestrutura de água, esgoto, gás e luz estão seriamente danificados;

2 - As bombas usadas contêm DU (Urânio depletado); tempo de vida 3 bilhões de anos (causa câncer e deformações genéticas);

3 - Metade das crianças líbias está traumatizada psicologicamente por causa das explosões que parecem um terremoto e racham as casas;

4 - Com o bloqueio marítimo e aéreo da OTAN, principalmente as crianças sofrem com a falta de remédios e alimentos;

5 - A água já não mais é potável em boa parte do país. De novo, as crianças são as mais atingidas;

6 - Cerca de 150.000 pessoas por dia estão deixando o país através das fronteiras com a Tunísia e o Egito. Vão para o deserto ao relento, sem água nem comida;

7 - Se o bombardeio terminasse hoje, cerca de 4 milhões de pessoas estariam precisando de ajuda humanitária para sobreviver ( Água, comida e remédios) de uma população de 6,5 milhões de pessoas. Em suma: O bombardeio "humanitário" acabou com a nação Líbia. Nunca mais haverá a nação Líbia. Foram varridos do mapa.

SIMPLES ASSIM

GOB - Parlamento (por email)
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sábado, 3 de setembro de 2011

FHC foi facinho

Sebastião Nery

“Numa noite de inverno do ano de 1969, nos escritórios da Fundação Ford, no Rio, Fernando Henrique teve uma conversa com Peter Bell, o representante da Fundação Ford no Brasil. Peter Bell se entusiasma e lhe oferece uma ajuda financeira de 145 mil dólares. Nasce o Cebrap”.

Esta história, assim aparentemente inocente, era a ponta de um iceberg. Está contada na página 154 do livro “Fernando Henrique Cardoso, o Brasil do possível”, da jornalista francesa Brigitte Hersant Leoni (Editora Nova Fronteira, Rio, 1997, tradução de Dora Rocha). O “inverno do ano de 1969″ era fevereiro de 69.

FUNDAÇÃO FORD

Em 13 de dezembro de 1968, a ditadura havia lançado o AI-5 e jogado o País no máximo do terror do golpe de 64, desde o início financiado, comandado e sustentado pelos Estados Unidos. Centenas de novas cassações e suspensões de direitos políticos estavam sendo assinadas. As prisões, lotadas. Até Juscelino e Lacerda tinham sido presos.

E Fernando Henrique recebia da poderosa e notória Fundação Ford uma primeira parcela de 145 mil dólares para fundar o Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). O total do financiamento nunca foi revelado. Na Universidade de São Paulo, sabia-se e se dizia que o compromisso final dos americanos era de 800 mil a um milhão de dólares.

AGENTE DA CIA

Os americanos não estavam jogando dinheiro pela janela. Fernando Henrique já tinha serviços prestados. Eles sabiam em quem estavam aplicando sua grana. Com o economista chileno Faletto, Fernando Henrique havia acabado de lançar o livro “Dependência e desenvolvimento na América Latina”, em que os dois defendiam a tese de que países em desenvolvimento ou mais atrasados poderiam desenvolver-se mantendo-se dependentes de outros países mais ricos. Como os Estados Unidos.

Montado na cobertura e no dinheiro dos gringos, Fernando Henrique logo se tornou uma “personalidade internacional” e passou a dar “aulas” e fazer “conferências” em universidades norte-americanas e européias.

Era “um homem da Fundação Ford”. E o que era a Fundação Ford? Uma agente da CIA, um dos braços da CIA, o serviço secreto dos EUA.

QUEM PAGOU

Há dois anos, chegou às livrarias brasileiras um livro interessantíssimo, indispensável, que tira a máscara da Fundação Ford e, com ela, a de Fernando Henrique e muita gente mais: “Quem pagou a conta? A CIA na guerra fria da cultura”, da pesquisadora inglesa Frances Stonor Saunders (editado no Brasil pela Record, tradução de Vera Ribeiro).

Quem “pagava a conta” era a CIA, quem pagou os 145 mil dólares (e os outros) entregues pela Fundação Ford a Fernando Henrique foi a CIA. Não dá para resumir em uma coluna de jornal um livro que é um terremoto. São 550 páginas documentadas, minuciosa e magistralmente escritas:

“Consistente e fascinante” (“The Washington Post”). “Um livro que é uma martelada, e que estabelece em definitivo a verdade sobre as atividades da CIA” (“Spectator”). “Uma história crucial sobre as energias comprometedoras e sobre a manipulação de toda uma era muito recente” (“The Times”).

MILHÕES DE DÓLARES

1 – “A Fundação Farfield era uma fundação da CIA… As fundações autênticas, como a Ford, a Rockfeller, a Carnegie, eram consideradas o tipo melhor e mais plausível de disfarce para os financiamentos… permitiu que a CIA financiasse um leque aparentemente ilimitado de programas secretos de ação que afetavam grupos de jovens, sindicatos de trabalhadores, universidades, editoras e outras instituições privadas” (pág. 153).

2 – “O uso de fundações filantrópicas era a maneira mais conveniente de transferir grandes somas para projetos da CIA, sem alertar para sua origem. Em meados da década de 50, a intromissão no campo das fundações foi maciça…” (pág. 152). “A CIA e a Fundação Ford, entre outras agências, haviam montado e financiado um aparelho de intelectuais escolhidos por sua postura correta na guerra fria” (pág. 443).

3 – “A liberdade cultural não foi barata. A CIA bombeou dezenas de milhões de dólares… Ela funcionava, na verdade, como o ministério da Cultura dos Estados Unidos… com a organização sistemática de uma rede de grupos ou amigos, que trabalhavam de mãos dadas com a CIA, para proporcionar o financiamento de seus programas secretos” (pág. 147).

FHC FACINHO

4 – “Não conseguíamos gastar tudo. Lembro-me de ter encontrado o tesoureiro. Santo Deus, disse eu, como podemos gastar isso? Não havia limites, ninguém tinha que prestar contas. Era impressionante” (pág. 123).

5 – “Surgiu uma profusão de sucursais, não apenas na Europa (havia escritórios na Alemanha Ocidental, na Grã-Bretanha, na Suécia, na Dinamarca e na Islândia), mas também noutras regiões: no Japão, na Índia, na Argentina, no Chile, na Austrália, no Líbano, no México, no Peru, no Uruguai, na Colômbia, no Paquistão e no Brasil” (pág. 119).

6 – “A ajuda financeira teria de ser complementada por um programa concentrado de guerra cultural, numa das mais ambiciosas operações secretas da guerra fria: conquistar a intelectualidade ocidental para a proposta norte-americana” (pág. 45).

Fernando Henrique foi facinho.


Leandro B. da Costa.
Bacharel em História - FURG.
Mestrando em História - UFRGS.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

40 mil médicos cubanos prestam serviços pelo mundo

O trabalho dos médicos cubanos no mundo pode ser qualificado de grandioso. Hoje, mais de 40 mil especialistas do setor prestam serviço gratuito em 68 países, principalmente em localidades afastadas ou comunidades carentes.

Um exemplo disso é a brigada médica cubana “Ernesto Che Guevara”, que chegou à Nicarágua em 2007. Lá, atende a população em zonas pobres, entre elas Puerto Cabeza, Bluefields e Siuna.

O grupo já deu mais de quatro milhões de consultas. Também colabora nas campanhas de prevenção, indicando às famílias como melhorar a higiene doméstica e evitar a propagação de doenças como a dengue, freqüente nessa área geográfica.

Dos 172 colaboradores presentes na Nicarágua, 43 estão engajados na chamada Missão Milagre. Seu propósito é facilitar atendimento oftalmológico gratuito a pessoas de baixa renda. O programa, instaurado em várias nações do hemisfério, permitiu recuperar a visão de milhares de nicaragüenses.

Os indicadores de saúde no país centro-americano melhoraram notavelmente após Daniel Ortega ter assumido a presidência. A partir daí, o governo nicaragüense deu prioridade ao setor da saúde pública. No ano passado, quase 9% do Produto Interno Bruto foi investido nessa área.

Centenas de jovens nicaragüenses estudam na Escola Latino-americana de Medicina de Havana. Muitos deles estão completando seus estudos na Nicarágua sob a direção de especialistas e professores cubanos.

Fonte: Rádio Havana/Vermelho

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Grupo terrorista criado pela CIA celebra abertamente em Miami seu 50º aniversário

 Jean-Guy Allard

Com um comunicado difundido amplamente em Miami entre os partidários do uso do terror contra Cuba, o chefe do grupo terrorista Alpha 66 anuncia que sua organização criminosa, protegida pelo FBI, celebrará seu 50º aniversário “como organização com estratégia de combate frontal”. Isto no país que publica uma controvertida lista de “países patrocinadores do terrorismo”.

Ernesto Díaz Rodríguez assinala que desde sua fundação “em setembro de 1961” o grupo tem sido consequente com seu firme propósito de manter uma independência total de governos e ingerências externas e lutar sob o lema de “sem pedir permissão nem esperar por ninguém”.

Os arquivos revelam, no entanto, tudo ao contrário.

Alpha 66 é uma fachada criada pela CIA precisamente nesse ano onde ia estimulando a custo de milhões as chamadas "operações autônomas" desde sua estação em Miami JM/WAVE, então a maior do mundo.

O conceito era organizar grupos supostamente surgidos “espontaneamente” entre os exilados de Miami que haviam fugido a Ilha por sua cumplicidade criminosa com a sangrenta ditadura de Fulgêncio Batista, com o propósito de multiplicar os atentados e negar logo qualquer relação com esses fatos.

Entre as ações criminosas do grupo se encontram inumeráveis planos de assassinato contra o Presidente de Cuba; ataques piratas a embarcações pesqueiras; ameaças de morte a pessoas vinculadas com Cuba no México, Estados Unidos, Equador, Brasil, Canadá e Porto Rico.

"UMA DAS MAIS PERIGOSAS ORGANIZAÇÕES” TERRORISTAS

Documentos da inteligência da polícia de Miami classificaram, naqueles anos, Alpha 66 como "uma das mais perigosas organizações e das mais ativas" na Miami terrorista.

Desde a morte de seu ex-líder Nazário Sargen, Alpha 66 é dirigida por Ernesto Díaz Rodríguez, de 66 anos de idade, este mesmo signatário da declaração citada.

Treinado pela CIA na República Dominicana, Díaz foi capturado em Pinar del Río em 4 de dezembro de1968, em uma fracassada infiltração armada e foi condenado pela comissão de atos terroristas. Liberado, regressou aos Estados Unidos e se ligou a vários extremistas conhecidos, como Eusébio de Jesus Peñalver Mazorra, René Cruz Cruz ye Mario Chanes de Armas, desenvolvendo planos de ações criminosas. Em 1999, esteve emvolvido, com este mesmo grupo, em um plano de atentado ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

Seu braço direito, Osiel González Rodríguez, foi treinado pela CIA em Fort Benning, onde estudou técnicas de sabotagem junto com Posada, Félix Rodríguez Mendigutía, Jorge Mas Canosa e outros personagens que formaram a máfia terrorista de Miami.

CONVITADO POR BUSH À CASA BRANCA

Em 20 de maio de 2003, o presidente norte-americano George W. Bush convidava à Casa Branca a Rodríguez, assim como seu sócio Eusébio de Jesus Peñalver Mazorra, preso em 12 de dezembro de 1995, na Califórnia, com um arsenal quando participava de preparativos para realizar um ataque terrorista em Cuba com outro conhecido terrorista, Angel Francisco D'fana Serrano.

Em 2 de junho de 2005, o Presidente norte-americano dirigiu uma carta de agradecimento por seu "apoio" a Alpha 66, na qual dizia que "apreciava conhecer" as ideias de grupo paramilitar.

Luís Posada Carriles participou em numerosas oportunidades de atividades, inclusive públicas, da Alpha 66, antes e depois de seu “julgamento” em El Paso, com o qual Washington pretende presenteá-lo com a imunidade.

Reinol Rodríguez, associado aos crimes de Posada e cúmplice do assassinato em Porto Rico de Carlos Muñiz Varela, é o autodenominado chefe militar do grupo terrorista Alpha 66.

Alpha 66 segue promovendo abertamente o terrorismo desde seus escritórios em 2250 S.W. da rua 8, em Miami enquanto o Departamento de Estado mantem a absurda publicação de sua lista de "países patrocinadores do terrorismo" com o propósito evidente de caluniar, difamar e satanizar às nações que repudiam seu domínio.

Publicado em Hablahonduras
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sábado, 23 de julho de 2011

Pródromos

Marcus Dutra


Os meios de comunicação ocidentais, em mãos privadas, costumam silenciar sobre muitos temas e muitas notícias quando estas não os convêm. O Brasil não é a exceção, inclusive aqui, essa classe de meios - que falam em português, mas pensam em inglês - receberam o ilustrativo nome de Partido da Imprensa Golpista, e como pensam em inglês, mais calhado que o próprio nome é sua sigla: PIG.

Quando o tema é Cuba o silencio obrigatório é intercalado com ataques e notícias tendenciosas, distorcidas, carregadas de antipatia e rancor, falseando e distorcendo a imagem do país.

Tudo em uma desesperada tentativa de evitar o “perigo” que representa o exemplo cubano e abafar realidades inegáveis. Dentre muitas delas, os avanços da ilha na área da medicina, biotecnologia, em seu sistema de saúde, e no seu modelo econômico e social que permitiram esses avanços e muitos outros mais.

Os indicadores sociais cubanos são plausíveis nos mais diversos campos. Na educação, por exemplo, foi o primeiro país do continente a erradicar o analfabetismo, e isso há mais de 40 anos e, 90% deles têm o ensino médio completo. Qualquer cubano pode cursar desde uma creche até graduar-se em uma universidade sem por isso ter que desembolsar nenhum centavo por inscrição, mensalidade, uniforme, material escolar ou refeitório. Tem, segundo a Organização das Nações Unidas, os melhores estudantes de nível primário e secundário em idiomas e, em matemáticas com notas muito superiores aos países do chamado primeiro mundo.

Todas as pessoas com problemas psíquicos ou físicos também têm asseguradas educação em escolas especializadas.

Outros números, em múltiplas áreas, também impressionam: 88% dos cubanos não pagam aluguel, são donos de suas casa. É o país de terceiro mundo que mais consome calorias diárias por habitantes (¹), a passagem do seu recém reestruturado transporte público é das mais baratas do planeta, centenas de medalhas de ouro, prata e bronze colocam Cuba entre as potências mundiais do esporte, diversos avanços nas áreas da cultura, ciência, arte, economia, literatura e entre tantos outros, os da área da saúde, os que mais nos interessam por agora. Saúde que como a educação e outras garantias na ilha são mundialmente reconhecidas e enaltecidas pela sua qualidade, seu acesso universal e sua gratuidade, desde uma simples placa de raios-X, uma tomografia, uma ressonância magnética, um exame de sangue, consultas com especialistas de qualquer área da medicina, ingresso em qualquer hospital, até mesmo um transplante de coração, rins ou fígado, são garantias irrevocáveis alcançadas pelos cubanos.

A constância da Revolução, suas lutas, suas idéias, suas prioridades, seus sentimentos e comprometimento, sua responsabilidade, sua fidelidade aos despossuídos fizeram de Cuba um país diferente.

Tão diferente que talvez seja o único país do mundo que possa vangloriar-se de que das mais de 200 milhões de crianças que diariamente dormem nas ruas pelo mundo nenhuma delas seja cubana; Impressiona a qualquer um saber, por exemplo, que em 1959 quando advém o triunfo revolucionário uma das primeiras medidas tomadas foi a redução dos preços de todos os medicamentos pela metade do que se cobrava, e hoje mais de meio século depois os valores se mantém inalteráveis.

Porém as façanhas alcançadas por Cuba e invejáveis por qualquer pessoa no mundo, com exceção dos antropófobos de plantão, não foram impetradas em lágrimas, mas sim conquistadas lutando com muito sacrifício. O país não deixou de ser agredido em nenhum momento desde que optou pelo processo de mudança social, e somado ao bloqueio econômico teve que suportar as mais irracionais hostilidades por parte do imperialismo norte americano, desde invasões mercenárias ao seu território, planos de sabotagem, guerra biológica, política e econômica; roubo de cérebros, etc.

Um dos atos mais covardes promovido pelo império do norte ocorreu justamente nos primeiros meses do governo revolucionário. Cuba, que então, contava com apenas seis mil médicos, sofreu um duro golpe: da noite para o dia viu a metade deles partirem em direção aos Estados Unidos, seduzidos por montes de dinheiro, facilidades e de promessas.

Em 1959, com o triunfo revolucionário a Universidade de Havana pôde reabrir suas portas (haviam sido fechadas pelo ditador Batista em 1956), reabriu também a sua faculdade de medicina, que era por aquela época a única do país, e dos 161 professores de medicina somente 23 voltaram a ensinar. (²)

Com isso podemos ter uma idéia das dificuldades que o país enfrentou para reconstituir-se.

Porém, frente a todas as agressões, campanhas de ódio e de mentiras perpetradas contra a ilha uma maneira de viver e de pensar diametralmente oposta foi sendo forjada. Um dos princípios ético-vocacionais que se consolidaram com a revolução cubana foi o internacionalismo, façanha tão grande, a nosso ver, quanto seus próprios índices sociais.

Mais de meio milhão de cubanos já participaram em algum tipo de ajuda internacionalista, como alfabetizadores, treinadores, maestros, laboratoristas, trabalhadores sociais, técnicos, dentistas, enfermeiros, médicos e inclusive como combatentes na luta contra a apartheid.

A ajuda internacionalista na área da saúde surge logo nos primeiros momentos da revolução cubana e, em meio às dificuldades e ao abandono generalizado no começo da gesta revolucionaria que havia deixado um impressionante déficit de médicos, ainda assim o país destacou uma brigada de saúde que rumou ao Chile para atender a vítimas de um forte terremoto que sacudiu aquele país e, dois anos mais tarde, sem ainda sequer haver formado a primeira turma de graduados pós-triunfo revolucionário, partia em direção à Argélia no continente africano, outra brigada de médicos cubanos que durante quatorze meses prestaria serviços para aquele sofrido povo que acabava de liberar-se do neo-colonialismo Francês;

Desde então, Cuba, investindo cuidadosamente na saúde recuperou-se do revés e transformou-se no país com maior número de médicos por habitantes do mundo, quase o dobro dos países que o seguem na lista, além disso, o internacionalismo, princípio que se consolidou com a revolução e se fortaleceu com o tempo, impressiona pelo magno numero de cubanos mobilizados, assim como pela enorme quantidade de países que se beneficiaram, e se beneficiam, dessa desinteressada ajuda, são mais de cem nações ao redor do planeta, sobretudo países pobres, e sempre nos mais recônditos lugares, em comunidades apartadas onde muitas vezes foram inclusive os primeiros médicos que ditas comunidades viram.

Hoje em dia é possível encontrar médicos cubanos realizando serviços de saúde em qualquer um dos continentes do planeta terra, e o número de pacientes atendidos ao redor do mundo já ultrapassa os 170 milhões, só nos últimos dez anos mais de dois milhões de vidas foram salvas principalmente, na América Latina, África e Ásia (³). e por mais que os meios de comunicações privados tratem de esconder, os médicos cubanos também estão aqui, no nosso Brasil, trabalhando no interior do Amazonas, arriscando suas vidas, combatendo a malária e outras séries de doenças transmissíveis nas comunidades mais afastadas onde pouquíssimos são os médicos brasileiros que se atrevem a chegar.

Quando ocorrem catástrofes naturais em algum país os médicos cubanos partem em silêncio para ajudar a salvar centenas de milhares de vidas. Quando o Tsunami praticamente destruiu a Indonésia e o Sri Lanka deixando números incalculáveis de vítimas fatais, lá estavam eles há milhares de quilômetros, longe de suas casas e famílias, trabalhando exemplar e incansavelmente.

Frente a terremotos, furacões, chuvas intensas, vulcões, epidemias ou tsunamis em qualquer longínquo rincão do mundo é possível encontrar as brigadas de médicos cubanos.

E também é necessário dizer: com o custo do transporte e da manutenção dos médicos, medicinas e instrumentos que se utilizam todos bancados por Cuba durante sua estadia.

Hoje, quase cinco décadas depois do roubo de cérebros promovido pelos EUA, o número de três mil médicos que havia sobrado passa a ser um gracejo frente a enorme capacidade recuperativa da revolução cubana de formar novos médicos e nesse curto período de tempo graduaram mais de 83 mil novos.

Se Cuba pode brindar auxílio médico como nenhum outro país é por que a revolução abriu as portas para a saúde, porém, mais ainda, por que transformou e desenvolveu uma consciência e uma vocação humana sem precedentes, baseados nos valores mais puros e desinteressados e que são cada vez maiores e mais audaciosos.

E cada vez maiores e mais audaciosos são também os projetos internacionalistas e, paradoxalmente mais ignorados pelos grandes donos dos meios de comunicação, atualmente Cuba e Venezuela desenvolvem conjuntamente um projeto chamado “Missão Milagre” (4) que tem como objetivo atender e operar gratuitamente mais de seis milhões de latino-americanos que haviam perdido ou progressivamente perdiam a visão vítimas de cataratas. Em uma das variantes desse programa, os dois países bancam passagem de ida até Havana, exames médicos necessários, cirurgia, hospedagem, alimentação e gastos durante a estadia, assim como a passagem de volta até o país de origem, tudo junto com um acompanhante escolhido pelo paciente.

Esse comprometimento com a saúde do seu povo se transformou no comprometimento com a saúde de todos os povos do mundo pelo fato de a que a revolução colocou na prática a idéia de Martí que afirma: “pátria é humanidade”, e que é a melhor definição possível para o internacionalismo, o interesse em ajudar sem nada em troca, o comprometimento com os pobres e preteridos do mundo, princípios da revolução cubana que hoje são fatos silenciados pela maioria dos meios de comunicações privados, mas, ao mesmo tempo, uma das provas mais cabais de que um mundo melhor, mais justo e mais humano é possível.

(¹) http://www.ibge.gov.br/paisesat/

(²)http://monthlyreview.org/090112brouwer.php

(3) http://www.granma.cu/portugues/2008/noviembre/mar4/saude.html

(4) http://www.kaosenlared.net/noticia/operacion-milagro-solidaridad-censurada

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quinta-feira, 23 de junho de 2011

Lula é premiado pela ONU pela luta contra a fome

As Nações Unidas felicitaram nesta quarta-feira (22) os ex-presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e de Gana, John Kufuor, por seu trabalho para melhorar a qualidade, a quantidade e a disponibilidade de alimentos no mundo.

Ambos os ex-presidentes foram eleitos ganhadores do Prêmio Mundial dos Alimentos, como impulsores de uma redução da fome e a pobreza em suas respectivas nações.

É a primeira vez que esse galardão, criado há 25 anos, distingue o papel de líderes nacionais no confronto à fome em seu país e o estrangeiro, disse a diretora executiva do Programa Mundial de Alimento (PMA), Josette Sheeran.

No ano passado, Lula também foi credor do título de Campeão Global na batalha contra a fome, outorgado pela mesma agência da ONU.

Os ex-presidentes brasileiro e ganês foram significativas ajudas para o PMA, em tempos em que a alta volatilidade nos preços dos alimentos elevou a quase um bilhão a quantidade de famintos no planeta, destacou Shreeran.

Original em Vermelho
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terça-feira, 21 de junho de 2011

Política assistencial avança para se tornar direito

No Brasil, após anos de luta, Senado Federal aprova lei que normatiza Sistema Único de Assistência Social


Marina Pita

O projeto de lei que institui o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) foi aprovado pelo Senado Federal no último dia 8 de junho e vai agora para sanção presidencial. Depois de anos de luta dos profissionais da área, este é mais um passo para a consolidação da política de assistência social como direito no País e de uma rede de atendimento à população vulnerável. Previsto na Política Nacional de Assistência Social, de 2004, o SUAS estava vigente como ato normativo, mas agora, se aprovado, deixa de ser uma política de governo para ser uma política do Estado.

Este é um passo importante para um País em que a assistência foi tratada historicamente como um favor aos pobres, atrelada à igreja e demais instituições benemerentes, esteve de baixo do braço do primeiro-damismo, clientelismo e coronelismo nos mais diversos rincões do Brasil, lembra Marinete, mestre e doutora em serviço social e vice-presidente do Conselho Federal de Serviço Social (Cfess). “Ganhamos um instrumento para exigir da União, Estados e Municípios que cumpram seu papel, tal como prevê a Constituição de 1988.”

Segundo ela, a aprovação do SUAS como lei é fundamental para definir os parâmetros e responsabilidade dos entes federativos, estabelecer a participação e o controle dos usuários do sistema, regular os serviços prestados e dividi-los de acordo com a complexidade. “A sociedade ganha em controle social, de forma definitiva.”

Ainda, diz, com a transformação do SUAS em lei, a sociedade civil tem mais um instrumento para exigir a criação e manutenção dos Centros de Referência da Assistência Social (Cras) e dos Centro de Referência Especializados de Assistência Social (Creas). “Temos mais argumentos para a consolidação da política. Claro que lei não é nada sem mobilização e precisamos nos esforçar nesse sentido, mas a normatização é um apoio ao movimento”, lembra Marinete.

Todo o esforço de estabelecimento de uma política nacional de assistência social, no entanto, não trará os devidos resultados para a população caso não sejam invertidos os valores adequados para isso. “Precisamos de uma política de financiamento que vá além da lógica estritamente contábil.

Para a conselheira é preciso intensificar o debate sobre o orçamento da seguridade social, lutando pela manutenção do orçamento específico, desmistificando a discussão sobre o déficit da previdência, por exemplo, e lutando pelo fim da Desvinculação da Receita da União (DRU), que permite a utilização de 20% do orçamento para outras despesas.

Nesse sentido, os militantes que lutaram pela aprovação do chamado PL SUAS perderam a batalha pela elevação do valor da renda familiar per capita de idosos e pessoas com deficiência com direito de receber o Benefício de Prestação Continuada (BPC)".

O BPC é um salário mínimo pago pelo governo federal, para garantia de sobrevivência mínima, a idosos e pessoas com deficiência cuja renda familiar per capita seja inferior a um quarto de salário mínimo. “Tivemos que optar por desmembrar o texto e garantir a aprovação do SUAS sem esse avanço”, lembra Marinete, para quem a renda per capita para inclusão no BPC é muito baixo. Mas outros avanços pontuais no texto que altera a Lei Orgânica da Assistência Social foram garantidos, afirma ela. A avaliação da incapacidade para o trabalho, no caso de pessoas com deficiência, passará a ser feita não apenas pelos peritos do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), mas também pelo serviço social do INSS. Assim, aponta a conselheira federal, passa a

ser levada em consideração a sociedade em que o indivíduo com deficiência vive, na qual deve trabalhar e não apenas sua condição física, o que acabava por culpabilizando o indivíduo por sua exclusão do mercado de trabalho.

Outra mudança importante que texto do projeto de lei prevê é a alteração na requisito de composição familiar para recebimento do BPC, possibilitando a inclusão dos parentes que habitam no mesmo domicílio e que possuem obrigação alimentar, como os filhos e irmãos maiores de vinte e um anos. Muda-se, assim, o foco da seleção dos beneficiários – que deve ser direcionado às famílias mais pobres - e facilita a operacionalização do benefício ao explicitar as diferenças com o conceito de família utilizado para acesso aos benefícios previdenciários.

Com tudo isso, porém, e apesar dos avanços da política de assistência social como um direito no Brasil, a vice-presidente do Cfess lembra que a assistência faz sentido dentro do tripé da seguridade, que inclui também saúde e previdência. “Apenas como tripé o sistema de proteção ganhará sustância.”


Marina Pita é jornalista
 
Correio Caros Amigos

terça-feira, 14 de junho de 2011

Os EUA fornecem bombas aos aliados para a guerra na Líbia

Manlio Dinucci


Os estoques de munições da força aérea aliada estão esgotados. Mas para continuar a destruição da Líbia, o pentágono aprovisiona a NATO. A guerra é assim um negócio rentável.
Em 60 dias de « Proteção unificada » os aviões da NATO efeuaram, segundo dados oficiais, mais de 9.000 missões na Líbia, entre as quais 3.500 ataques com bombas e mísseis. A maior parte é levada a cabo pela força aérea dos EUA, Grã-Bretanha, França, Itália e Canadá. Aviões italianos (Tornado, Eurofighter 2000, F-16 e outros) efetuaram, segundo uma estimativa, cerca de 900 missões. Com eles participam igualmente Suécia, Espanha, Holanda, Bélgica, Noruega, Dinamarca, Emirados Árabes Unidos, Jordânia, Qatar e Turquia.

No total, mais de 300 aviões estão envolvidos, isto porque esta guerra permite igualmente testar em condições reais, novas armas, como o caça francês Rafale. A aeronáutica italiana está experimentando o avião Boeing KC767-A, que acabou de receber e que efetua operações de aprovisionamento em pleno voo de caças-bombardeiros e também transportes aéreos estratégicos. No seu batismo no aeroporto de Pratica di Mare, este foi apresentado como «o pilar para uma única e excepcional capacidade de projeção da componente aérea não só a nível nacional mas também de toda a NATO». Assim, um novo sistema de armas é testado na guerra da Líbia para potencializar a capacidade d NATO na projeção de forças aéreas e terrestres noutras guerras.

A operação « Proteção unificada » revela no entanto algumas deficiências. Com o incessante bombardeamento, as bombas esgotam-se. No entanto não há problema, sendo que o Pentágono continua a fornecer. O coronel Dave Lapan, porta-voz do departamento de Defesa afirma que «Desde que a ANTO tem liderado a campanha aérea, temos fornecido um apoio material, munições inclusive, aos aliados e aos parceiros participantes nas operações na Líbia». Lapan precisa que este fornecimento, cujo valor ascende agora a 24,3 milhões de dólares, inclui «bombas inteligentes teleguiadas de extrema precisão». Na Itália, estas bombas estão estocadas em enormes quantidades em Camp Darby, a base logística (estadunidense, NdT) que aprovisiona as forças aéreas dos EUA na zona mediterrânea e africana.

De Camp Darby as bombas e outros materiais de guerra podem depois ser enviados nas zonas de ação através do aeroporto de Pisa. A nossa situação, declara um dos comandantes dessa base EUA, oferece-nos «capacidades logísticas únicas porque o nosso depósito está a 30 minutos do aeroporto (italiano NdT)». Este aeroporto de onde surgirá o Hub aéreo nacional (italiano, NdT), a interligação aeroportuária de todas as missões militares no estrangeiro, será «colocado á disposição da NATO». Desde que a guerra na Líbia começou, C-130’s e outros aviões, com certeza carregados de bombas e mísseis fornecidos por Camp Darby, têm sobrevoado Pisa a baixas altitudes. Á cerca de um ano e meio atrás, um C-130 despenhou-se depois de descolagem, sem provocar nenhuma tragédia, por suposta sorte. As autoridades estabeleceram então uma «zona de segurança» quando, durante obras a decorrer no aeroporto fora encontrado uma bomba não explodida datando da Segunda Guerra mundial. Depois de ter desarmado o engenho, tudo voltou á normalidade : aviões militares retomaram os voos por cima da cidade, carregados de bombas made in USA que aliados irão largar sobre a Líbia.

Tradução David Lopes
Fonte Il Manifesto (Itália)

Publicado em Voltairenet

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Por que a mídia não informa que Dinho militava no PCdoB?

A morte anunciada do líder camponês Adelino Ramos, o Dinho, mereceu ampla cobertura nos meios de comunicação, incluindo veículos das Organizações Globo. Todavia, nossa mídia de referência, controlada por uma meia dúzia de famílias abastadas, não se dignou a informar que Dinho, sobrevivente do massacre de Corumbiara, era um destacado militante do PCdoB em Rondônia, conforme noticiou este Vermelho.
Umberto Martins

É possível imaginar que a militância comunista do líder assassinado no dia 27 de maio em Vista Alegre do Abunã (distrito de Porto Velho, capital de Rondônia) é um detalhe menor que, de resto, não deve ser associado ao crime. Não faltarão vozes para sustentar este tipo de argumento irrigado pelo cinismo.

Filtro ideológico

Na realidade, a omissão, o silêncio, a discriminação do que é ou não noticiável, que no caso configuram uma manipulação sutil dos fatos, são orientados pela força maior da ideologia dominante que, como dizia Karl Marx, reflete os interesses e o pensamento da classe dominante. Os fatos relatados são submetidos previamente ao filtro ideológico, que não raro já está devidamente entranhado no consciente ou inconsciente dos jornalistas como um reflexo condicionado e uma esperança de estabilidade no emprego.

Não é de hoje que o anticomunismo é uma característica básica e essencial do pensamento e do espírito dominante em nossa sociedade. Não vai tão longe o tempo em que se dizia que, a exemplo dos prelados, o prazer de comunista era comer criancinhas. Os acontecimentos que sucederam a derrocada do socialismo real no leste europeu e a deplorável dissolução da União Soviética no início dos anos 1990 contribuíram para exacerbar sentimentos, infâmias e preconceitos do gênero, vendidos em embalagens supostamente democráticas e a pretexto da defesa dos direitos humanos. O que se viu desde então não foi o fim da história, muito menos das ideologias.

Anticomunismo atávico

Nesses dias, ao noticiar o apagão na história no Senado (exclusão das referências ao impeachment do hoje senador Fernando Collor do painel de imagem da Casa) a Rede Globo faz questão de “informar” que se trata de uma operação típica de regimes comunistas, olvidando naturalmente o papel da família Marinho na campanha e eleição do ex-presidente.

Outro exemplo é a manipulação e distorção recorrente de fatos na abordagem do relatório do novo Código Florestal para apresentar o deputado Aldo Rebelo e o PCdoB a serviço dos grandes proprietários rurais. A história dos comunistas brasileiros, incluindo a Guerrilha do Araguaia, é a da luta sem tréguas contra o latifúndio, pela reforma agrária, pela democracia e pelos direitos do povo. Foram a prática e os ideais comunistas, antagônicos aos da classe dominante, que atraíram para as fileiras do partido o militante Dinho.

Propriedade capitalista

Não devemos estranhar o comportamento da mídia venal. Assim como os lucros da produção capitalista servem aos desígnios da classe capitalista, a produção e difusão da informação jornalística no capitalismo se subordinam aos interesses dos capitalistas que controlam os meios de produção da informação. Ou de quem detém a propriedade privada do capital em sua clássica divisão: o capital constante, composta dos meios físicos, a tecnologia, equipamentos, edificações; e o capital variável, ou seja, força de trabalho, principalmente jornalistas.

As relações entre patrões e assalariados no ramo das comunicações são singulares. Aparentemente não guardam muito parentesco com aquelas que se verificam na indústria, na agricultura ou no comércio. A fronteira entre uma classe e outra, neste caso, é tênue. Salvo honrosas exceções, que confirmam a regra geral, os jornalistas costumam vestir a camisa da empresa e, adicionalmente, empenhar a própria consciência. Alguns são ainda mais realistas que o rei.

PIG

Evidentemente, a realidade é obscurecida pela ideologia e pelo engodo. É forçoso reconhecer que a mídia venal é diplomada na arte de aparentar as virtudes do bom jornalismo que a academia enaltece: objetividade, imparcialidade, honestidade, apartidarismo, respeito aos fatos.

Muitos jornalistas acreditam sinceramente em tais princípios e procuram aplicá-los, mas é falso supor que os patrões da mídia zelam por tudo isto. A história sugere e revela o contrário. O aplauso ao golpe e o servilismo diante do regime militar instalado em 1964, o posicionamento nas eleições presidenciais (1989, 2002, 2006 e 2010) e inúmeros episódios cotidianos mostram o caráter antidemocrático, reacionário e golpista da nossa mídia, que bem merece a alcunha de Partido da Imprensa Golpista (PIG), criada pelo jornalista Paulo Henrique Amorim.

Original em Vermelho
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O futuro da liberdade de imprensa no Peru

Julia Nassif de Souza

De Lima (Peru), para Caros Amigos

A eleição à presidência no Peru se aproxima e temas fundamentais como a liberdade de imprensa ocupam espaço em um debate marcado pela desconfiança sobre a capacidade democrática de ambos os candidatos, tecnicamente empatados segundo as últimas pesquisas eleitorais. Diariamente surgem denúncias, vídeos e declarações nos meios de comunicação que, em sua maioria, parecem já não terem rédeas para conter as pressões e manipulações políticas, principalmente oriundas da candidata fujimorista, que defende interesses de poderosas corporações no país.

Como costumava acontecer no antigo governo de Fujimori, foram entregues coroas funerárias aos diretores de um jornal (La Primera) dias atrás que, explicitamente tem apoiado o candidato Ollanta Humala. Esse tipo de atitude antigamente era realizado pelo Grupo Colina, um esquadrão da morte de Fujimori, responsável pela guerra contra o grupo Sendero Luminoso e por diversos assassinatos e violações de direitos humanos que, até hoje, é anunciado pelo próprio Fujimori como sendo um grupo clandestino, que atuava sem autorização do governo, por mais que esse tivesse assinado e aprovado tais planos de ação.

Subornos e mudanças repentinas das regras empresariais foram alguns dos grandes escândalos vividos pelo fujimorismo, principalmente através do ex-assessor presidencial Vladimiro Montesinos, denunciados publicamente pelas gravações feitas pelo próprio assessor.

Durante os 10 anos de governo do Fujimori, jornalistas e donos de meios foram perseguidos e amedrontados por ameaças aos que não apoiassem o governo ou ainda denunciassem os atos de corrupção e terrorismo de estado no período ditatorial.

A democracia dos dias atuais não impediu que, além de ameaças, jornalistas fossem despedidos por não acatarem a deliberação editorial a favor da candidata Keiko Fujimori, no Canal N, do grupo El Comercio, um dos mais importantes grupos de comunicação do país. Outros episódios de não menor valor também foram relatados em todo o país, através do IPYS (Instituto Prensa y Sociedad) e de outras entidades de Direitos Humanos.

A jornalista Patricia Montero, umas das demitidas, trabalhou durante 12 anos no Canal que, segundo ela, sempre teve muita credibilidade, desde sua criação. O Canal, inclusive, desempenhou um importante papel na queda da ditadura de Fujimori e sempre tentou manter uma posição neutra e plural dos acontecimentos, comenta Patricia.

Não foram dados motivos concretos para a sua demissão, assim como aconteceu com o jornalista do mesmo canal José Jara, que receberam como justificativa a entrada de um novo diretor no Canal, em pleno período eleitoral, acompanhado de sua nova equipe de produção.

Enquanto isso, os grandes meios não somente ignoram, mas terminam transferindo as desconfianças ao militar Ollanta Humala que, em uma disputa desigual por espaço e em uma tentativa de se aproveitar de tal situação, rebate aos ataques simultâneos com respeito a sua capacidade democrática de governar e responde com promessas públicas as dúvidas levantadas pela grande mídia.

Como resultado de tamanha manipulação de um meio de comunicação, alguns jornalistas consagrados tem se manifestado publicamente em defesa da liberdade editorial, mesmo no próprio Canal N que teve sua exposição fragilizada pelos últimos acontecimentos. Porém, essa foi uma atitude excepcional, já que se pode notar os jornais, revistas e programas televisivos claramente influenciados por favores políticos.

Além da invasão político-partidária nos meios de comunicação, é preocupante constatar a ausência de denúncias e a falta de iniciativa pessoal de jornalistas e funcionários da comunicação, com respeito às diretivas editoriais do meio onde trabalham.

É explicita a manipulação assim como também é clara a despolitização e o medo dos funcionários midiáticos limitados por uma linha editorial manipulada. A liberdade de imprensa peruana está ameaçada não somente por interesses políticos, mas também pelos funcionários que calam e consentem nos meios onde trabalham.

Tudo isso é resultado de um modelo que não protege seus trabalhadores e que, desde Alberto Fujimori, e reforçado pelas tentativas de decretos de Alan Garcia, busca criminalizar atos de protestos e manifestações sociais e trabalhistas no país. Essa é uma das grandes preocupações que trabalhadores independentes e organismos de defesa dos direitos humanos no Peru veem combatendo incessantemente em uma campanha aberta contra a volta do fujimorismo.

O segundo turno da eleição presidencial peruana acontecerá no próximo dia 5 de junho.

Júlia Nassif de Souza é antropóloga e comunicadora social.
 
Fonte: Correio Caros Amigos
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